Capítulo Quatro

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Arranquei a folha do poste onde estava e comecei a andar com ela até chegar no apartamento. Nós estávamos em fotos separadas, ele usava um casaco dos Robbyes (time dele), um boné branco, e seu cabelo ainda estava grande; maior do que agora. Eu estava com a blusa da minha irmã, vermelha com um laço rosa (contra o câncer) e meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo; alguns cachos se desprendiam e cobriam metade das minhas bochechas.

Assim que cheguei no apartamento corri pelas escadas ao encontro de Erick, ele estava sentado ao lado do mine-frigobar bebendo alguma coisa, mostrei a ele o "cartaz". Ele me olhou espantado e disse:

- Me diz que essas fotos são pra sua primeira entrevista de emprego.

- Não. Estão nos procurando!

No dia seguinte novamente ouço notícias sobre nosso "dasaparecimento". Uma garotinha, que estava acompanhada de sua mãe e um ursinho, parou e me olhou enquanto eu vinha caminhando; disse à sua mãe que eu era aquela garota dos "papeizinhos".
Coloquei o capuz e apertei o passo, torcendo para que a mãe não acredite na filha de 5 ou 6 anos.

Por sorte elas continuaram andando depois que eu virei em uma outra rua; pelo menos é o que eu acho, pois não as vi mais.
Só queria chegar em casa e olhar para Erick, me sentir segura e saber que nada e nem ninguém irá nos encontrar.

Mas, quando chego, não é bem esse o cenário que eu esperava:
Quadros (propriedade do apartamento) no chão, garrafas de bebida vazias na pia e em cima do fogão, folhetos de pessoas e animais desaparecidos espalhados no chão, e um jornal (que não me interessei em ler). Eu só queria saber onde estava Erick e o que havia acontecido ali; será que encontraram a gente e o levaram preso? Ou pior: Sequestraram ele!

Como eu poderia conviver com aquilo? Não... É muita tortura para uma pessoa só. - pensava essas coisas enquanto olhava pra cada objeto, na esperança de encontrar algum rastro, alguma pista; - mas não há nada de anormal nas coisas que estão bagunçadas.

É quando ouço a porta sendo destrancada. Corro em passos leves para o quarto e fico entre a parede e o armário.

Espera aí... Só quem pode destrancar a porta é quem tem a chave, certo?

Vou caminhando lentamente de volta à sala, já sabia quem estava lá: Erick. Em pé, com os cabelos muito desarrumados, seu rosto pálido e corpo trêmulo. Estava irreconhecível.

- Erick! - digo, preocupada e, ao mesmo tempo, aliviada em vê-lo.

- ... - Ele não diz nada; aperta os olhos em minha direção e me olha demoradamente.

- O que aconteceu com você? - digo, já impaciente e ainda mais preocupada.

- Quem é você?

Eu não estava acreditando no que acabara de ouvir; não queria acreditar, não podia! Por que ele disse isso? Por quê?

- Eu... Sou sua namorada. Você não se lembra?

Ele olha novamente para mim, pisca três vezes e diz:

- Ora, então parece que a minha fada-madrinha foi generosa comigo hoje... Você é uma gata! - ele diz, levantando os braços, como se tivesse feito um "touchdown".

Quando ele se aproximou, senti o cheiro de álcool emanando de todo o seu corpo. Me afastei.

- Você bebeu!? - digo, com um pouco de raiva.

Porque, pensemos: Estamos à beira de um fracasso em uma fulga, estão nos procurando de todas as formas possíveis; e ele decide sair pra beber!

- Escuta aqui, não vai dar uma de mandona, tá! Eu sou livre agora, livre! - Diz ele, cambaleando e tentando manter a pose de "chefe".

- Eu saio, algumas horas, e você faz isso!? Como pôde? - digo, quase chorando, de verdade; meus olhos estavam cheios de lágrimas. Bastava um empurrãozinho e elas rolariam, finalmente, pelo meu rosto, como um filhote de pássaro que precisa aprender a voar.

- Você vai... Chorar? Ora, pare com essa encenação! Dá pra ver que você não quer!

Tem uma coisa que aprendi em um programa de TV: A maioria das pessoas, quando estão bêbadas, revelam seu eu interior, ou o que está em sua mente, já guardado há muito tempo. Quando bebem, conseguem liberar facilmente todas essas coisas.

- Idiota! Ninguém aqui está chorando. - digo, tentando manter a calma e trazer Erick de volta ao rapaz doce e inocentemente alegre que ele é.

- Um prato de leite para três gatos tristes... - diz ele, olhando para a janela. Erick está completamente fora de si.

Eu não sabia o que fazer, o que iria acontecer depois... Não fazia a mínima ideia de como lidar com isso.

Passados alguns minutos, eu ainda estava ali, sentada no sofá, olhando Erick, esperando que ele esteja se recuperando aos poucos, e se lembrando de mim. Ele ainda estava virado para a janela.

Então, ainda com os olhos lá fora, ele diz:

- Vá para casa. Por favor. - abaixando a cabeça, como se estivesse triste.

- O quê? Eu não vou embora! Você me fez vir até aqui, nós fugimos; pra agora você desistir de tudo?

- Você veio porque quis! - diz ele, virando-se para mim.

- Você não entende. Eu deixei pra trás minha irmã, que sempre cuidou de mim e me ajudou, só pra participar dessa loucura sua. Pra te ajudar. Fiz isso por você! Por nós!

- É. Só que, - ele soluça - se você gosta tanto assim da sua irmã, deveria ter dito não; assim não estaríamos passando por isso agora!

Nem sei se ele está, ainda, bêbado...

- Agora a culpa é minha!? Você tem razão, eu nunca devia ter vindo com você. Você não merece isso! - digo, com a garganta apertada.

- Ah, para de drama. Quando é que começou a fazer isso? Porque, pelo que eu sei, você sempre foi uma garota fria que não se importa com nada e ninguém!

Nesse momento tudo foi escurecendo ao meu redor. A última coisa que vi foi o rosto de Erick, esculpido em minha mente.

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Mais um capítulo concluído... Espero que gostem... Muito obrigada por lerem, e votarem! ;)

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