Na janela do meu quarto ele surgiu "do chão" e me olhou fixamente. Estava com aparêcia normal, por isso não gritei, nem fechei a janela na cara dele.
Erick levanta a mão esquerda rapidamente, antes que eu pudesse perguntar do que se trata. Seu gesto não deixava dúvidas.Na mão dele estava um frasco que obviamente é remédio, e de tarja preta, (não me surpreendo ao vê-lo). Apenas me assusto e faço uma cara de espanto, bem de leve.
- Reconhece isto? - ele diz. Essa pergunta parecia atravessar minha capacidade auditiva, me fazendo quase estremecer diante da situação.
- Não. Sei. - digo, separadamente, exatamente assim.
Ele ainda está me olhando, deve estar esperando que eu diga alguma coisa. Então digo:
- Hã... Você está doente?
- Não se faça de tonta. Eu o encontrei no chão, perto do armário da lavanderia, aqui na sua casa. Naquela noite em que o "maluco" era eu, e que quem me acalmava era você. - ele estava tenso, claro.
- Isso é velho.
- A validade é deste ano. - ele diz, numa bela rebatida. Mas eu jogava melhor.
- Pensei que estivesse tudo acabado entre nós. - digo, levantando uma sobrancelha.
- Não está até um de nós dizer que está. Quer ser a primeira?
Tá legal, tá legal! Ele pode ser melhor nesse jogo do que eu. Mas não desisto fácil.
- Por que não me disse nada antes? Já se passou tanto tempo! - digo, na tentativa de exterminar a hipótese de deixar nosso namoro terminar.
- Porque eu estava em dúvida... E precisava de tempo para pensar e tentar descobrir se eram seus, ou da louca da sua irmã. Mas a resposta é obvia; estava bem na minha frente todo esse tempo.
- Me deixa em paz. - digo, com a intenção de que ele realmente me deixasse sozinha. Não queria levá-lo ao labirinto que é minha vida mental. Ele não merecia isso.
- Olha, me desculpa por ter agido daquele jeito com você lá no apartamento... E me desculpa por ter te colocado nessa de ficarmos suspensos. É que você não me deixou escolhas, fiquei horas quebrando a cabeça e tentando ao máximo não acreditar que estava mentindo pra mim, e pior: Que você não confiava em mim. - agora ele estava com a mão em seu tórax.
- Não é nada disso. Eu só não quero que você se envolva em coisas que não vão fazer diferença alguma pra você. Eu não preciso mais daqueles malditos remédios, já estou muito bem sem eles. - digo, e realmente estou bem sem aquela maldição.
Odeio rotinas. Talvez seja por isso que não consigo falar direito com minhas amigas, depois do almoço, todos os dias; nem mandar mensagens, muito menos conversar com elas. Tolero uma conversa básica. Nada além disso.
- Ah, é? Então por que desmaiou com aquela nossa discussão? Eu te conheço muito bem pra saber que as palavras que eu disse não a feririam tanto assim. Lembro de 40% do que eu disse, mas com certeza não te fariam desmaiar de uma hora pra outra!
Eu já não aguentava mais aquela conversa. Estava indo pro lado em que ele teria que sentir pena de mim, mexendo em uma caixa que já estava lacrada há muito tempo.
- É sério, me deixa sozinha, Erick. Tive um dia cheio hoje. - digo, ameaçando fechar a janela, claramente desistindo do jogo.
Mas é claro que ele me impede.
- Espera, eu quero conversar com você, me deixa te ajudar. - diz, parecendo o papai falando.
Eu não disse?
- Não quero a sua ajuda.
Ele debruça sobre minha janela, se aproximando ainda mais de mim, e sussurra no meu ouvido:
- Eu te amo. Eu te amo. - ele se afasta lentamente. Senti o calor de suas palavras, penetrando em meus ouvidos e se alojando em minha mente; transformando-se em uma chama eterna de amor.
Quando penso que ele está para ir embora, Erick volta, bate com as mãos na parte inferior da janela, e diz:
- Não vou desistir de você! Se pensa isso, está muito enganada...
- Eu não penso nada. - digo, cruzando os braços.
Então, começo a pensar: Será que ele está sendo sincero? Será que me ama mesmo, ou só está com pena de mim?
Depois de alguns segundos, com o meu silêncio, ele diz:
- Como pode ser tão má comigo? Sabe que a culpa me corrói, por ter dito todas aquelas coisas pra você, que não consigo viver sem você. E não me perdoa! - há certa decepção em seu rosto.
Erick é muito dramático, sempre foi. E acho que é um pouco dessa sentimentalidade que eu admiro tanto nele. Também não conseguiria viver sem ele.
- Do que você tem medo? - faço a pergunta, sem saber o porquê.
Erick olha pra mim. Sabe quando alguém te olha, bem no fundo dos olhos, te fazendo querer saber o que aquela pessoa está pensando? É exatamente o que aconteceu.
- De perder você. - ele diz, finalmente. Me fazendo pensar por qual motivo ele deixaria pra trás todas as outras pessoas que o cercam, se apegando só a mim.
- Creio que posso dizer o mesmo. - digo, meio que "baixando a guarda".
- Você... Você está me perdoando? - diz, quase com os olhos brilhando, junto dos cabelos e o resto da pele, debaixo daquele sol das 16h (quatro da tarde).
- Sim, considere-se perdoado. Porém, não quero que me ajude com nada. Só me deixe viver de verdade, aceitando minha sanidade mental do jeito que ela é. - digo, na esperança de que isso vá convencer Erick.
- Você tá falando sério? - Os olhos dele brilhavam, consegui sentir a alegria que transmitia. E fico com vontade de rir, pois ele pronunciou a frase sem sua típica formalidade.
Acho que ele ainda estava na parte: "Considere-se perdoado".
- Sim, eu estou. - digo, por fim.
Ele abre um sorriso, enorme, deixando à amostra seus lindos dentes. Quero mergulhar nesse sorriso.
- Mas não pense que me esqueci de todas aquelas besteiras que você me disse! - afasto ele, e faço uma cara de reprovação.
- Ah, por favor... Esquece isso, vai! - diz, cutucando de leve o meu ombro com seu cotovelo e rindo um pouco.
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Olá pessoal! Não querendo ser chata, mas, já sendo, ^_^ gostaria que vocês comentassem também, dizendo o que acham a respeito, críticas construtivas serão muito bem-vindas! Se estou aqui, publicando mais este capítulo, é porque vocês estiveram comigo, até aqui! Então, por que não dedicar este capítulo a vocês? ;)
*Dedico este capítulo a todos vocês, escritores e leitores maravilhosos, que estão lendo isto agora! Muito obrigada! ♡
Beijos, até o próximo capítulo!
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O Diário de Melissa
Kurgu OlmayanUma garota considerada fria e insensível, de repente se torna sentimental e emotiva. A quê se deve essa mudança? Veremos...