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Hoje deveria ser um dia qualquer.

Se minha cabeça não estivesse latejando. Não deveria ter bebido tanto.

Não foi algo que consegui evitar fazer. Precisava de alguma coisa forte que me fizesse esquecer dos meus problemas com meu pai.

E ao que tudo indica, vou levar outra bronca hoje.

No estado em que estou, não há maquiagem ou um café forte que resolva.

A vida poderia ser um pouco justa comigo. Quem acorda cedo em um domingo? Ainda mais depois de um sábado animado com os amigos.

Só pode ser carma.

Me levanto rápido e sinto meu estomago revirar. Do que adianta esquecer os problemas em uma noite e se sentir pior no outro dia?

E em um domingo ainda por cima.

Parabéns Jessica.

Sempre fazendo as melhores escolhas.

Irônica eu? Tem coisa pior do que dar uma bronca em você mesmo no seu próprio consciente?

Será que sou a única que faz isso?

Preciso de um banho, isso sim.

Se tiver sorte não vai ter ninguém em casa, já que meus pais devem ter ido para a igreja.

Ser a mais problemática da família tem suas vantagens. Não me obrigam mais a ir para a igreja.

Embora minha mãe e meu irmão tentem sempre me convencer.

Até sinto saudades dos dias que eu ia, amava fazer parte do grupo de adolescentes. Mas as coisas mudam, principalmente quando se tem um pai como o meu.

Tomo um banho rápido e escovo os dentes. Esse mal hálito já está me dando ânsia.

Preciso parar com isso. Além de ser menor de idade, sei dos estragos que isso vão fazer no meu corpo no futuro.

Deveria ser um pouco mais sensata como a Gláucia, minha melhor amiga. Ela sempre inventa uma desculpa de última hora para não ir as festas dos nossos colegas. Aquele ser antissocial.

Aposto que já deve ter um discurso para jogar na minha cara.

O mesmo de sempre.

Se eu não tivesse herdado o gene teimoso do meu pai, seria mais fácil dar o braço a torcer. Mas me recuso.

Visto uma roupa fresquinha e desço em direção a cozinha.

Minha sorte não poderia ser melhor, penso assim que vejo meu irmão e a namorada dele na cozinha.

Esse domingo será fabuloso.

Começo a rir internamente.

Suspiro me preparando para algumas provocações que eu sei que meu irmão vai fazer.

Quem tem irmão mais velho consegue me entender.

— Bom dia bela adormecida – Começa sorrindo assim que me sento em sua frente.

— Bom dia Jessica – Bia também me cumprimenta.

Bom dia – Devolvo e não consigo evitar bocejar.

Começo a preparar meu café sentindo o olhar do meu irmão sobre mim.

Tão sutil quando um rinoceronte.

Parece que alguém chegou tarde ontem, melhor dizendo, hoje de madrugada – Matt comenta em um tom sarcástico.

Não é da sua conta o que eu faço ou deixo de fazer, está bem?! – Digo emburrada.

Detesto ter que dar satisfações da minha vida para alguém, principalmente para o intrometido do meu irmão.

Calma Jessica – Bia pede de modo suave – seu irmão fez apenas um comentário – diz conhecendo bem a nós dois.

— Ele sempre faz – Suspiro fazendo uma careta.

Faço isso porque me preocupo com você irmãzinha – Matt pega minha mão sobre a mesa e pisca me arrancando um sorriso.

Bobão.

Apesar de tudo amo meu irmão. Ele me conhece como ninguém. E sabe que eu jamais admitiria isso em voz alta.

— E além do mais – Continua enquanto bebo meu café – você já tem problemas demais com o papai.

Dito isto, escuto passos na escada e arregalo meus olhos.

Ele não foi para a escola bíblica?

Me levanto rapidamente e tento fugir. Mas nunca sou rápida o bastante.

Deus dá poderes sobrenaturais aos pais, só pode.

— JESSICA! – Escuto sua voz grossa e carregada e estaco no lugar.

Preparo minha melhor cara de inocente e me viro sorrindo para ele.

Me chamou? – Pergunto de maneira suave engolindo em seco.

Preciso dar um jeito de fugir.

Penso assim que minha dor de cabeça dá sinais de um possível retorno.

— Precisamos conversar – Cruza os braços assim que chega na cozinha.

Ele para a alguns metros de mim, mas nem a distância é capaz de fazer com que ele fique menos assustador.

Por que ele tinha que ser tão alto?

Penso e quase me esqueço da bronca que vou levar.

Quase.

Volto a me sentar ignorando o seu olhar sobre mim.

Ficar em pé é uma péssima ideia.

Apoio meu cotovelo na mesa e meu rosto sobre minha mão.

Passo meus dedos pelas migalhas de pão sobre mesa com um suspiro.

E lá vem sermão...


>> Continua <<

Dois Sonhos, Um Propósito (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora