II

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E lá vem sermão...

Sinto o seu olhar sobre mim e evito contato visual.

— Olhe para mim – Pede um pouco impaciente.

— Que eu saiba nós ouvimos pelo ouvido e não pelos olhos - Sussurro sabendo que todos ouviram.

E está declarada a terceira guerra mundial.

Preciso de terapia urgente.

Fingindo que não fiz o comentário anterior, levanto o meu olhar e encontro um senhor Daniel levemente avermelhado.

Em outra ocasião eu poderia sugerir que ele estava envergonhado ou tímido, já que ele sempre fica exatamente dessa cor em ambas as ocasiões. Mas de longe se percebe que é o total oposto.

Ele estava com raiva. Muita raiva.

E normalmente era sempre eu que o deixava assim.

Um dom natural que surgiu com o passar dos anos. Um dom exclusivamente meu.

Uma veia começa a aparecer em sua testa. Um sinal bem ruim, mas me sinto levemente aliviada quando escuto mais passos vindo em direção a cozinha.

— Calma Daniel – Minha mãe pede assim que chega a cozinha e percebe a situação.

Eu deveria ficar quieta, aproveitar esse momento de paz que só a presença da minha mãe é capaz de proporcionar.

Mas eu me contenho?

Claro que não.

— É, calma papai – Não consigo resistir.

Por que eu sou assim?

— Jessica chega – Matteus pede já sabendo onde isso vai chegar – respeite o papai.

— Por favor Jessica – Bianca se intromete e eu já começo a me irritar – sabe que isso é o melhor a se fazer.

— Bianca você pode até fazer parte dessa família, mas isso não te dá o direito de se meter na minha vida – Não consigo me segurar e assim que percebo o estrago já foi feito.

Jessica! – Meu pai grita voltando a ficar irritado – já chega! Eu não admito desobediência e muito menos desrespeito – vejo seus punhos se fecharem na tentativa de controlar sua raiva.

Suspiro indignada e me calo.

Preciso sair daqui rápido.

Voltando ao assunto principal – Continua mudando o tom de voz – onde você estava e a que horas você chegou?

— Eu estava em uma festa de aniversário com os meus amigos. Sabe que sempre estou com eles – Olho para ele e percebo que mantém a mesma expressão, irritação – perdi a noção da hora e quando me dei conta já tinha se passado da meia noite.

— E por que não ligou? – Continua o interrogatório.

— Eu me esqueci, eu disse para a mamãe que eles me trariam de volta para casa, ou que eu pegaria um Uber – Dou de ombros como se isso fosse o bastante.

— Ao menos a Gláucia foi? – Minha mãe pergunta tentando me ajudar quando na verdade só piora as coisas.

Fico em silêncio e isso o deixa ainda mais nervoso.

Hoje não é meu dia de sorte.

— Então a única pessoa sensata desse grupinho de crianças irresponsáveis não foi – Sua afirmação começa a me irritar – você não toma jeito Jessica? Todo dia acontece alguma coisa, todo o santo dia você resolve se meter em uma confusa e tudo isso só acontece quando você está com eles – me olha impaciente – você não percebe o mal que essas amizades estão causando a você?

— Você não tem o direito de falar assim deles – Me levanto com raiva – são meus amigos! – grito.

— A única coisa que eles fazem é te levar para o mal caminho, não consegue perceber isso? – Reclama exaltado – no começo do recesso de aula todos viajaram e você estava bem, mas nessa última semana de férias você já voltou a se comportar dessa maneira rebelde.

Minha cabeça começa a latejar e minha visão começa a embaçar.

— Sabe o quão perigoso é para uma garota ficar até tarde em lugares desconhecidos? Mesmo com seus amigos, ou mesmo que o lugar esteja lotado – Sua voz começa a ficar abafada e preciso me apoiar na mesa para não cair.

— E se acontece alguma coisa com você? – Grita – já pensou nisso? Pensou ao menos nas noites em claro que sua mãe passa preocupada com você?

Olho para minha mãe que tem os olhos marejados. Em pouco tempo ela percebe que não estou bem e se aproxima de mim.

— Jessica? – Pergunta preocupada e meu peito se aperta.

Por que mesmo que eu provoquei tudo isso?

A escuridão toma conta dos meus olhos e eu apenas deixo ela me levar


>> Continua <<

Dois Sonhos, Um Propósito (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora