Capítulo sem título 6

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Voltando da escola, resolvi me sentar num banquinho de uma pracinha para pensar e escutar um pouco de música, mas quando estava prestes a colocar os fones, escutei o som grave do contrabaixo (acústico) e senti curiosidade de ver de onde vinha aquele som.
Caminhei por uns cinco minutos ( sim, eu tenho uma audição muito boa) e vi um rapaz alto, olhos avelã, cabelos castanho, camisa regata, calça jeans e com um chapéu que sorriu  timidamente com os olhos fechados quando me viu enquanto tocava seu contrabaixo, vi no chão um potinho com algumas moedas. Não pensei duas vezes, joguei logo duas notas de R$50,00 que estava guardando.
E fiquei lá, parada de olhos fechados balançando lentamente enquanto o vento bagunçava meus cabelos. De repente a música parou e senti um leve toque em meu ombro.
- O que uma senhorita tão bonitinha quanto você faz aqui?
Abri os olhos e vi o garoto que estava tocando um segundo atrás me olhando nos olhos com um sorriso doce nos lábios. Sorri timidamente em resposta e apenas apontei para a tigelinha com o dinheiro que tinha colocado, eu era e ainda sou tímida mesmo cinco anos depois continuo a mesma.
O garoto fez uma expressão de surpresa e deu um abraço apertando e me soltou dois minutos depois.
- Isso... Muito obrigado! Era tudo o que faltava pra eu conseguir comprar um violoncelo!.
Assim que ouvi a palavra "violoncelo" meu sorriso desapareceu e comecei a me afastar cuidadosamente.
- Senhorita?!
Apenas olhei para ele vendo seu rosto desconcertado com uma das mãos coçando sua cabeça e continuei andando. Alguns segundos depois sinto a mão dele novamente em meu ombro e o som de sua respiração ofegante, me virei e o vi quase de joelhos com o rosto meio vermelho e com seu contrabaixo nas costas. Ele se desequilibrou e consegui segura-lo pelos braços, segurei suas mãos e coloquei cuidadosamente um de seus braços sobre meu ombro e ele apoiou outro braço em meu ombro esquerdo e segurou minha mão com firmeza parecendo uma criança fazendo birra para não entrar na escola no primeiro dia de aula.
- Senhorita...
- Me desculpe. - Cochichei. - Eu me afastei porque... Tenho um compromisso importante. - Menti corando.
O rapaz me olhou analisando meu rosto e deu um sorriso cansado.
- Sei que isso não é verdade mas não vou questiona-la senhorita. Só quero agradecer sua gentileza.
- Por nada.
-Então senhorita, será que eu não poderia passar uma noite em sua casa? Eu fui expulso a pouco tempo e não tenho onde ficar.
Balancei a cabeça positivamente e ficamos em silêncio por uns três minutos.
- Q-qual seu nome? - Perguntei desviando meu olhar de seus olhos que me encaravam atentamente.
- Danilo, muito prazer. - Ele sorriu docemente fechando os olhos.
Alguns minutos em silêncio chagamos a porta de minha casa. Danilo respirou fundo e depois fechou os olhos enquanto eu o guiava para dentro de casa.
- Chegamos. Lar doce lar... Sente-se e descanse, gostaria de um café?
- Por favor senhorita.-Ele se deitou no sofá azul e abraçou a almofada preta com força.
Voltei com o café uns cinco minutos depois. Me sentei ao seu lado e sem que eu percebesse, comecei a acariciar seus cabelos.
- Amanhã vou conversar com meu pai pra ver se você pode ficar aqui por um tempo. Ele chega de viagem amanhã ai... Vamos ver no que vai dar.
- Obrigado senhorita. Não sei como agradecer.
- Não precisa, há! Prefiro que me chame de Jade.
- Está bem senhori... Jade. - Ele deu uma risada agradável e depois continuou a tomar seu café.
A tarde passou rápido e quando estávamos assistindo TV, ele viu uma foto minha com o velho cello, se virou e olhou direto nos meus olhos.
- Você toca?
- Tocava... Parei porque colocavam muita pressão e eu era muito nova. Foi por isso que me...
- Que você se afastou. Entendo...- Nesse momento ele esfregou os olhos, sorriu e bocejou.
- Vamos pro meu quarto. Você precisa descansar, me siga.
Fomos até meu quarto cheio de livros e cobertores jogados no chão, Danilo quando viu meu constrangimento riu.
Segundos depois ele já estava na cama de olhos fechados. O cobri, levantei sua cabeça e coloquei um travesseiro mais confortável, tirei o chapéu de sua cabeça e beijei sua testa.
- Me promete uma coisa Jade?
- Qualquer coisa.
- Promete que um dia vai voltar a tocar e que nesse dia eu vou estar com você?
Suspirei e me deitei ao seu lado virada para ele. Seu nariz quase encostava no meu.
- Prometo.
Me virei para a parede, fechei os olhos e senti Danilo afundar suas mãos em meu cabelo e me dar um leve beijo na bochecha.
- Obrigado senhorita.
- Jade, Danilo...
Depois disso caímos num sono.

Eu e Meu ViolonceloOnde histórias criam vida. Descubra agora