Quando vejo minha mãe na cozinha penso em perguntar o que ela conversava de tão importante com o Chanceler Richard, mas eu sabia que ela não diria a verdade, então apenas fingi que nunca presenciei aquele momento. Sentei na mesa de jantar e observei ela preparar o café.
- Que susto Char, nem percebi que estava aqui. Quer uma panqueca ? - Disse enquanto se acalmava do susto. As panquecas da minha mãe eram deliciosas, e fazia um tempo que eu não as comia, já que todos os dias eu tenho que ir para escola bem cedo, e geralmente ela está dormindo. Ninguém me chama de Char desde que eu tinha 8 anos, mas minha mãe insiste, ela diz que acha fofo e que faz ela se lembrar de quando eu era pequena.
- Não mãe, obrigada, não estou com fome.
- Tudo bem, preparada para a Triagem ? - Minha nossa, eu já tinha esquecido, com tudo que aconteceu ontem a noite eu nem me lembrei de que a Triagem é daqui a algumas horas.
- Claro que estou, preparada como nunca. - Com a voz trêmula daquele jeito, quem eu queria enganar? Estava mais nervosa que nunca.
Ter visto a conversa entre a minha mãe e o Chanceler certamente não me fez bem. Eu não paro de pensar nisso enquanto olho para uma maçã que está sobre a fruteira. Então decido pergunta-la sobre o fato, porque sei que minha mente não vai sossegar quanto a isso, e preciso me concentrar na Triagem.
- Mãe, eu desci e percebi que a senhora estava lá fora conversando com o Chanceler Richard, era algo a respeito do Chanceler Norman ? Eu continuo preocupada em saber o que houve, então por favor se for algo relacionado a isso, peço que me conte. - Vejo que ela não reage muito bem a pergunta e se finge de desentendida, mas mesmo assim responde.
- Não Char, era algo relacionado ao hospital, só isso. - A minha mãe realmente acha que consegue me enganar, mas como eu sei que não vou ganhar em nada insistindo nesse assunto, deixo as coisas do jeito que estão e tento me concentrar na Triagem.
Depois de um tempo decido sair, mas antes mando um memorando para Klaus, pedindo que ele me encontre no mesmo lugar de sempre, o corredor leste, que dá acesso à vila férrea. Pego meu casaco de sempre e parto em direção ao corredor. No caminho recebo sua resposta
"Estou saindo de casa, chego antes de você"
Sorrio ao ler a mensagem. Ultimamente tem se tornado meio assustador andar por essas vielas sozinha. Aqui tudo é monitorado e meu medo não é de furtos ou coisa do tipo, meu verdadeiro medo é daquela menina ressurgir a qualquer momento. Se passaram alguns dias desde aquele acontecimento, mas isso não me sai da cabeça, e eu me pergunto a todo momento o que quer dizer aquilo e da onde aquela menina surgira.
Quando vejo Klaus me sinto muito bem, ele é como um irmão pra mim, e nada me tira o sentimento de que eu estou protegida de qualquer coisa quando estou com ele. Quando chego na praça ele já está lá me esperando com sua calça jeans preta e seu casaco cinza e com o programador em uma mão e um pedaço de chocolate no outro, a partir daí eu já sei que ele está nervoso, conheço muito bem Klaus, e sei que quando ele está ansioso pra algo, come um pedaço de chocolate.
- O que de tão importante você tem pra falar comigo, que nem me preparar para a Triagem em paz eu posso ? - Diz ele com aquele tom irônico que ele sabe que me irrita profundamente, apesar disso eu sei que é uma brincadeira no momento em que ele pisca um dos olhos pra mim.
- Cala a boca reclamão, e só me escuta.
Contei a ele que tinha visto minha mãe e o Chanceler conversando. A reação de Klaus foi aquela cara que ele faz de quando está pensativo, olha fixamente para o nada e depois chega a conclusão de algo. Dessa vez ele simplesmente concordou comigo, tinha alguma coisa muito estranha em todos os fatos que aconteceram nesses últimos dias e como eu, ele também chegou a conclusão de que aquilo tudo estava ligado a mim.
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Triagem
General FictionCharlotte tem quinze anos e desde sempre vive no subsolo da terra devido a uma explosão solar, ela sempre se sentiu estranha e desconfortável por viver ali e para sair, seu único meio é passando pela Triagem, mas logo ela descobre que o mundo não e...