Capítulo 8

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Acordei com o despertador do celular à tocar. Desliguei-o rapidamente, aquele barulho estava à me causar uma dor insuportável. Tudo parecia diferente, mais colorido, mas, mais preto ao mesmo tempo.

Decidi olhar o celular, para me situar no mundo. E foi então que descobri que já era segunda-feira, e que eu estava atrasada para me arrumar para a faculdade. Fiquei sem entender como o domingo poderia ter passado sem que eu sequer me lembrasse de algo.

Me levantei rapidamente, e vesti a primeira coisa que vi pela frente, calcei um tênis confortável e fui em direção ao banheiro, e só então percebi que minha face entregava meus feitos nesse final de semana.

Lavei o rosto e fiz uma maquiagem básica, só para esconder minha pele pálida.

Desci as escadas correndo, e indo de encontro à minha mãe, que estava preparando o café. Cumprimentei-a e saí apressada.

Cheguei na faculdade e os portões já estavam sendo fechado. Fui correndo para a sala de aula, sem nem olhar para quem estava na minha frente. Esbarrei em alguém. Mas não olhei direito quem era, semente me desculpei e segui correndo.

Cheguei na sala de aula alguns segundos antes da professora. Sentei em meu lugar de costume e abaixei a cabeça. Eu estava com vergonha, eu não era eu quando fiz todas aquelas coisas,eu estava sob efeito da bebida, em êxtase total. Para a minha felicidade, as únicas pessoas que sabiam do que havia acontecido, até melhor do que eu, eram Lucas e Ygor. Mas mesmo assim me senti mal. Era como se todas as pessoas ao meu redor me olhassem com desaprovação estampada em seus olhos, mesmo que não soubessem de nada, parecia que eu estava sendo julgada em um tribunal, apenas com olhares. Talvez eu estivesse ficando louca, é, insanidade é a resposta mais sensata para o meu estado nesse momento.

Lucas e Ygor ainda não haviam chegado, então somente continuei com a cabeça abaixada, e simplesmente adormeci. A aula acabou, e por fim eu senti uma mão encostar no meu ombro, e uma voz calma me sussurrar.

- Atena, acorde.

Era uma voz doce e calma, de uma menina, não me era uma voz desconhecida. Levantei a cabeça e abri os olhos vagarosamente, senti a luz do sol alcançar minha córnea, e meus olhos arderem. Olhei calmamente a figura parada ao meu lado, ainda cerrando os olho. Ela usava uma calça jeans preta e uma blusa azul turquesa, cabelos ondulados pretos, nitidamente, ela era estilosa. Depois de alguns segundos, eu finalmente distingui a figura ao meu lado.

- Anne! - Gritei, me levantando rapidamente, e lhe dando um abraço apertado.

-Que saudade! - Falou, ainda me abraçando

-Eu também! Não nos vemos desde que... - Falei soltando-a, e observando-a.

- Desde que as férias começaram, e eu sumi, sem dar explicação. - Completou minha frase, com um sorriso afetado no rosto.

-Cadê a Lorena? - Disse , tentando mudar de assunto.

- Ah, ela está na diretoria, resolvendo alguns assuntos da nossa matricula.

-Eu quero saber de tudo!

-Vamos para o refeitório, e eu te conto.

Fomos andando até lá, passando por muitas pessoas que nos encaravam maliciosamente. Anne estava linda, ela havia mudado muito desde à última vez que nos vimos.

Chegamos lá, e até agora eu não havia visto Ygor, ou Lucas. Eu queria falar com eles, era basicamente uma necessidade.

Sentamos em uma mesa e começamos a falar sobre tudo, as viagens, os caras, e tudo mais.

Percebi então que elas estava diferente, não um diferente ruim, muito pelo contrário. Ela sempre foi uma pessoa alegre, otimista, o tipo de pessoa que você quer manter por perto, porque sabe que quando for a hora em que você precisar de uma ponta de otimismo, ela vai estar lá. E agora ela ainda está assim. Mas com muito mais intensidade. Ela já é uma mulher, e a felicidade se nota pelo brilho dos seus olhos. Ela gosta da vida, e pelo que me parece, andou aproveitando, até demais.

Eu por outro lado, me distanciei de quem eu era antes.

Ainda estavamos conversando, quando Lorena chegou.

Assim como Anne, ela havia mudado, estava mais alta, com um olhar mais fatal, olhos verdes, e um estilo diferente também.

Ela me abraçou, e em seguida se sentou com a gente na mesa.

Começamos à conversar sobre tudo, tudo que havia acontecido na vida de cada uma de nós.

Lorena era a mais velha das duas, e por isso talvez a mais superficial. Ela sempre valorizou mais a vida luxuosa, garotos, dinheiro, roupas de marca, e sempre deixou por último plano a família, e amigos. Totalmente o contrário de Anne.

Ao final das aulas, as duas haviam ido para casa, Lorena totalmente alucinada com os caras da faculdade, e Anne, ocupada demais com suas novas amigas.

Estava voltando para casa, quando decidi que era hora de ligar para Lucas, para saber o que havia acontecido.

-Alô? -Disse uma voz suave, ao telefone.

-Oi Lucas, tudo bem?

-Ah, Oi Atena. Sim, estou bem e você?

-Sim. Mas estou preocupada, nem você nem Ygor foram à faculdade hoje. O que aconteceu?

-Ah, bom -Ele suspirou - Aconteceram algumas coisas com o pai do Ygor. Você pode vir à casa dele? Tipo, agora?

-Claro, claro. Só vou dar uma passadinha em casa e já estou indo.

Cheguei em casa correndo, fui ao meu quarto, e coloquei uma roupa mais confortável, uma regata e um short jeans.

Avisei à minha mãe que iria sair, e peguei seu carro emprestado.

Cheguei lá, e Lucas estava mes esperando na porta.

-Oi. -Disse, me dando um abraço.

-Oi.

-Bom, Ygor não está nos melhores momentos. O pai dele está muito mal. -Falou, agora somente parado em minha frente.

-Mas o quê aconteceu? -Perguntei, ainda sem entender nada.

-Então, a mãe dele morreu quando ele nasceu, e o pai o criou sozinho. Mas à algumas semanas atrás, seu pai foi diagnosticado com leucemia terminal. Então o hospital deu alta, para que ele pudesse morrer em casa. Ygor está muito mal, nunca o vi ficar assim alguma vez.

-Posso vê-lo?

Ele assentiu, e me guiu até o quarto, onde eu vi uma cena que nunca imaginaria ver. Uma pessoa tão forte quanto ele, em um declínio total. Agora ele parecia frágil, como um adolescente, que perde seus pais, e se sente perdido no mundo, como se ele fosse morrer junto. Eu sei bem como era tal sensação.


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