Quando sinto-me magoado, levanto meu corpo castigado pelo tempo e olho através da janela; e como se ela pudesse sentir toda minha dor, a chuva cai arduamente lá fora; sem descanso. Um copo se quebra ao fundo, trilha sonora perfeita para o meu desespero. O vermelho de veludo percorre o meu corpo e eu simplesmente olho para a chuva lá fora. Pergunto-me se seria um boa ideia ir até lá. Minhas mãos pegam o guarda-chuva e meu corpo se levanta.
Automático; meu corpo foi ligado ao modo automático, no qual eu não poderia mais controlá-lo. Sem que me desse conta, meu cabelo era molhado pela chuva; meus pés tocavam a grama molhada e, consequentemente ficavam sujos pela lama. E ali eu percebi o quão ridículo soava um guarda-chuva, principalmente aquele que eu usava, furado, rasgado e dilacerado. A blusa azul escura que eu usava se aderiu ao meu corpo como uma sentença, castigando-me inúmeras vezes pelo ato de pura burrice. Nada eu podia ver, apenas um céu que algum dia já fora azulado, mas que naquele exato momento entendia todos os meus sentimentos, tornava-se escuro e cinzento.
Parado. Tristonho. Magoado.
Caminho pela grama esverdeada até me sentar nela, a chuva era densa e forte. A chuva representa a torrente de lágrimas presas em meu coração, que por ignorância, não deixo que rolem pelos meus olhos. É com esse sentimento estranho, que olho para fora de mim. O barulho da chuva acalma minha mente e deixa meu corpo agitado. Jazia na mesma posição há alguns minutos, minhas costas doíam muito e meus pés estavam machucados e doloridos pelas pedras que encontrei no caminho. Mas, juro, nada é pior do que o que há por dentro. A chuva cai como uma melodia, e faz tudo parecer tão vagabundo e sem rumo, como eu.
Vagabundo e sem rumo! Uma voz irritante grita em mim, ignoro.
-x-As bolsas roxas e enormes ao redor dos meus olhos denunciavam as noites em claro; meu rosto magro denunciava a quantidade de dias que eu não ingeria alimento; meu corpo esquelético demonstrava a falta que eu sentia dele; meu coração quebrado demonstrava a falta que ele fazia. O tempo jazia nublado, mas o ar parecia mais limpo, de alguma maneira. Com esse fundo cinza, questiono ''o quê eu estou fazendo aqui?'', a verdade é que não faço a menor ideia. Não sei se o que passa pela minha cabeça são pensamentos avulsos, ou se, na realidade, não tenho pensamento algum. Essa manhã abri os olhos quando estava prestes a ficar claro lá fora, e, lógico, isso não significa que eu tenha dormido. Minhas pernas cansadas caminharam sem vontade até o banheiro, onde penteei meus cabelos para trás e me olhei no espelho; ridículo, deplorável. A tela do computador acesa denunciou a música que eu não dei melodia, muito menos terminei. Aquela tela acesa com uma página aberta, página essa que continha uma mensagem dele, a mesma mensagem que prometi a mim mesmo que iria responder; mas que não abri, não li e não respondi.
Que desculpa eu poderia dar? Ah, você sabe, minha vida é uma merda, eu tenho andado mais confuso que os papéis jogados na minha mesa. Tenho andado mais confuso que você. As coisas têm melhorado, ou piorado, depende do seu ponto de vista; do meu, as coisas têm ido de ruim a ridiculamente ruim. Tenho derrubado café na blusa e tenho deixado que as fibras do tecido absorvam o líquido, tenho olhado pela janela inúmeras vezes enquanto chove; tenho criado uma cratera no sofá devido a grande quantidade de tempo que passo sentado nele. Você sabe, tenho sido eu. Reprisei alguns programas de culinária, e anotei todas as receitas, mesmo que eu não vá fazer nenhuma delas - eu não irei -, a tinta na minha caneta está seca e estou resfriado. Há dias eu não como e estou bem assim. Tenho passado noites em claro e dormido no sofá, logicamente acordando com uma puta dor nas costas. Olho para a janela e ele continua cinzento, cidades cinzas; estradas cinzas; prédios cinzas e pessoas vazias. Acho que eu deveria sair lá fora sem nem mesmo usar um guarda-chuva. É o que ando fazendo; o que eu fiz e o que farei. Por longos minutos, eu sentarei-me na grama molhada, deixarei que a chuva me cubra e farei meu ritual matutino. Arrancarei pedaços da grama e os colocarei de volta no lugar, então, voltarei para minha casa, sentarei-me no sofá e ficarei por lá até secar-me totalmente, em torno de duas horas. Quando estiver perto de amanhecer eu me deitarei sobre o tecido molhado e fétido, apenas para dizer que consegui fechar os olhos... Esperarei o sol nascer e farei tudo novamente.
Na manhã seguinte repetirei a dose...
-x-Eu posso ouvir claramente a chuva vindo, sujando o tapete da minha sala e me deixando irritado. Ainda não posso dormir, enquanto meus olhos piscam lentamente, e então eu desapareço. Eu me vejo mais miserável ainda hoje, enquanto o aroma de terra molhada invade minhas narinas. Hoje vai ser uma daquelas noites chuvosas, nas quais os trovões ecoam pela minha casa e chegam até o meu ouvido. As pancadas da chuva na janela, batem no meu coração. Com meus ombros doloridos, eu me apoio na cama e leio a mesma mensagem três vezes, apenas para ter certeza de que li direito. ''Como você se sente hoje? Bem?'' solto um riso e repito a mesma ladainha; Ah, você sabe, minha vida é uma merda, eu tenho andado mais confuso que os papéis na minha mesa [...]
-x-Outra manhã, eu me levanto e vou até o banheiro, me cumprimento, sonolento ao meu reflexo no espelho. Não me encontrarei com ninguém, mas tomo um banho para passar o tempo, não tenho para onde ir, mas pego o guarda-chuva e caminho para onde minhas pernas quiserem me levar. E como se a chuva desejasse ter sua existência descoberta, a lama suja meus tênis.Quem eu sou pra você? Alguém que deseja ter a existência descoberta? Se não é isso, então eu sou alguém banhado pelas próprias lágrimas e coberto pelo sofrimento que você deixou? Ao olhar para as gotas de chuva eu sinto como se existisse um fluxo de lágrimas pronta para jorrar de meus olhos, mas me contento em apenas soltar um fraco sorriso.
Enquanto eu caminho, ouço o barulho da chuva e me pergunto ''para quem essa chuva cai?'' a resposta é o resultado de uma vida perdida, eu em todos os sentidos. Mesmo quando a chuva para, quando as nuvens desaparecem, eu continuo no mesmo lugar, do mesmo jeito que estava há minutos atrás; há horas atrás, dias. Sem dizer uma palavra, olho-me miserável como sempre, há umnão tão nítido no meu rosto que me assusto.
Finalmente,
A chuva se cessa e a poça de água suja reflete meu rosto mais sujo ainda, como se me desse um tapa na cara e me proferisse; porra, seu otário! Piso meu pé coberto por tênis sujos em cima do reflexo de meu próprio rosto e continuo a caminhar.
E então, na manhã seguinte eu repetirei a dose...
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Poesias para Hoseok
RomanceEu estava quase caindo de amores por você, mas eu não me permiti, não te permiti, não nos permiti. Não lhe dei permissão para que adentrasse em minha vida, e barrei sua entrada na portinha do meu coração, coloquei grades ao meu redor e impedi que me...