Explicações

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Quando acordei, olhei para o lado e vi Roger coberto pelo paletó, todo torto na poltrona. Me sentei na cama e passei a observá-lo. Ele parece tão mais bonito e mais jovem agora. Não posso negar nossa semelhança, mas ainda não sei se quero ouvir suas explicações. Coloquei meus pés para fora da cama e pensei em fugir novamente. Quando ouvi Roger chamar por alguém.

— Carry Ann... Carry Ann... - eu franzi a testa. — Não! - ele acordou de repente, me assustando. Ele me olhou, passando as mãos pelos cabelos. — Me desculpe! Te acordei? - eu neguei.

— Quem  é Carry Ann? - perguntei.

— Ela é, foi sua mãe. - senti meu coração apertado novamente.

— Foi? - De repente quis saber mais sobre a tal Carry Ann, porque seu nome mexeu comigo.

— Carry Ann morreu quando você nasceu. Foram complicações no parto. - Roger disse e eu levei à mão na boca.

— Eu a matei? - senti vontade de chorar.

— Sua mãe tinha apenas 16 anos quando engravidou de você. Ela era bem difícil de lidar e não ouvia ninguém. Não fez o pré-natal direito, não se cuidava. E na hora de você nascer, ela teve muitas complicações na hora do parto. Ela morreu na mesa de cirurgia. - quando ele me olhou, vi que ele estava chorando. Eu senti a mesma dor que ele e então, as lágrimas desceram.

— Eu sinto muito. - me aproximei dele e me sentei no braço da poltrona.

— Por favor, só me ouça. Eu te devo isso! E se depois você não me quiser em sua vida, eu vou entender. - a história da minha mãe me tocou de alguma forma, porque eu fiquei com vontade de conhecê-la. Mas eu não tenho mais uma mãe.

— Tudo bem. - respondi e ele sorriu.

— Vou ver se você já pode ir embora. Te levo pra tomar sorvete e conversamos. - eu assenti.

O vi sair do quarto parecendo mais animado. Alguns minutos depois, o médico entra no quarto, me faz algumas perguntas e me dá alta.
Enquanto Roger dirige, eu só penso em como ele parecia abatido ao contar sobre minha mãe. Meus pensamentos se dispersaram com o toque do seu celular. Ele colocou uma espécie de fone e atendeu.

— Alô! Bom dia Karen. Não, esta manhã também não vou. Ah claro, a reunião! Peça ao James para me representar, por favor. - ele me olhou. — Estou com alguém importante no momento e por isso não posso comparecer. - não pude deixar de sorrir. — Obrigado, Karen. Até mais!

— Karen é sua namorada? - perguntei olhando pela janela.

— Não, uma das minhas secretárias. Eu não tenho namorada. - Roger falou rindo.

Terminamos nosso percurso calados, até pararmos em frente uma sorveteira. Eu saí do carro rapidamente e esperei que ele saísse também. Procuramos uma mesa para nos sentar, mais ao fundo.

— Qual sabor você gosta? - ele perguntou.

— Morango e muita cobertura de chocolate. - apoiei a mão no queixo.

Notei que a atendente estava sorridente demais para ele, o que me fez rolar os olhos. Que mulher assanhada! Depois que ele voltou para a mesa, eu o encarei de olhos estreitos.

— E ai, qual sua desculpa?

— Eu vou te contar do início. Eu e sua mãe nos conhecemos na escola. Nós dois éramos de famílias muito humildes, a família da sua mãe muito desestruturada. Seu avô era alcoólatra, e batia tanto na sua mãe quanto na sua avó. Teve um dia que ela estava muito machucada e aquilo me deu muita raiva do seu avô. Apesar dos conselhos da minha mãe, nós decidimos morar juntos muito cedo. Eu tenho uma irmã e um irmão mais novos que eu, e meus pais sempre me ensinaram a ser um homem bom.  - eu assenti. — Quando sua mãe engravidou, não estávamos preparados para ter um bebê. Nem financeira e muito menos psicologicamente. Sua mãe tinha apenas 16 anos e eu 19. Eu tive que trabalhar muito pra poder manter a casa. - ele respirou fundo.

Problem Girl (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora