Ressentimentos

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As nossas aulas são dadas pelo próprio orfanato, no regime de internato como se deve imaginar sobre um orfanato. Mas existem outras crianças que estudam com a gente também.

Assim que a aula terminou, eu fui com as meninas para o pátio. Vi Roger de longe, sentado num banco e parecia viajar em pensamentos.

— Vai amiga, precisa dizer pra ele como se sente. - Gaby disse.

— É. Considere a vontade que ele tem de te levar daqui. Seja lá qual for sua escolha estamos com você. – Mia disse e eu respirei fundo. — Me dá sua mochila. Seu pai é um gato!

— Para de ser assanhada! Vejo vocês depois. - me despedi e fui até ele. — Oi.

— Oi querida! - ele se levantou e me abraço, eu fiquei sem reação. — Desculpe, desculpe. É que eu estou muito ansioso sobre sua decisão. Quase não dormi essa noite.

— Eu tenho várias questões. - ele assentiu. — Eu pensei muito essa noite sobre tudo, mas preciso que me escute agora.

— Ok, pode dizer o que quiser. Eu sei que posso receber um não, e isso vai doer, mas eu vou aceitar sua decisão. - respirei fundo.

— Eu sou uma das poucas meninas que cresceram aqui dentro sabe? Eu sempre fui motivo de piada por causa disso, apesar de estarmos na mesma situação de abandono e tudo mais. Mas ter crescido aqui me tirou todas as esperanças de ter alguém que me quisesse. Sempre esperei uma tia, um tio, avós. E ninguém nunca veio. Vi várias meninas sendo adotadas e eu fui ficando pra trás, me perguntando o que tem de errado comigo. Isso me deixou uma marca muito grande! - eu controlei o choro, mas a voz saiu embargada. — Você parece ser um cara legal, Roger. Mas eu tenho medo de você se der conta de que foi um erro ter me buscado e me abandonar de novo. - Tapei o rosto com as mãos.

— Eu nunca vou me arrepender de ter buscado você. Seu lugar é comigo, como sempre deveria ter sido. Sinto muito por ter demorado tanto pra me dar conta. Eu só quero que você me ame algum dia e que possamos ser uma família.

— Posso te pedir uma coisa?

— O que você quiser! - Roger respondeu.

— Me leva até minha mãe?

— Mas é claro que levo! - Roger pareceu surpreso.

Carry Ann Reed, é o que diz a lápide do túmulo da minha mãe. Coloquei as rosas brancas que meu pai comprou em cima do túmulo e fiquei ali parada, imaginando como teria sido diferente se ela estivesse viva.

— Coloquei seu nome do meio igual ao dela em homenagem. - Roger falou e eu ri fraco.

— Queria tê-la conhecido.

— E ela teria adorado te conhecer. - ele colocou as mãos em meus ombros. — Eu jamais vou encontrar um amor como o de sua mãe. Talvez, com o tempo, você aprenda a me amar também. - engoli o nó que se formou em minha garganta.

— Você me quer de verdade? Não vai me abandonar de novo quando se cansar de mim? Ou se eu ficar rebelde e fazer uma travessura! -  me virei pra ele.

— Nunca, Victoria! Eu não vou cometer esse erro novamente.

Eu o abracei forte, recebendo o mesmo abraço de volta, e senti um grande conforto me tomar.

— Eu quero que você vá morar comigo, filha. Quero que tenha tudo que nunca teve. Quero que viva sua vida como qualquer garota de 16 anos. - ele alisou meus cabelos. — Espero que com o tempo, você me perdoe.

ROGER

O que eu sinto agora não pode ser descrito em palavras! Depois de tanto tempo, finalmente poderei ser feliz com minha filha ao meu lado. Agora eu estou completo!

Anunciei à senhora Levi que levarei Victoria comigo e ela ficou muito feliz. Agora eu estou no pátio do orfanato, esperando Victoria pegar as coisas mais importantes para ela.

A vi caminhar pelo corredor com duas meninas sorridentes. As outras meninas foram se aglomerando no pátio para saber o que estava acontecendo.

— Roger, essas são minhas amigas Gabriela e Milena.

— É um prazer conhecer vocês.

— Eu estou muito feliz que você vai sair daqui finalmente. Vou sentir saudades. - Gabriela falou.

— Ah Gaby, daqui pouco tempo você também vai embora daqui. - Victoria disse.

— Eu espero que vocês não se esqueçam de mim! - Milena cruzou os braços.

— Você vai sair daqui em breve pra poder viver sua vida. E pode ir me ver sempre que quiser, não é, Roger?

— É claro que sim. Nós podemos ir? - minha ansiedade está me matando!

— Olha só, a Victoria foi adotada!
O senhor tem muita coragem de adotar essa garota. – uma garota se aproximou de nós.

— Pra sua informação queridinha, a Vicky não está sendo adotada, e sim indo morar com o pai dela de verdade! — Milena falou.

— Ah ta! Você nem tem pais! — ela cruzou os braços e eu logo notei que essa menina tinha maldade no olhar.

— Olha Lud, não fique com inveja ok? Você que vivia rindo da minha cara falando que eu fui abandonada porque meus pais não me queriam. Pelo menos o meu pai veio me buscar, enquanto você vai continuar aqui. Quem tá rindo agora? - a menina fechou a cara.

— Ludmilla, por favor, pare de provocar a Victoria! - a diretora disse.

— Senhora Levi, estou grato por ter cuidado dela pra mim até aqui. Sempre conte com meu apoio no que precisar.
- apertei sua mão.

— Não me agradeça senhor Reed, fiz apenas meu trabalho. Victoria, espero que se comporte agora, só quero boas notícias. - virou-se para ela.

— Prometo que vou tentar. - Victoria riu. — Ok, podemos ir? Tchau lindas, boa sorte. - ela acenou para as outras. — Diretora, finalmente se livrando de mim.

— Sentiremos sua falta, Victoria.
Victoria parece feliz enquanto olha pela janela, o que me fez sorrir também.

— Ah o vento da liberdade! - ela falou rindo.

— Quer ver uma coisa? - ela assentiu. Acionei o teto do carro que subia apenas o telhado.

— Caramba, que carro legal! - ela se soltou do cinto e ficou de pé em cima do banco.

— Victoria, tome cuidado!

— Uuhul! Isso é demais! - ela abriu os braços.

— Ok, agora desça já daí antes que eu receba uma multa! - eu bati em sua perna.

— Estraga prazeres! - ela fez bico.

— Só estou cuidando de você. Não quero que se machuque. - ela ficou olhando pela janela. — Pode ter seu carro, se quiser. - chamei sua atenção.

— É sério? - ela abriu um sorriso.

— Sim. Mas, por enquanto você vai ter motorista particular. - seu sorriso murchou.

— Ah que saco! - Victoria respirei fundo. — Mas falou sério sobre o carro?

— É claro! Sua idade já permite. Mas uma coisa de cada vez.

Quando estacionei o carro na garagem, Victoria desceu rápido e saiu correndo. A vi olhar tudo com olhos brilhando e um sorriso bobo nos lábios.

— Uau! Que casa enorme!

— Vem comigo, vou te apresentar para os empregados. - peguei sua mão e fomos em direção à casa. Quando entramos, todos já estavam na sala nos esperando. — Que bom que estão todos aqui. Quero que conheçam minha filha, Victoria.

— Ela tem seus olhos, senhor. - Eva disse toda sorridente.

— Essa é a Eva, ela quem cuida da casa. Ela faz uma comida maravilhosa! O Vincent cuida dos jardins e o Frederico está por conta de você.

— Oi gente, é um prazer. - Victoria disse.

— Que menina mais adorável senhor Reed! - Lia falou.

— Obrigada, você é muito querida. - ela respondeu tímida.

— Eu vou mostrar tudo pra você. Estou ansioso pra te mostrar seu quarto. - subimos as escadas. — Eu perguntei pra diretora e pra sua monitora suas cores preferidas, espero que goste.

— Nossa, que quarto enorme! - andou pelo quarto, olhando para todos os lados. — Que cama fofinha! Olha, parece uma cama elástica. - Victoria subiu em cima da cama e começou a pular. Sua inocência me fez sorrir. — Vem comigo!

— Ah não, estou bem.

— Você disse que ia me mostrar a casa toda. Então vamos! - ela deu um pulo da cama e saiu correndo do quarto descalça.

Fiquei rindo sozinho por ela ser tão animada o tempo todo. Em pensar que eu poderia ter tido tudo isso há muito tempo! Mas agora não é hora de pensar nisso, eu preciso é de freio pra colocar nessa menina.

Problem Girl (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora