Lar doce Lar

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Eu fiquei tão maravilhada com meu quarto que estou com medo de entrar nos outros lugares. Roger parece não acompanhar meu ritmo, já que tá ficando pra trás.

— Victoria, da pra ir mais devagar? Não tenho esse mesmo pique que você! - ele disse ao se aproximar. — Aqui é meu escritório, e onde guardo meus livros. - ele abriu uma porta de madeira perto de nós.

— E você já leu todos eles? - perguntei com um sorriso esperto.

— Não. - ele riu. — Menos da metade. A maioria são livros de administração. É aqui que eu passo a maior parte do tempo quando não estou trabalhando.

—  Você não me disse com o que trabalha! - eu falei curiosa.

— Eu tenho uma empresa. - eu arqueei as sobrancelhas surpresa. — Minha empresa se chama Reed Supermarket. É uma rede de supermercados. - eu ri, pensando se já teria roubado algum desses supermercados.

— Hum, parece legal.

— A Sede fica aqui em Manhattan, mas tenho outras lojas em Nova York também. Depois vou te levar pra conhecer todo mundo. - eu assenti. — Vamos, vou te mostrar o quintal. - saímos da casa. — Eu comprei uma casa com piscina, mas nunca tenho tempo pra entrar nela. Meus dias são muito corridos!

— Eu nunca nadei em minha vida!

— Você pode aprender. Tudo com o tempo!

— Você vai ficar comigo, não vai? Você deve passar muito tempo na empresa, mas eu não quero ficar aqui sozinha!

— Eu vou tentar mudar isso. Eu fico mais na empresa porque fico muito sozinho em casa. Mas agora eu tenho você, e vamos fazer muitas coisas juntos! - ele me abraçou. — Preciso tomar várias decisões importantes no momento. Na segunda-feira você já começa a estudar, então nós precisamos comprar seu uniforme e tudo que você precisa. - Roger disse todo animado.

— Nova escola! Eu nem imagino como deve ser estudar com um monte de barbies nojentas. - Roger riu.

— Aposto que vai se adaptar bem. Você é uma menina esperta, vai fazer amigos bem rápido.

— Eu sou bem sociável, quando eu quero!

— Eu sei que aprontava bastante no orfanato, e espero que mude isso. Não quero receber reclamações, ou teremos mudanças. - juntei as sobrancelhas e coloquei as mãos na cintura.

— Mal começamos e já está me ameaçando?

— Não, é um trato. Quem perde é você! Eu preciso ir até a empresa resolver umas coisas. - fiz bico. — Vai ser coisa rápida, eu prometo. Tenho que saber o que aconteceu na reunião de hoje. - eu assenti. — Eu chego às 18 horas ok? Por que não faz uma lista do que quer comprar.

— Posso ter um celular? - perguntei rindo.

— Até um notebook.

— Até mais tarde, Roger!

— Será que você pode tentar me chamar de pai? Eu gostaria muito que isso acontecesse. - meu Deus, ele é muito fofo!

— Ok, eu vou tentar.

Entrei no quarto e abri a enorme janela de vidro. Da pra ver as casas dos vizinhos e o quanto o bairro é bonito. Será que vou fazer amigos por aqui? Queria tanto que a Gaby e a Mia estivessem aqui comigo! Vou pedir ao Roger pra elas virem me visitar.
Abri meu closet e fiz uma careta ao ver tudo muito colorido.

— Que merda de roupa é essa? - peguei um vestido todo florido.

Olhei o resto das poucas roupas e não agradei de muita coisa, só as botas. Vi alguns saltos e ri.

— Meu Deus, quem consegue usar isso? - joguei o sapato por cima do ombro. Peguei um sapato de salto quadrado e coloquei nos pés. — Olá! Eu sou a senhorita Reed, muito prazer. - andei pelo quarto fazendo pose. — Vejamos... Hum, esse não é nada mal! - peguei um vestido preto rodado até fofo e coloquei em cima da roupa. — Olha só Victoria, até que você fica bem de daminha. - me olhei no enorme espelho que ocupa toda a porta. — Chapéus? Eles acham que eu sou o que? Uma senhora? - dei risada. Coloquei um chapéu na cabeça por cima da touca. — Meu nome é Lady Reed, muito prazer. Agora sim, falta uma bolsa! - comecei a pegar várias bolsas e testar na frente no espelho. — Não. Não, também não! - joguei várias no chão. — Ah você! - peguei uma bolsa nude super linda, quadrada e com alça. — Agora sim, uma perfeita dama!

—Victoria? - me assustei com a voz de Roger e acabei tropeçando nas coisas do chão. — Ai meu Deus, você está bem? - Só consegui ver o rosto do meu pai me olhando preocupado.

— Au! - ele me ajudou a levantar.

— Por que está vestida assim? - Roger perguntou morrendo de rir.

— Eu estava experimentando as roupas. Que por sinal são horríveis e não tem nada a ver comigo!

— É, eu percebi. - Roger disse. — Seus avós e tios estão vindo conhecer você mais tarde.

— O QUÊ? Quer me apresentar pra família vestida desse jeito? Quer me envergonhar? - ele riu. — Não ri não, isso é sério! Ai meu Deus, e se eles não gostarem de mim?

— Claro que vão gostar! Eles estão ansiosos pra te conhecer.

— Eu não posso aparecer assim. Eles vão achar que eu sou uma mendiga que você encontrou na rua!

— Tudo bem, então vamos comprar alguma coisa pra você vestir hoje. Depois vamos comprar o que você precisar. - eu bati palmas animadas. — Antes, você precisa arrumar essa bagunça.

— Mas... - eu tentei argumentar.

— Tem 15 minutos. - ele saiu do quarto e fechou a porta.

Fiz bico e cruzei os braços. Olhei a bagunça no chão e rolei os olhos. Fiz uma pilha com as coisas em um canto do closet e fechei a porta.

— Pronto, igualzinho como estava. - bati as mãos uma na outra.

Fui ao banheiro, dei uma ajeitada nas pontas dos cabelos e sai do quarto. Fui andando pelo corredor e pude ouvir meu pai conversar ao celular.

— Sim mãe, ela já está aqui em casa, podem vir. Peça a Livia para trazer as meninas para conhecerem a Victoria. Vai ser bom pra elas! - comecei a descer as escadas. — Espero vocês pro jantar. Vou levar a Victoria pra comprar roupa. Tchau. Já arrumou sua bagunça?

— Uhum. - falei.

— Vou lá dar uma olhada.

— Não! - eu quase gritei. — Quer dizer, a gente vai se atrasar!

— Victoria! - eu bufei.

— Ok, eu não arrumei! - não dá pra mentir com essa cara desconfiada dele.

— Eu sabia! Você foi rápida demais. - ele riu. — Lia, estamos saindo. Daqui a pouco o pessoal chega.

— Sim senhor! - ela respondeu da cozinha.

— Frederico já está nos esperando.

— Não vai dirigir?

— Não hoje. Quero poder te dar atenção. - eu sorri.

— Oi Fred! - falei enquanto entrava no carro na parte detrás.

— Senhorita Victoria. - ele disse.

— Não, nada de senhorita! Me chama de Vicky, eu te chamo de Fred e todos ficam felizes. - ele assentiu com a cabeça.

— Para onde vamos senhor? - Fred perguntou.

— Ao shopping mais próximo.

Eu comecei a roer as unhas de ansiedade. Como será que vai ser esse jantar? E se eles não gostarem de mim ou me tratarem mal?

— Como são meus avós? E meus tios, eles são legais? Quantos primos eu tenho?

— Seus avós são bem humildes, mesmo com todo o luxo que proporcionei a eles. Seu avô Antony é um pouco sério, mas é o jeito dele. Sua avó Anna é um amor de pessoa, e gosta de agradar todo mundo. - ele sorriu. — Sua tia Livia sempre foi mais ambiciosa, e se casou com um cara rico, deixou o dinheiro subir à cabeça. Mas ela é uma boa pessoa. Acho que você vai gostar mesmo é do seu tio Raphael. Ele é muito palhaço!

— Tenho medo das minhas primas! - falei rindo.

— Elas são mais novas que você, mas tem quase a mesma idade. São meninas adoráveis. E o Marcus, filho do Rapha, é uma graça! Você vai amá-lo!

— Ai, eu estou muito ansiosa com tudo!

Nossa saída não demorou muito, e logo voltamos pra casa. Tomei banho, lavei os cabelos e sequei com o secador que havia no closet. Eu não coloquei a touca dessa vez, pra não causar uma má impressão. Vesti uma regata branca, calça preta e botas, já que usar salto não é opção para mim. Desci as escadas correndo e encontrei com meu pai na cozinha.

— Por que eu sempre te vejo correndo? - eu abri a boca ao vê-lo todo arrumado vestindo calça jeans escura e camisa azul descolada.

— Ok, cadê meu pai? - eu perguntei fingindo procurar atrás dele.

— Engraçadinha!

— É que eu estou acostumada te ver sempre de terno e tão sério.

— Eu tenho meus momentos! - nós rimos. — Bem, o jantar já está pronto, agora só precisamos esperar. - eu assenti. — Amanhã você vai conhecer a Jodie, ela vai te ajudar com tudo que você precisa.

— Como se não bastasse um motorista, você ainda quer contratar uma babá? Eu não preciso de babá! - cruzei os braços.

— Ela não será sua babá, apenas irá te ajudar a comprar suas coisas. Vai por mim, ela é ótima!

— E isso não é uma babá? - fiz uma careta.

— Eu vou ficar mais seguro sabendo que você tem alguém pra sair e compartilhar suas coisas de garotas. - eu dei de ombros.

— Ok, que seja! - falei.

— Senhor Reed, eles chegaram. - Eva anunciou e eu arregalei os olhos assustada.

Quais as chances de isso ser um fracasso?

Problem Girl (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora