Um por cento - Início

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Eu estaria sendo um idiota se dissesse que não estava prestes a soltar um rojão na janela do quarto. Havia me livrado de todo aquele peso. Jung Hoseok era um cara muito bacana, admito, mas aquilo não era pra mim, até onde sabia eu não era gay, e não, eu não estava interessado em um namoro.

Por mais que eu odiasse as atitudes de Hoseok para comigo, lembro-me das poucas vezes em que sorri junto a ele por uma palhaçada qualquer. Ele era muito engraçado, fazia-me esquecer dos deveres escolares e isso era ruim, em partes. Até porquê eu sempre tentei me manter focado nas minhas responsabilidades, que na maioria das vezes era uma rotina um tanto exagerada. Mas eu tinha Hoseok para me fazer esquecer. Tinha.

Se bem que, eu estava aparentemente mais alegre, qualquer um poderia ver. Levei algumas horas arrumando o quarto, tirando as roupas do chão e os farelos de comida das cômodas, mas ao menos eu conseguia ver o piso. Achei muitas das camisetas de Hoseok e decidi que o mínimo que eu poderia fazer por ele, depois de praticamente enxotá-lo de meu quarto, era devolver as peças de roupa que o rapaz havia esquecido.

Hoseok sempre teve um quê de beleza, deveria ser por isso que muitas das garotas (e alguns garotos) vieram me procurar para saber dele, mas após os boatos de que estávamos namorando, passei de "Min Yoongi, estudante de música do edifício três" para "Min Yoongi, estudante de música e namorado do Jung". Eu não era lá muito feio, mas perto de Hoseok me sentia uma bola imensa de pura feiúra, ele era realmente muito bonito, além de ser um puta poste humano. Sempre achei que fosse alto o suficiente, mas perto de Hoseok me sentia minúsculo.

A verdade inegável era que Jung Hoseok sempre fora um desgraçado, um maldito, uma praga. Não interprete como se eu o odiasse, longe disso, apenas suas atitudes para comigo eram incômodas, mas ele era uma boa pessoa, com um coração enorme e uma alma maior ainda, um sorriso bonito e um rosto incrivel, admito.

Sempre o invejei um pouco, era bonito, simpático, engraçado, criativo e incrivelmente bem-humorado. Quando chegava das festas, fedendo a álcool, eu era obrigado a ajudá-lo, enquanto ouvia piadas horríveis sobre pênis ou qualquer outra parte genital. Cansei até mesmo de decorar as respostas ridículas que ele me dava como conselho para qualquer problema que eu enfrentava. Só depois de um tempo percebi que talvez ele estivesse tentando parecer inteligente. E depois de muito, muito tempo percebi que ele estava interessado em mim.

No início era normal ele chegar bêbado e se agarrar em mim, eu até entendia. O estranho foi quando ele começou a agir da mesma forma enquanto estava sóbrio e o pior, na frente de todo mundo. Eu não me sentia incomodado quando ele me chamava de Gigi, ou de qualquer outro apelido derivado de meu nome, o problema em si veio quando metade da população mundial resolveu comentar sobre nossa situação um tanto quanto estranha.

Inclusive as garotas que procuravam por ele, pararam de bater na minha porta, de entregar os bombons que Hoseok odiava e simplesmente pararam de comentar sobre ele no campus. Já que aparentemente ele tinha um namorado (o que não foi uma surpresa para ninguém), que até então, não fazia a mínima ideia ser eu. Somente quando estava a conversar com Namjoon, um amigo que, felizmente, [ou infelizmente, já que ele conseguia ser um chato total quando queria] cursava música na mesma classe que eu, contou-me que boatos sobre Jung, meu [ex] colega de quarto, ser um "bode amarrado", como ele mesmo disse.

"Você tá sabendo dos boatos sobre o Jung?" "Que? Não. Quais são os boatos?" "Parece que ele é um bode amarrado agora, tá namorando, você não sabia? Deveria saber." "Só porquê ele é meu colega de quarto, não significa que eu sei tudo sobre a vida dele, o cara só sabe vegetar na cama. Então, por quê, meu Deus, eu deveria saber se ele está namorando?" "Porquê quem está namorando com ele é você." "O quê?!" "Não tente disfarçar, todo mundo sabe." "Todo mundo quem?" "O campus inteiro." "Como eles espalham uma coisa que nem é verdade?" "Yoongi, sejamos francos, ele é a árvore de cerejeira e você é a flor dessa árvore." "Fala na minha língua." "Ele gosta de você e você, dele." "Não é verdade, o cara só é muito pegajoso. Ele é assim com todo mundo." "E você deixa ele fazer o que bem quiser." "Não posso simplesmente berrar com ele na frente de todo mundo, eu gostaria, mas não posso." "Seja como for, vocês formam um belo casal." "Não enche."

Foi naquele dia que soube do nosso namoro, que vale lembrar, não existia. E foi naquele mesmo dia em que fiquei acordado até as três da manhã, esperando Hoseok, que chegara de uma festa. E foi [também] primeira vez que discutimos de verdade, tanto pelo fato de ele estar irritado/bêbado (não soube definir) e eu, bravo com os malditos boatos. Naquela noite, não deixei que ele encostasse sua cama na minha com medo de cair no chão à noite e ele, não insistiu em pedir. Me senti um pouco mal, Hoseok poderia ter a idade que fosse, sempre seria uma criança. Ele era meio estúpido e um pouco burrinho, mas se você conversasse com ele, veria que é uma pessoa extraordinária.

Fiquei com uma parcela de culpa, mas nada que um trabalho nao resolvesse. Podia ser o idiota que fosse e eu poderia odiá-lo de vez em sempre, mas aprendi a conviver com ele, com todas aquelas manias doidas e com aquele jeito característico de Hoseok. Estaria mentindo se dissesse que ele não faria falta, mas como tudo nessa vida passa, por quê saudade não passaria?

Não fazia a mínima ideia de como o estado emocional de Hoseok se encontrava e sendo sincero, não queria saber, sei que ficaria triste por tê-lo expulsado. Seria melhor assim, afinal, se ele realmente gosta de mim, como dizem meus amigos, era melhor ele se afastar do que sofrer de amores por alguém que não sente a mesma coisa.

Não era minha culpa ele ter criado qualquer tipo de afeição, mas não era justo deixar que sofresse por algo tão banal. Os fatores contribuíram para essa bola de neve gigante. Era a coisa certa a se fazer, deveríamos seguir caminhos opostos, éramos diferentes por demais e a convivência se tornara complicadíssima. Eu já não aguentava mais os gemidos no meio da madrugada, quando ele trazia alguém para o quarto, em sua maioria homens, eu sabia pelos sons nada discretos. Lógico que isso me incomodava. Não gostava quando recebia cartões e os lia em voz alta enquanto eu tentava trabalhar. Odiava quando recebia bombons e empilhava-os ao lado de minha cama. Ou quando trocava áudios com quem quer que fosse. Tudo aquilo me incomodava de uma forma absurda, tanto que eu não conseguia dormir quando ele trazia seus colegas, ou quando ficava até mais tarde conversando com seus amigos. Era incômodo, eu sempre tive uma mania horrível, incomodava-me com coisas minúsculas, mas aquilo era demais.

Era a primeira noite sem Hoseok berrando no celular, ou sem que ele me cutucasse, ajoelhado na beirada da cama, perguntando se podia enconstar sua cama na minha, com medo de cair no chão e acabar com um braço quebrado, alegando movimentar-se demasiadamente durante à noite. E claro, eu cedia àquele sorriso em forma de coração como qualquer um faria.

Pensei que fosse mais fácil, mas era uma tarefa árdua dormir sem todos aqueles gritos, ou sem sua respiração pesada em minha nuca. Por meses quis um silêncio como aquele, sem que ele me incomodasse, ou que me acordasse de madrugada ou, sei lá, sem que me irritasse com todas aquelas coisas de Hoseok, mas agora, depois de ter conseguido, uma pequena parte de mim o queria de volta.

O barulho, é claro.

Agora só faltavam noventa e nove por cento.

Vale sempre lembrar que eu tenho um perfil no Social Spirit [bantangw], se quiserem conferir! Obrigada!!! ♡ amo vocês ♡

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