Um por cento

Astros

Se vamos falar sobre astrologia, eu não sei muito, quase nada, mas posso afirmar, com toda a certeza do mundo, que quando se trata de astros; Ele é Sol e eu, Lua. De um lado, todo o calor de um corpo iluminado, quente e explosivo, do outro, um frio, solidão acompanhada do grupo dos "sem parceiros", que não se aplicava ao meu caso.

Mas eu gostava das nossas diferenças, se está curioso, por que eu não poderia, muito menos existiria sem Hoseok, tal como suponho que ele não existiria sem que eu estivesse ali, dizendo-o para mastigar de boca fechada enquanto comia hambúrguer, porque era nojento.

Sequer passou pela minha cabeça a possibilidade de encaixar-me tão bem em alguém e de me encontrar numa pessoa que era totalmente o meu oposto. O perdi, por que ele era do calor, do verão, da turma do bar e eu, bem... Eu, que sempre julguei-me da turma da cama, dos seriados, aceitei beber com Hoseok naquele dia.

Não porque não tínhamos nada para fazer, a bancada do lado da cama estava lotada dos scripts que Hoseok tinha que decorar para a peça do começo do ano; era mais porque ele disse que eu relaxaria.

Não saímos para o bar, ele resolveu juntar nossos gostos, o dele de beber e o meu de ficar em casa. Foi por volta da quinta ou sexta dose, onde eu já estava um pouco zonzo e recostado nas pernas de Hoseok, que ele me surgiu, falando uma coisa mais aleatória do que a outra; efeito colateral da bebida.

Ou talvez ele não fosse tão imune à bebida quanto eu achei que fosse. Não demorou muito para que eu me tornasse o próprio efeito colateral da bebida.

ㅡ Gigi ㅡ chamou baixo quando virou uma garrafa de cerveja. ㅡ Não faz muito tempo que li em algum papelzinho ㅡ começou a fuçar no bolso da calça, pegando de lá um panfleto amassado e desbotado pela água.

ㅡ Como que você vai conseguir ler o que tá escrito aí? ㅡ Cortei assim que Hoseok abriu a boca para falar.

ㅡ Eu lembro de tudo que estava escrito aqui - balançou o papelzinho. ㅡ Sabe por que?! Por que eu estava pensando em você quando li, daí que uma coisa leva à outra e eu acabei decorando.

ㅡ E o que dizia esse panfleto de bar? ㅡ Questionei, apoiando minha cabeça em seu ombro esquerdo, enquanto analisava o tal papel.

ㅡ Nem tudo o que eu tenho vem de bar ㅡ balançou a cabeça, segurando minha mão quando colocou a garrafa no chão.

ㅡ Eu ainda acho que vem sim ㅡ me inclinei sobre ele, agarrando a garrafa de cerveja que estava recostada ao seu lado. Engoli um pouco, sentindo minha boca amargar pelo gosto daquele negócio.

ㅡ Pare com isso! E me deixe explicar, sim?

ㅡ Vá em frente ㅡ eu disse, tocando suas pernas que estavam entre meu tronco. Estava curioso.

ㅡ Yoongi, é muito simples, na verdade, ㅡ ele gesticulou com a mão esquerda, alisando meus cabelos com a direita ㅡ eu estava andando numa tarde dessas pela merda daquela rua no centro que tem cheiro de lixo, você sabe qual é, certo? E por mais irônico que possa parecer, tem uma perfumaria na esquina, onde eu sempre passo e sempre lembro de você. Não é incrível como você está em tudo, Yoongi?!

Eu sorri para ele, que tinha o pôr do sol guardado na boca, era só ameaçar escurecer que ele chegava, carregando tons avermelhados nos lábios antes sem vida. Era questão de uns dois segundos para que ele me visse sem sorrir e beijasse minha boca, pedindo para que eu não ficasse triste. Porque ele estava ali comigo.

Mas a verdade é que todos nós temos um quê de tristeza, uma melancolia guardada nos bolsos do jeans surrado, presa na sola do tênis como se fosse chiclete. E eu acho que deveríamos saber como balancear nossa tristeza, e claro que eu, como o leigo que sempre fui, nunca soube ao certo como fazê-lo, mesmo porque nada é feito da maneira correta sem instruções.