Capitulo 18, 19 e 20

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Capítulo 18: Just leave the pieces when you go

Samantha sentiu a cabeça latejar quando um feixe de luz tocou seu rosto. Não queria abrir os olhos, sua cabeça parecia uma bomba relógio. Afundou o rosto em alguns travesseiros, abafando um gemido de dor. Não lembrava de ter bebido tanto assim na noite anterior. Esticou o braço para o lado na cama de casal em que estava, procurando instintivamente pelo braço de Leonardo, mas ele não estava ali. E com uma pontada mais forte e arrasadora em sua cabeça, que pareceu atingir seu corpo inteiro, ela deu um pulo, sentando na cama, o olhar vidrado e sem enxergar muita coisa, pois seus olhos não estavam adaptados à luz ainda.

- Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Samantha - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Porque eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.

- Eu não... Não! - Sammy levantou, desnorteada, caminhando até a porta. Aquele não era seu quarto. Nem sabia o que diabos estava fazendo ali. As imagens, turvas, da noite anterior, começaram a tomar sua mente, e seus olhos começaram a arder.
A dor daquela lembrança não era apenas emocional.
Era física.
Devia doer tanto quanto alguém lhe enfiando uma faca. Ou mais, muito mais.
Ao abrir a porta, viu uma sombra com a visão periférica.
- Bom dia - Thomas disse, com a escova de dentes na boca, e com um olhar de pena. - Como você tá?
Samantha não respondeu. Deixou apenas que suas pernas se movimentassem até Tunner, e que seus braços o envolvessem num abraço desesperado, derrubando a escova de dentes do menino. As lágrimas corriam livremente em seu rosto, e Thomas conseguia ouvir pequenos soluços entrecortados, que lhe doíam. Como doíam.
- Sammy, calma... - ele disse, passando as mãos pelo cabelo da menina. - Você precisa... Ficar calma.
Samantha o encarou com os olhos vermelhos, e viu a preocupação estampada no rosto do amigo.
- Como eu posso ficar calma? Como eu posso... Ficar sem ele? - Samantha cuspiu as palavras, chorando novamente. - Eu simplesmente me recuso... Eu me recuso!
Thomas a abraçou de novo, sem dizer nada. Não sabia o que fazer, queria que a dor de Samantha fosse amenizada a qualquer custo. Sempre teve esse estranho instinto protetor em relação a ela. Não era assim nem com sua irmã. Na noite anterior, depois de terem ligado para Sammy e Leonardo insistentemente e não receber resposta, Dhiego acabara descobrindo com a hostess que eles tinham saído em estados deploráveis da festa. Mas pra nenhum deles aquilo fazia o menor sentido. Não até Anna avistar Brian, e todos saírem correndo de lá.
Samantha estava caída no corredor quando chegaram. Seu rosto estava praticamente irreconhecível, tinha chorado tanto que borrara a maquiagem inteira. Ela dizia coisas desconexas entre soluços, e depois de beber um copo de água com açúcar, Flávia conseguiu entender o que a amiga tentava dizer.
- Eu e Leonardo... O Leonardo... terminou comigo.
Tiraram-na dali o mais rápido que conseguiram, e levaram para o quarto de Tunner, enquanto Mands e Dhiego tentavam fazer com que Leonardo abrisse a porta. Não conseguiram absolutamente nada.
Anna e Flávinha limparam o rosto de Sammy e colocaram uma camisola nela, e ainda chorando com a cabeça no colo do próprio Thomas, ela acabara adormecendo. Gusta tivera que tomar um calmante, porque simplesmente não aguentava ver a irmã naquele estado. Cinco da manhã. Eram oito, agora. Ninguém tinha dormido nada, a não ser Torres, que estava trancado dentro do quarto. Anna estava preocupada que ele tivesse feito algo errado, mas no fundo, ninguém acreditava que ele seria tão idiota.

- Eu preciso vê-lo - Sammy disse rapidamente, afastando o rosto do peito de Thomas. - Ele tem que me escutar - a garota fungou.
Tunner a encarou, ainda com a boca cheia de creme dental.
- Sammy - perguntou, puxando-a pela mão para o banheiro, e cuspindo na pia -, o que aconteceu com vocês?
Samantha respirou fundo, sentindo o coração acelerar loucamente.
- Brian. - Ela percebeu que começaria a chorar de novo. Aquilo era ridículo, tinha que ser forte. Não podia ficar engasgando e soluçando na frente de Leonardo, logo menos. - Ele armou pra gente.
- Como é? - Thomas arqueou a sobrancelha, intrigado e irritado. - Eu mato aquele...
Samantha o interrompeu.
- Eu não sei como ele fez isso e o Leonardo não quer acreditar em mim. - Ela respirou fundo. - Mas ele vai acreditar. Nem que eu tenha que bater nele. Nem que eu o obrigue - ela disse, fazendo Tunner rir levemente.
- O Leonardo ama você, Samantha. Eu não sei direito o que houve, mas ele deve estar machucado pra caralho. Mas fique tranqüila. - Ele sorriu, beijando o rosto da amiga. - Vocês nasceram pra ficarem juntos e vão se entender. - Thomas fez uma pausa. - Epa! Isso não era pra ter soado tão bicha.
Sammy riu levemente, e Tunner parecia ter ganhado o dia.
- Eu vou até o quarto dele. Me deseje sorte.
- Toda sorte do mundo, baixinha.

Uma mistura de frases e emoções da noite anterior começaram a borbulhar em sua cabeça quando ela se aproximou da porta fechada do quarto de Torres. Suas pernas tremiam, algo parecia ter emperrado em sua garganta e ela mal conseguia respirar. Não aguentaria que ele gritasse e falasse aquelas coisas horríveis de novo. Percebera pela primeira vez, na noite anterior, o quanto era frágil e suscetível a Leonardo. Ele poderia a matar só com palavras, se quisesse. Quando ela bateu levemente na porta, viu que Anna estava ali, a olhando, no fundo do corredor, com olheiras imensas e aquele mesmo olhar de Thomas. Bateu novamente, e a porta destrancou.
Ela poderia desmaiar ali mesmo.
Não foi o que ela fez. Não, porque quem estava do outro lado era Dhiego. A própria Anna pareceu confusa.
- Oi - Sammy disse, ainda tremendo. - Eu preciso falar com o...
- Acabei de invadir o quarto pela varanda, Sammy - Dhiego disse, confuso. - Não faço ideia de como ele saiu daqui. Mas... - Lizardo escancarou a porta, e Samantha observou os lençóis da cama revirados, os pedaços do que seria um vaso totalmente quebrado. Dhiego acompanhou seu olhar.
- Ops... Aquilo fui eu - ele sorriu, sem graça. - Pulando a varanda.
Sammy sorriu brevemente.
- Aquilo, definitivamente não - ele completou, levando um beliscão de Anna.
Sammy virou seu olhar para o espelho do quarto. Alguns pedaços de vidro estavam caídos no tapete, mas não eram muitos. A marca no meio do espelho era de um murro. A garota engoliu seco sentiu um arrepio na espinha, mas proibiu a si mesma de voltar a chorar.
- Sua tia vai ficar muito contente com essa nova obra de arte - Anna tentou quebrar o gelo, e então Gusta apareceu na porta.
- Aí está você - ele sorriu fraco para a irmã, indo abraçá-la. - Quase me matou de susto ontem, sua babaca.
Sammy tentou sorrir.
- Desculpe por isso - a menina ainda tinha o olhar fixo no espelho estilhaçado. - Você viu o...
- Não - Gusta franziu a testa. - Aliás... Ele não devia estar aqui?
Gusta, Anna e Dhiego se entreolharam.
- Ele deve ter pulado a varanda... - Anna concluiu. - Mas não sei como fez isso sem que nenhum de nós visse.
- Se ele socou um espelho e ninguém ouviu - Lizardo tampou a boca ao sentir o olhar de Gusta sobre ele. - Opa! Ai, eu sou um merda mesmo, desculpa, Sammy.
Samantha apenas fez um sinal com a cabeça.
- Ele não pode estar muito longe - ela disse, depois de um minuto. - Eu vou procurá-lo.
Os três se manifestaram quase ao mesmo tempo.
- Eu você com você!
- Não! - Sammy negou. - Eu prefiro fazer isso sozinha. Desculpem.
Ela ia sair do quarto, quando Anna a segurou.
- Amiga, é sério... Você não tá bem, sabe? Acho melhor que algum de nós vá com você.
- Eu posso fazer isso sozinha... - A menina saiu andando, com os três em seu encalço - É SÉRIO! - ela gritou, nervosa. - Parem de me tratar como uma criança! Que inferno! - Samantha começou a chorar, vendo os amigos paralisados. - Ah, me... desculpem.
Sammy bateu e trancou a porta atrás de si, deixando todos desesperados do lado de fora.

Quinze minutos depois ela abriu a porta, vestindo um short e uma baby look, e um chinelo nos pés. Tinha amarrado os cabelos num coque e era perceptível o esforço que estava fazendo para esconder seu rosto, com o óculos oversized, que mesmo assim não escondia o nariz vermelho.
- Amiga, acabei de fazer panquecas! - Mands disse, sorridente. - Venha tomar café e...
- Não tô com fome, obrigada - ela disse, descendo as escadas. - Eu vou atrás do Leonardo.
Ninguém se opôs quando ela abriu a grande porta de vidro. Apenas Dhiego e Flávinha estavam do lado de fora, e ela passou por eles, tentando sorrir levemente. Mas era impossível, ela não conseguia fingir.
- Sammy! - Dhiego gritou, e veio correndo até ela. - Eu prometo ficar quieto. Juro por Deus que vou calar a boca. Deixa eu ir com você?
- Pra quê? - Sammy perguntou, a voz baixa.
- E se você precisar de um abraço no meio do caminho? - O garoto sorriu, e Samantha tentou lembrar por que não era tão amiga assim dele antes. Só aquele sorriso já a reconfortava. A garota passou a mão na cintura de Lizardo, que fez o mesmo em seus ombros.
- Quietinho - disse. e ele sorriu.
- Nham, nham - ele fez um barulho com a boca, fazendo-a rir um pouco, enquanto saíam da mansão.

Samantha e Dhiego tinham visitado o quiosque de seu velho amigo, andado em toda a extensão da praia, ido a vários bares, mas não tinham tido nem sequer sinal de Leonard. Lizardo via sua amiga cada vez mais preocupada, e então obrigava a si mesmo a vencer o cansaço e continuar procurando. Durante aquele tempo, Sammy tinha lhe contado o que acontecera na festa. Para Dhiego, no entanto, parecia bem claro que ela falava a verdade. Estava começando a achar ridículo esse sumiço de Leonardo.
"Ponha-se no lugar dele" - ele pensou, e então preferiu não assumir nenhum lado.
Só queria que os se acertassem. Não seria a mesma coisa com os dois separados.
Resolveu ligar na mansão pela quarta vez. Não precisou dizer nada, Samantha entendeu com o olhar que eles não tinham notícias do seu... ex-namorado.
- Sammy, vamos tomar alguma coisa? - A carinha de Dhiego a lembrou de um ursinho, ou um cãozinho abandonado. - Muito sol na cabeça. - Ele fez bico, fazendo a garota apertá-lo.
- Ah, me desculpa, querido! Estamos andando há horas sem parar... Acho que nem reparei que...
- Tudo bem - ele a interrompeu, sorrindo, e a puxou pela mão até um quiosque. - Dois sucos de maracujá bem gelados e dois salgados de qualquer coisa boa - Lizardo pediu, e Sammy riu baixo, mas fez uma careta.
- Eu não quero...
- Eu não perguntei se você queria. - Dhiego lhe lançou um sorriso quase diabólico. - Você nem tomou café da manhã. A não ser que você queira procurar seu docinho online, diretamente de uma cama de hospital, você vai comer esse salgado bem quietinha.
Sammy arqueou a sobrancelha e arregalou os olhos.
- Pai, é você? - Ela zombou, fazendo o garoto estender-lhe o dedo do meio e gargalhar.
- É sério, Sammy, você precisa...
- Tá, tudo bem. - Ela se deu por vencida, mordendo um pão e batata com cara de má vontade.
Não comera nem a metade, mas Lizardo estava feliz de pelo menos ter colocado algo no estômago. Quando voltaram a caminhar, Samantha parou subitamente, olhando fixamente para o outro lado. Por um instante, Dhiego achou que todo aquele sol na cabeça tinha lhe cegado, porque ele não via Leonardo em lugar nenhum.
- Sammy? Onde você tá vendo ele?
- Ele? Não tô vendo ele! - Samantha franziu a testa, e Lizardo viu que seus olhos estavam vermelhos. Ela baixou os óculos no mesmo instante.
- O que foi?
- Ontem... Quando a gente brigou - Dhiego percebeu finalmente que estavam em frente ao prédio de Cory. - Ele jogou uma pulseira em mim.
- A pulseira escrito "docinho" - Sammy ouviu Dhiego completar.
- Você viu a pulseira? - ela perguntou, com o olhar fixo.
Dhiego riu.
- Você achou mesmo que estávamos num campeonato de futebol? - Ela sorriu, abraçando-a pelos ombros. - Estávamos correndo atrás daquela maldita pulseira.
Sammy sentiu uma lágrima quente em seu rosto.
"De novo, não", ela pensou, enxugando-a rapidamente. Nunca tinha chorado tanto que nem naqueles dois dias. Não era assim tão mulherzinha, nem queria ser.
- Eu não acredito nisso... - ela disse com a voz chorosa. - Mas não era aniversário, não era nada, por que ele...?
Dhiego ficou em silêncio. Sabia que tocar naquele assunto ia escancarar as feridas de Samantha. Se sentia estúpido por ter dito qualquer coisa desde o princípio.
- Dhiego? - ela o incentivou.
- Acho que ele só queria te surpreender - mentiu.
"Ele queria dizer que te amava", pensou, e mesmo reparando que Sammy não tinha comprado sua desculpa, tentou mudar de assunto.
- Acha que devemos procurar nas ruas de trás? - disse, e Sammy continuava com o olhar perdido.
- Precisamos ir até o apartamento do Cory - ela falou, e logo viu a expressão confusa de Lizardo.
- Sammy, honestamente, acho que ele não vai se esconder na casa do ator-de-nome-gay... - ele disse e Sammy não riu, como normalmente faria.
- A pulseira, Dhiego. Eu a derrubei ontem quando fui atrás dele. Eu preciso daquela pulseira!
Alguns minutos de ar condicionado pareceram o céu pra Lizardo, que apenas conduziu a menina até a portaria do prédio, sem dizer nada.

- Nossa... É você mesma! - Cory apareceu na sala após dez minutos de espera. Ele vestia uma samba canção vinho e uma regata branca. Seus cabelos estavam bagunçados e sua cara só provava que tinha acabado de acordar. - Quando a moça me avisou... - ele bocejou - eu pensei que fosse, mas não achei que fosse.
Dhiego franziu a testa para a criatura atlética e semi-bêbada em sua frente. Ficar perto de Cory não fazia bem para seu ego. Sammy tentou sorrir.
- Acho que te acordamos, não? - rla praticamente afirmou. O garoto riu, alisando os cabelos, numa tentativa frustrada de arrumá-los.
-Tudo bem. - Ele a cumprimentou com um beijo no rosto, depois cumprimentou Poynter. - Eu imagino que não tenha vindo aqui essa hora pra me dar parabéns, não vejo presente e sua cara está mais para um enterro.
Sparks dissera aquilo com tanta naturalidade que Sammy riu um pouco. - Me desculpe! - Ela tentou sorrir. - Feliz aniversário, Cory!
Eles se abraçaram, depois os dois olharam pra Dhiego.
- Opa! - ele disse, como se acordasse de um transe. - Parabéns aí, cara!
- Tá, agora me digam a que devo a honra... - Cory se jogou no sofá, depois gritou um nome que nenhum dos dois visitantes entendeu. - Um suco e uma aspirina pra mim, e tudo que meus ilustres convidados quiserem.
- Nós não queremos nada. - Sammy disse.
- Uma Coca. - Dhiego disse ao mesmo tempo, sentindo as bochechas corarem.
- Por que você está triste? - Cory perguntou quando Samantha sentou em sua frente.
- Como sabe que eu estou triste? - Ela arqueou a sobrancelha.
- Tá estampado na tua cara, lindinha. - Ele deu de ombros. - O que houve?
- História longa. Você não quer saber.
- Tente. - Cory sorriu, e Sammy viu-se desabafando imediatamente com ele.
O cara era praticamente um estranho. Mas ele lhe passava confiança, e ela sentia que podia contar com aquele ator-de-nome-gay para tudo. Pelo interesse do cara, para Dhiego, ou ele era mesmo gay (não só de nome), ou queria pegar sua amiga. Torceu mentalmente para se tratar da primeira opção, enquanto observava os dois conversarem.

Depois de um longo desabafo, que deixou Cory totalmente boquiaberto, os três começaram a vasculhar a casa atrás da tal pulseira. Estava tudo uma bagunça, o que não facilitava em nada, e os funcionários do buffet estavam organizando as coisas. Sammy sentiu que ia parar de respirar ao encarar a porta da despensa. Ficou parada a encarando, por incontáveis segundos, se sentindo a garota mais burra do mundo por ter confiado em Brian e entrado ali voluntariamente. Era tudo culpa dela. Ela era uma idiota.
- Pare de se torturar. - Dhiego a virou de frente pra ele - Pare.
A garota saiu em passos largos para a sala, sentou no enorme sofá de couro branco e apoiou a cabeça nas mãos, tentando impedir que as imagens da briga voltassem à tona. A pulseira não estava em lugar nenhum. Leonardo não estava em lugar nenhum. Ela queria apenas apagar aquela merda de dia da sua vida. Não adiantava chorar, ela precisava agir. Levantou-se, decidida a sair do apartamento de Cory e procurar o que realmente importava, quando Lizardo apareceu na sala, meio pálido, com o celular na mão. Sparks estava a seu lado, e ela deixou seu corpo cair no sofá antes mesmo que eles dissessem qualquer coisa.
- O que ele... Ele está bem? Aonde ele...? - Sammy não conseguia terminar a frase. Lizardo abaixou em sua frente, sentado na mesinha de centro.
- Ele... Ele ligou pro Thomas.
- ONDE ELE ESTÁ? - Sammy tampou a boca ao ouvir o eco de sua voz na sala toda, fazendo com que as pessoas do buffet a olhassem.
- Ele foi embora, Sammy - Dhiego respirou fundo. - Ele voltou pra Londres.

Samantha não quis falar com ninguém quando voltaram à mansão. Ele tinha ido embora... Então aquilo realmente era pra valer. Ele realmente não confiava nela. Sentiu uma mistura de decepção, dor e raiva quando trancou-se no quarto e viu o relógio que ele deixara na mesinha ao lado da cama. Teve vontade de pisar nele, mas não o fez. A raiva era uma parte mínima que ela estava se obrigando a sentir. Arrependeu-se quando se jogou na cama, fazendo com aquele perfume maldito tomasse o quarto inteiro, e deixasse que suas lágrimas finalmente escapassem. Ficou ali por alguns minutos, até decidir levantar e terminar de arrumar as coisas na mala. Ao ver seu reflexo no espelho, reparou que a garota que via não era ela. Aqueles olhos borrados não eram dela. Aquela cara de sofrimento... Não a pertencia. Era uma versão muito, muito pior. Pedaços de Samantha Donatelli mal colados numa pessoa irreconhecível. Desviou o olhar, incomodada, e pegou as roupas que faltavam, jogando-as de qualquer jeito em uma mala. Pegou uma outra mala para colocar o resto de sapatos e cosméticos, mas arrependeu-se imediatamente de tê-lo feito.

Flashback...

- Sabe, nós precisamos conversar muito sério. - A garota tirou o sorriso do rosto e Torres franziu a testa, confuso e apreensivo.
- Sobre?
- Sobre quem vai ter a guarda da blusa vermelha - Sammy disse ainda com a voz séria e Leonardo gargalhou muito alto.
- Sinto informar, mas a blusa é minha e eu não abro mão disso!
- Então teremos um problema.

Flashback Off


- Ótimo... - Ela pegou a blusa e chacoalhou a cabeça. - Só faltava essa.
Samantha agradeceu mentalmente quando alguém bateu em sua porta, fazendo-a jogar a blusa que roubara de Leonardo na noite em que começaram a se falar direito, dentro da mala.
- Ei, garota! - Mands entrou, com um sorrisinho solidário. - Está melhor?
Samantha fez que sim com a cabeça, mesmo que um belo "não" estivesse estampado em sua cara. Amanda a abraçou rapidamente.
- Nós precisamos ir, ok? Não podemos nos atrasar para o voo.
Sammy sorriu, fechando a mala, e deu uma olhada ao redor antes de sair do quarto que tinha sido tão importante pra ela durante esses dois meses de férias.

- Voo 421 com destino a Tóquio, embarque imediato pelo portão 14.

- Eu devia ir pra lá - Sammy murmurou a primeira coisa que dissera na última uma hora. Thomas arqueou a sobrancelha, confuso.
- Pra lá aonde?
- Tóquio. Longe, muito longe... - A garota deu de ombros, como o olhar perdido no saguão. Tunner segurou sua mão.
- Você vai pra Londres e vai enfiar na cabeça do seu docinho idiota que você não fez nada. E pare de graça.
Sammy sorriu vagamente.
Odiava aeroportos. Odiava aviões, odiava altura, odiava Leonardo por não estar ali falando coisas idiotas para que se acalmasse. Como se já não bastasse o voo, ainda por cima naquelas circunstâncias, estava mais que nervosa. Mordeu um Kit Kat enquanto tamborilava com os dedos no joelho de Dhiego. A cada novo voo anunciado, seu coração vinha até a boca e voltava.

- Voo 178 com destino a Londres, embarque liberado pelo portão 11.

- É o nosso! - Anna levantou rapidamente, pegando sua bolsa roxa. - Vamos, galera!
Todos começaram a levantar, menos Sammy, que continuou sentada, agora fincando as unhas nos joelhos de Lizardo, impedindo-o de se mover também.
- Outch! Sammy! - ele reclamou, dando um tapa meio afeminado em sua mão, que fez Gusta e Thomas rirem. - Vamos?
O garoto estendeu a mão em sua direção com um sorriso fofo nos lábios.
Samantha não conseguiu tocá-lo.
Seu coração estava disparado. Ela sabia que nada aconteceria, tinha certeza. No entanto, sua pele estava gelando e ela parecia estar a ponto de desmaiar ali mesmo.
- Maninha, você tá bem? - Gusta sentou ao seu lado, visivelmente preocupado.
- Eu... - A garota começou a levantar, mas jogou seu corpo na poltrona novamente. - Eu não posso. Eu não consigo.
- Ah, não... - Thomas murmurou, subitamente lembrando do pânico que Samantha tinha de altura. Somados ao problema com Torres... Aquilo daria em merda.
Alguém anunciou o voo deles novamente.
- Sammy, por favor, não vai acontecer nada... - Flávia disse, sorrindo. - Veja bem, vamos estar com você o tempo todo. É tudo tão...
Samantha já não entendia mais o que a amiga dizia, tudo parecia "bla-bla-bla-whiskas sachê" ao seus olhos e ouvidos, enquanto suas mãos tremiam.
Lembrou de quando foram pra França.
Lembrou da voz de Leonardo encorajando-a.
E então segurou com força nos bancos.
- Eu não vou.
- O QUÊ? - Quase todos berraram ao mesmo tempo.
- Eu não consigo.
- Você consegue, Sammy, pare com isso! - Anna disse batendo o pé no chão. - Você veio sem ele conosco, não veio?
- Você não entende. - Aquilo era ridículo, nem ela entendia. - Eu não posso, EU NÃO CONSIGO!
Sammy apoiou a cabeça nos joelhos, nervosa, tonta, e com vontade de chorar. Nunca mais tinha tido uma crise de pânico assim com altura. Viajava com os pais periodicamente, e no máximo dava um mini-chilique dentro do avião, mas alguém a distraía e ela seguia viagem. Sentiu o toque suave de alguém acariciando seus cabelos, e depois ouviu o anúncio de seu vôo de novo.
- Vão vocês - Ela ouviu a voz de Gusta - Peguem nossas bagagens quando chegarem lá. Vamos de trem.
Sammy levantou minimamente a cabeça.
- Tem certeza? - Mands disse, e Gustavo assentiu, beijando-a nos lábios rapidamente.
- Gusta, você não precisa... - Sammy sentou e ele a interrompeu.
- Shhh... - disse, abraçando-a. - Preciso que você fique calma. Vamos de trem, você precisa do abraço do seu irmão mais gato e não precisa de mais problemas por hoje. Sem aviões, sem altura, eu e você, ok?
Sammy sorriu, apertando Gustavo com um pouco mais de força.
- Eu te amo. Obrigada.

Samantha estava mais calma quando chegaram a Londres por terra firme. Gusta era o melhor irmão do mundo. Ficou pentelhando-o com seus problemas a viagem toda, e ele estava ali, sempre sorrindo e acalmando-a. Como as malas tinham viajado com o resto dos amigos, pegaram facilmente um táxi para casa. Ao chegarem, sua mãe já sabia de tudo, coisa que Sammy constatou pela intensidade do abraço e pelo fato de Mands, Thomas e Flávinha estarem ali. Antes que ela começasse a dizer qualquer coisa, Sammy respirou fundo, levantou do sofá e pegou o celular na mesinha.
- Eu vou até a casa do Leonardo.
- Sammy, você não acha que... Sei lá, talvez fosse melhor esperar? - Flávinha disse e Sammy negou.
- De forma alguma. Eu preciso resolver isso logo. Ele vai me ouvir.
- Quer que eu te leve? - Thomas se apressou em oferecer, mas ela negou novamente.
- Está tudo bem, eu juro. Só preciso... Vocês sabem. Preciso resolver isso logo.
Gusta a beijou na testa antes que ela caminhasse até a porta.
- Boa sorte, maninha!
- Boa sorte - Thomas, Mands e Flávinha disseram em uníssono.
- Vai dar tudo certo, meu anjo - sua mãe disse, e ela sorriu, confiante.
Mães geralmente sabem o que dizem.

- Merda, mas que caralho! - Leonardo gritou enquanto tentava enfaixar a mão cortada sozinho após o banho. - Muito esperto, Leonard, foder a própria mão quando está com raiva! ARGH!
Leonardo estava sozinho em casa. Sabia que isso ia acontecer, pois sua mãe tinha viajado com algumas amigas para Miami e só apareceria dali a uma semana. O plano inicial era aproveitar muito bem esses dias com a casa só pra ele. Sequestraria Sammy por alguns dias e estariam sozinhos para fazerem o que quisessem, quando quisessem, na hora que quisessem. O plano era perfeito.
- Até aquela vad... - Leonardo parou no meio da frase. Como podia ser tão babaca de não conseguir nem xingá-la? - Vadia - cuspiu a palavra com a voz meio alterada, ainda se sentindo mal com isso.
Desceu as escadas só de boxer e foi até a cozinha, ainda lutando com a faixa na mão. O corte era meio feio, sabia que devia dar uma olhada melhor naquilo, mas pelo menos aquela dor amenizava uma certa outra que lhe incomodava mil vezes mais. Pegou uma garrafa de cerveja na geladeira e tomou quase tudo de uma vez só. Tinha passado as últimas horas anestesiado com cervejas, que não faziam efeito nenhum sobre ele. Faziam, claro, com que ele pensasse mais nela e sentisse mais sua falta. Também fazia com que seu ódio por si mesmo só aumentasse. Ele simplesmente tinha que parar de pensar nela! Ele podia ser um merda e ter feito coisas que não aprovaria se Sammy fizesse com ele. Mas nunca faria aquilo. N-u-n-c-a. E ainda por cima com...
Ao pensar em Portman, jogou a garrafa com força na parede.
- Você vai sair da minha cabeça... Você TEM que sair da minha cabeça! - fisse, ao lembrar de Sammy chorando, e apoiou as mãos na pia, respirando fundo.
Tinha chorado. Que porra de homem chorava por mulher?
Ele, claro. Tinha chorado que nem uma criança no quarto da mansão.
Tinha chorado de novo quando chegou em casa.
Estava farto daquela merda toda.
Ouviu a campainha tocar, e momentaneamente feliz ao se lembrar da pizza que havia pedido antes de entrar no banho, correu até a porta com a carteira na mão boa.
Essa mesma carteira caiu no chão quando ele abriu a porta.

Ela não disse nada. Estava abraçando os próprios braços com aquela cara de quem está procurando alguma coisa para falar. Leonardo sentiu o ódio correr pelas veias, paralelamente a um tremor estranho em sua espinha.
- Eu disse pra você se esquecer de mim! - falou entre dentes, e Sammy engoliu seco.
- Eu não vou embora enquanto nós não conversarmos - ela respondeu, a voz firme, porém baixa.
Leonardo riu, sarcástico.
- Não sabia que você era adepta a acampamentos no meio da rua, Donatelli - disse, apoiando uma mão na lateral da porta.
Tomou um susto quando ela subiu no degrau, fazendo seu rosto aproximar do dele.
- Você não vai me fazer esperar aqui fora, Torres - ela retribuiu com o sobrenome, ótimo. - Você vai me deixar entrar e escutar o que eu tenho pra dizer.
Momentaneamente estupefato por aquela atitude - ele esperava que ela viesse chorando e se derretendo - Leonardo chacoalhou a cabeça, e riu novamente.
- Pode parar com o sarcasmo e a ironia, garota. O único direito que você tem aqui é de se colocar no seu lugar pela merda que você fez, calar sua boca e... - Torres parou, ao ver o entregador de pizza.
Pegou a carteira no chão, deu uma nota para ele sem mesmo ver, e pegou a caixa. Samantha permaneceu parada ao seu lado. Torres colocou a caixa para dentro, e então voltou-se para ela.
- Vá embora. Nada que você diga vai mudar o que eu vi.
Leonardo ia bater a porta, mas Sammy a segurou, e com medo de prender a mão dela e os dois ficarem idiotamente com as mãos enfaixadas, ele abriu de novo.
Parecia outra garota do lado de fora. Outra Samantha.
Aquela que ele esperava de princípio. Ainda com a feição firme, seus olhos estavam vermelhos. Tudo o que ele conseguiu pensar por dez segundos foi o quanto odiava fazê-la chorar. Depois ele lembrou que chorou por ela, e então a raiva voltou.
- Leonardo, por favor... - ela pediu, quase sussurrando. - Por favor.
- Não - respondeu, firme, mas com os joelhos quase tremendo.
- Dez minutos, Leonardo. Dez minutos e eu prometo que vou embora.
Torres respirou fundo. Talvez ela pudesse provar que ele estava errado. Porra, como ele queria estar errado.
Não que acreditasse nisso. Ele tinha visto muito bem.
- Dez minutos - respondeu, andando até o sofá, deixando-a entrar sozinha e fechar a porta.

Samantha sentou no sofá em frente a Leonardo. Sentiu-se como se estivesse na polícia ou algo do tipo. Os olhos do garoto que ela tanto amava pareciam interrogá-la. Leonardo tentava agir despreocupadamente. Pegou a caixa de pizza e a abriu, pegando um pedaço, sem dizer nada.
- O que houve com a sua mão? - Sammy perguntou, mesmo sabendo a resposta. Precisava começar de algum lugar. Fazer Leonardo assumir que estava sofrendo parecia um bom jeito.
Ele deu de ombros.
- Honestamente, você veio aqui pra bater papo e fingir que é minha amiguinha, ou pra falar qualquer merda de mentira que você quer que eu acredite?
O balde de água fria que Samantha (não) esperava.
Engoliu o choro que já ameaçava aparecer. Firme, muito firme.
- Leonardo, aquilo tudo foi uma armação. Você precisa acreditar em mim!
- Você que precisa que eu acredite.
- Dá pra você calar a boca e me ouvir? - Sammy perdeu a paciência, e ele riu, irônico, enfiando mais um pedaço de pizza na boca. - Eu não sabia que o Brian estaria na festa. Encontrei com ele e dei um chilique, porque achei que ele estava me perseguindo de novo.
- E não estava? - Leonardo arqueou a sobrancelha. Ficou quieto assim que viu a cara de Samantha.
- Aparentemente o primo dele é amigo do Cory. Bom, ele disse que precisava conversar comigo, e que se eu falasse com ele, ele nos deixaria em paz. Saímos da muvuca, e fomos até a cozinha. Ele me levou até o fundo e disse que era pra eu entrar na despensa...
- E você, garotinha ingênua de cinco anos de idade, entrou... - Leonardo gargalhou. - Qual é, Samantha? Você acha que eu sou idiota? Puta que pariu, você entrou lá VOLUNTARIAMENTE! - ele finalmente gritou. Se sentiu bem, por um instante.
Sammy passou as mãos nervosamente pelo cabelo.
- Ele disse que ia nos deixar em paz. Entrei pra conversar com ele, Leonardo. Eu fiquei de olho na chave, eu sei que ele não é boa coisa. Ele ficou me enchendo o saco, e do nada o celular dele tocou, ele não atendeu, deu dois segundos e ele me empurrou e me agarrou - Sammy disse com as mãos trêmulas. - E você... E você apareceu.
O silêncio tomou conta da sala da casa de Torres. Leonardo respirou fundo, limpando a mão em um guardanapo.
- Tá, e como eu entro nisso? - ele perguntou.
- Como assim?
- Como é que o Brian "fez com que eu o visse te agarrando sem você querer" - Leonardo fez questão de fazer aspas com os dedos.
Samantha quis dar um murro nele.
- Isso... - ela chacoalhou a cabeça. - Eu não sei. Você foi lá para quê?
Leonardo riu.
- Eu só fui lá ajudar uma menina! E eu que ofereci ajuda, uma garçonete! Isso é ridículo, Samantha, não faz o menor sentido!
- Leonardo, para com isso... - Sammy quis que sua voz soasse menos estranha. - Você acha mesmo que eu... que eu... - A menina fazia um esforço enorme pra não chorar. Torres sabia disso. - Você não confia em mim?
Outch. Confiança.
Leonardo já nem sabia mais como aquela palavra se encaixava em seu vocabulário.
Estava completamente cego de raiva e de ciúme.
- Leonardo... - Samantha sussurrou, dando a volta na mesinha e sentando do lado de Torres no sofá, tão perto que podia encostar nele. E isso fez os dois estremecerem. - Você não pode estar falando sério quando diz que acreditou naquilo. Eu amo você. - Sammy apoiou sua mão gelada na mão dele, que incrivelmente estava na mesma temperatura. - Eu estou aqui quase me rastejando pra ter você de volta. Por favor, volta pra mim... - Ela respirou fundo. - Eu preciso de você. Você... Você confia em mim?
Leonardo apertou a mão de Sammy com a sua. Ela estava tremendo. Ele a encarou nos olhos pela primeira vez, sentindo cada músculo de seu corpo reagir à proximidade. Era algo com o perfume dela. Algo com o jeito dela. Ele não podia ficar tão perto assim. Ele tocou seu rosto, e então começou a misturar tudo novamente em sua cabeça.
- Eu não... - Sua voz era nada. Soava como uma bela bicha. - Eu não...
Samantha roçou o nariz no dele, fazendo-o apertar sua coxa.
- Eu não posso. Eu não confio em você.
A expressão de Samantha mudou completamente. Ele não soube dizer o quê, ou identificar o que era. Ela ficou sem falar por mais de um minuto, o que não era normal.
- Você está muito errado sobre mim, sabia? - disse, levantando e caminhando até a porta. - E um dia você vai se dar conta disso. Cuidado pra não ser tarde demais.
Torres não conseguiu dizer nada ao vê-la sair.
Jogou-se para trás no sofá, sentindo-se estranho. Ele a amava e a odiava ao mesmo tempo. Ele sabia que aquilo não ia dar certo. Depois de ficar uns cinco minutos tentando se acalmar, ele caminhou até a janela, olhando atrás da cortina.
Sammy ainda estava lá, sentada em sua escada, com o rosto escondido entre as mãos. Pela forma com que seus ombros se mexiam, estava chorando. Leonardo encostou o rosto no vidro, se sentindo um verdadeiro merda. Observou-a por dois minutos, até ela limpar o rosto e levantar, caminhando devagar. Ele encarou o relógio - meia-noite e quarenta e sete - e respirou fundo.
A única coisa que subitamente conseguia pensar era que ela não podia ir embora essa hora da noite a pé e sozinha.
Colocou uma calça jeans que estava jogada por lá e uma camiseta, desceu as escadas correndo e calçou um par de chinelos com as chaves do carro nas mãos. Ela não reparou quando ele saiu da vaga, estava distante. Dirigiu a 10km/h, de longe, vendo a garota se arrastar pelo meio da rua até chegar em sua casa, alguns minutos depois.
Leonardo estacionou o carro, encarando a fachada da casa. Viu a luz do quarto de Sammy acender e bateu a própria cabeça no volante com raiva de si mesmo.
Como ele podia estar ali, preocupado com ela, depois de tudo o que ela fez?
Preocupado com a segurança dela?
- Caralho, são dois quarteirões! - Leonardo xingou, batendo a mão enfaixada sem querer e arfando de dor. Como ele era ridículo! Tinha ódio, tinha nojo de si mesmo. Olhou para a sombra do corpo de Sammy andando de um lado para o outro perto da janela e murmurou: - Você vai sair da minha cabeça. Eu vou esquecer que um dia eu já amei você! Eu... - Ele chacoalhou a cabeça. - Vai ser melhor pra nós dois.

Capítulo 19: I guess we're really over, so come over, I'm not over it

- Ei, Sammy, acorda, querida - Samantha ouviu sua mãe sussurrar e a chacoalhar. - Primeiro dia de aula.
Samantha colocou o travesseiro na cabeça, com raiva por ter sido acordada tão cedo. Já não lhe bastavam as horas de insônia regadas a lágrimas que ela estava cheia de derramar. Devia ter dormido uns quarenta minutos apenas, e agora sua mãe estava ali, a arrastando para fora da cama, para que ela encarasse aquela porcaria de colégio.
Seria fácil fazer isso, mesmo estando um trapo, se ela fosse simplesmente uma ninguém dentro do colégio.
Mas obviamente Murphy tinha uma paixão enlouquecedora por ela, e ela ainda era popular, imitada e teria que discursar em prol do começo das aulas. Dali a dois dias provavelmente suas olheiras virariam moda. Ótimo. Desistiu de lutar contra sua mãe e foi até o banheiro, irritada, tomar um banho quente. Encontrar com Leonard ainda seria o pior de tudo. Não sabia como reagiria, sabia simplesmente que tinha... Desistido.
Samantha Donatelli não desiste. Mas depois de ver o cara que ela tanto ama pronunciar que não confia nela com todas as letras, achou que a melhor coisa a fazer era parar de tentar. Bom, pelo menos parar de tentar fazê-lo acreditar nela. Mas a garota ainda não tinha engolido aquela história de Leonardo ter aparecido na despensa. Ela encurralaria Brian, faria de absolutamente tudo, mas descobriria a verdade.
- Para esfregar na cara daquele idiota... - murmurou, enquanto limpava o espelho para ver seu rosto.
Sabia que aquilo era mentira. Ela queria mesmo era que Leonardo a visse que estava errado e a "perdoasse". Mas poxa, ele não devia acreditar nela?
Ajeitou os cabelos em um coque mal preso - sabia que Amanda iria dar um chilique ao vê-la assim -, passou um corretivo nas olheiras para dar-lhe ao menos um ar de dignidade, um gloss, e vestiu o uniforme.
Quando desceu as escadas, Gusta estava comendo cereal na cozinha.
- Bom dia! - ele disse de boca cheia, e Sammy sorriu.
- Bom dia, chuchu! - Ela lhe apertou as bochechas, fazendo o garoto reclamar. - Vamos?
- Come alguma coisa... - ele disse, limpando a boca com o guardanapo. - A Mands vai vir nos buscar.
Ótimo, a bronca do visual desarrumado viria antes do esperado.
- Tenho pensando tanto em mim ultimamente que nem perguntei... Como vocês estão? Digo... Juntos e tal... - Sammy perguntou vagamente, vendo o garoto colocar cereal para ela em uma grande xícara. Torceu o nariz, pois esperava que ele tivesse se esquecido do café da manhã. - Estamos muito bem - Gusta abriu um sorriso radiante. - Ela é... Bom, totalmente diferente de mim, sabe? A gente não tem quase nada em comum. Mas acho que a graça é essa.
Sammy brincou com a colher dentro da xícara.
- Eu estou vendo que você tá enrolando... - Gusta disse, e a menina fez careta.
- Você não é a mamãe.
- Mas eu sou. - A Sra. Donatelli apareceu na cozinha, fazendo Gusta gargalhar. - Pode comer.
- Mãe, eu não tô com...
- Samantha Donatelli! Você acha que eu já não fui adolescente? Acha que eu nunca perdi a fome por causa de algum namorado? No entanto eu fui obrigada a comer porque percebi que minha vida é mais importante do que um garoto que usa as calças tão caídas que aparecem até a cueca.
Sammy arregalou os olhos, e Gusta torceu o nariz.
- Ei! Eu também uso calças assim!
- Filho... - A Sra. Donatelli o abraçou de lado. - Eu te amo e você sabe disso. Mas nunca disse que você tinha um bom gosto para moda.
- Outch! - Sammy cutucou, fazendo o irmão levantar o dedo do meio discretamente.
- Cala boca e come, Samantha - ele revidou, e Mands entrou na sala, rindo alto.
- Vocês são tão fofos, sabe? - Ela rolou os olhos. - Samantha, que coque é esse?
Sammy riu.
- Vamos embora, eu como essa maçã - Sammy se adiantou, deixando Mands reclamando para trás, vindo de mãos dadas com seu irmão.

Samantha e Amanda cumprimentaram vários desconhecidos quando chegaram ao colégio. Gusta ficou meio estupefato com tantos olhares - a maior parte deles corria do cabelo amarrado de Samantha até sua mão que segurava a de Mands - e aquilo o deixou um pouco assustado. Ficou feliz quando viu Thomas, Flávia e Dhiego em um banquinho onde os garotos sempre costumavam sentar.
- Pessoas conhecidas, amém! - Gusta disse, fazendo os amigos rirem.
- Tem pessoas olhando para cá. Não param! - Thomas disse, com um olhar estranho que fez Sammy rir.
- Deve ser porque elas não se acostumaram com a ideia de tantas garotas sexies e deliciosas sentadas com um bando de losers... - Flávia riu da cara de Tunner. - Losers que são um pouquinho... Bem pouquinho... Sexies.
Samantha assistiu os amigos rirem, enquanto olhava em volta, nervosa.
A qualquer momento ele chegaria, obviamente. Ficou feliz em ver Anna se aproximar, mas enquanto sua amiga cumprimentava um a um com beijos no rosto, e depois sentou no colo de Dhiego, Sammy se deu conta de que estava sobrando ali no meio de três casais.
- Adoro segurar vela... - ela murmurou, fazendo Flávinha rir.
- Awn, amor, você sabe que meu coração é todo seu! - Flávia a apertou, arrancando uma risada da menina. - O Thomas é só meu passatempo, você é sempre prioridade!
- Valeu, hein? - Tunner fez um joinha com o dedo, fazendo todos rirem.
- Sorry, querido, eu vi primeiro... - Sammy entrou na brincadeira, puxando Flávia pela mão. - Toda minha!
Enquanto riam de algumas trivialidades, Mands penteava os cabelos de Sammy para deixá-los soltos, e tudo estava num clima muito ameno, até que Dhiego avistou Leonardo atravessando o pátio. Ele era a peça que faltava, é claro. Todos estavam observando as trocas de carinho entre os losers e as populares, e Sammy, a mais querida delas, estava lá, sem ninguém. Quando viram Leonardo, metade do pátio o acompanhou com o olhar. Samantha percebeu uma certa movimentação, e virou a cabeça, sentindo seu coração quase parar.
Lá estava ele, a gravata do uniforme sempre mal amarrada, as calças caindo, como sua mãe bem notaria, Vans nos pés e os fones do iPod nos ouvidos. Ele olhava para o chão, mas não parecia estar com a feição tão acabada quanto a dela. Não tanto quanto ela gostaria, afinal, queria saber se ele também se sentia mal por estarem separados. O único vestígio ainda era a mão mal enfaixada. Torres os encarou, e pareceu acordar de um transe, tirando os fones e mexendo na tela do aparelho.
- Bom dia - disse preguiçosamente.
Flávia se ajeitou na cadeira. Anna parou de rir das idiotices de Lizardo, Mands soltou seus cabelos, Gusta e Thomas fixaram o olhar em Leonardo.
"Mas que beleza!", Sammy pensou, irritada. "Isso vai ser pouco incômodo".
- Bom dia! - Dhiego respondeu após alguns segundos, e então o resto dos tapados pareceu acordar ao redor de Torres, fazendo o mesmo.
- Então é por isso que estava todo mundo me olhando... - Leonardo disse com um sorrisinho. - Vocês estão... - Ele apontou para os casais em sua frente.
- Achou que fosse por quê, Torres? - Flávinha fez voz de desdém, mas todos sabiam que era uma piada. Nunca o tratara mal, mesmo quando nem se falavam direito.
Leonardo riu. O som da risada dele provocou uma onda de calor dentro de Samantha.
- Hum, talvez por eu ficar muito gostoso de uniforme... - Ele sorriu, fazendo os amigos rirem.
O silêncio seguinte não estava previsto. Gusta pensou em abrir a boca para dizer algo, mas viu que Torres olhara para Samantha pela primeira vez desde que tinha se aproximado deles. Ao sentir o olhar de Leonardo sobre si, Sammy ficou paralisada, mas o encarou de volta, e eles ficaram por incontáveis segundos assim, estáticos. A garota coçou o pescoço, confusa, com as mãos gelando. E então Leonardo fez um barulho estranho com a boca, chacoalhando a cabeça.
- Eu vou...
- Vai? - Anna provocou, fazendo Dhiego chacoalhar a cabeça.
- Ali - Leonardo respondeu simplesmente, deixando a rodinha.
Samantha riu, sem humor.
- Vai ser sempre assim... - disse baixo e Flávinha a abraçou pelos ombros.
- Claro que vai, até o dia que vocês pararem de ser idiotas. - Flávia sorriu com todos os dentes, e quando viu que Sammy iria protestar, a puxou pela mão, fazendo o mesmo com disse, arqueando a sobrancelha.
- Eu sei de tudo, meu amor! - Flávia riu, presunçosa. - Sei que você tem aula de Geografia comigo, sei que o Gusta e a Mands vão cabular aula para ficar se pegando, sei que o Thomas quer me corromper a fazer isso também, e mais importante... - ela fez uma pausa, sorrindo. - Sei que Samantha e Leonardo serão sempre um casal, mesmo não sendo um casal. O que significa que em breve eles estarão de volta.
Samantha ficou boquiaberta, enquanto os amigos riam, mas não disse nada quando foi puxada pelo jardim.

- Dude, para de ser idiota! - Thomas cochichou, enquanto a Sra. Brown passava um vídeo, como ela gostava de fazer nas primeiras aulas. - A Samantha não fez porra nenhuma!
Leonardo chacoalhou a cabeça, rindo baixo.
- Não, fui eu quem estava lá na despensa com o Brian, né? - disse, sarcástico.
- Isso tudo é orgulho? - Judd riu, sem humor. - Eu sou seu amigo! Eu tô te dizendo que ela não fez nada!
- Ah, fica na tua, dude! Tá escrito na sua testa que você é "Team Samantha".
Dessa vez Thomas riu um pouco alto demais, levando um olhar atravessado da professora.
- Team Samantha? Para de ser idiota, pelo amor de Deus... - Tunner riu. - Se ela tivesse te chifrado eu seria o primeiro a te apoiar, mas eu acredito na Sammy, sabe? Coisa que você deveria fazer.
Torres bufou, e então virou para Thomas pela primeira vez.
- Faz o seguinte? Cuida da SUA vida e para de falar merda, antes que eu me irrite com você - Leonardo disse, sério, e Thomas chacoalhou a cabeça.
- Tá escrito na SUA testa que você é "Team Samantha" - ele provocou, sorrindo. - Só que eu não sabia que você era tão idiota de cair na do Brian e perder a única menina que você realmente quer. - Tunner olhou para a tela. - Mas é melhor eu cuidar da minha vida, mesmo... Só não diga que eu não avisei quando você...
- Cala a boca! - Leonardo sussurrou, nervoso, e virou para frente.
Thomas apenas riu. Sabia que o amigo estava louco de vontade de correr até a sala de Sammy e agarrá-la. E também sabia que tinha o irritado o suficiente para que ele ficasse com uma pulga atrás da orelha. Score. Mais cedo ou mais tarde, ele cairia na real.

Ao deixar a aula de geografia, Sammy e Flávinha caminharam juntas até o outro prédio. Tinham aulas diferentes, mas iam para o mesmo lugar. Lizardo tinha ido para o ginásio onde teria sua temida aula de educação física.
- Ah, droga! - Sammy parou de andar, fazendo Flávia a encarar.
- O que foi?
- O Dhiego esqueceu o celular dele comigo... - Samantha girou o aparelho na mão, com cara de sono. - Vamos lá entregar?
- Ih, amiga, bem que eu queria ficar passeando, mas tenho aula do Sr. Thompson... - A simples menção do nome do professor de álgebra fez Sammy torcer o nariz, e Flávia rir.
- Então não se atrase, não dê mais motivos para aquele cara te odiar - Samantha riu. - Aliás, ele nos odeia acima da média dos professores. Tenho medo.
Flávia gargalhou.
- É porque nós somos gostosas e ele não! - Flávia disse, rindo, e então correu pelo corredor.
Sammy caminhou devagar, olhando para dentro de algumas portas entreabertas das salas. Chegou ao ginásio em poucos minutos, e logo avistou Dhiego, devidamente sentado na arquibancada e com cara de tédio, enquanto todos os garotos começavam a se aquecer. Aquela imagem a fez rir.
- Seu celular, tontinho esquecido - ela disse, e o garoto riu.
- Também te amo, Sammy - ele disse, enquanto a menina sentava ao seu lado. - Não tem aula agora?
Ela deu de ombros.
- História da arte.
- Aqui é educação física - o garoto disse, divertido, levando um beliscão.
- Tá me expulsando, Dhiego Lizardo? - Samantha disse com uma voz afetada, e os dois riram.
Não demorou muito para que Sammy virasse o olhar e visse quem estava entrando na quadra. E uma corrente de ódio tão gigantesca cresceu dentro dela que Dhiego não conseguiu segurá-la quando ela atravessou a quadra até Brian.
- Hey! Não vejo você desde... - ele ia dizer, com um imenso sorriso, quando a garota fincou as unhas em seu braço.
- Cala a boca! - ela disse baixo, mas com a ira transbordando na voz. - Vem comigo, agora!
- Eu tenho aula, querida, não posso... - O cinismo de Brian estava quase lhe causando um colapso. Ela o empurrou com força em direção às escadas, quase fazendo com que o garoto tropeçasse.
- Sammy, calma... - Dhiego apareceu ali, e ela não o olhou.
- COMO VOCÊ PÔDE FAZER AQUILO? - Sammy berrou, ouvindo o eco de sua voz no corredor. Respirou fundo, pois não queria dúzias de caras suados correndo na direção deles. - Você vai me dizer AGORA como é que...
- Eu não sei o que você está falando.
- BRIAN! - A menina gritou de novo, fazendo alguns garotos quase pararem de correr. - Brian. Portman. Não. Me. Faça...
- Vai fazer o quê? - ele riu. - Nada que você possa fazer vai mudar alguma coisa... - ele sorriu largamente -, docinho...
Samantha não conseguiu ouvir mais nada. Acertou um murro na bochecha de Brian. Um murro, não um tapa. Ele pareceu assustado com a reação, gemendo como uma garotinha, e segurando o rosto claramente marcado pelo enorme anel que a menina usava.
- Ai, meu Deus! - Dhiego a puxou - Sammy, você vai pra detenção, vamos sair daqui...
Brian riu, ainda segurando o rosto.
- Você é mais homem do que seu ex-loser.
- Cala a boca, seu idiota! - Samantha se desvencilhou de Lizardo. - Antes que você tome outro desses, é melhor você falar logo como que você conseguiu armar aquilo tudo!
Brian se aproximou dela, sorrindo.
- Eu não armei nada. Você entrou lá porque quis. Você me beijou de volta porque quis.
Samantha quase gritou de ódio. Não acreditava que ele estava dizendo aquilo. Queria o quê, que Lizardo se virasse contra ela também?
Foi quando ouviu uma risada bem característica em suas costas, e entendeu tudo.
- Bela direita, docinho - Leonardo sussurou perto do ouvido de Sammy, que ainda estava de costas. - Da próxima vez, tente fazer isso dentro de uma despensa, e quem sabe o próximo idiota que te namorar acredita em você?
Sammy virou para Leonardo, que ainda estava ali perto, com Gusta. Não sabia o que ele tinha ouvido - muito provavelmente só o que Brian tinha dito - mas ele tinha visto o soco, nem que fosse de longe. Devia pelo menos cogitar que ela podia ter razão. Ou, do jeito que a mente de Torres andava distorcida, devia achar que era tudo outra armação. Mas ela estava com raiva. Pela primeira vez desde o ocorrido, sentiu apenas raiva de Leonardo. E uma vontade crescente de também marcar seu anel na cara dele.
- Dispenso sua ironia, Torres - ela sorriu, sarcástica. - Você quer uma marca do meu anel na sua cara para combinar com a mão enfaixada que você ganhou ao socar o espelho... Porque... Ah, sim, porque você me ama tanto que só consegue agir como um merda?
Leonardo ficou paralisado, mas logo se recuperou.
- Isso não tem nada a ver com você.
Samantha riu.
- Claro que não. Tem a ver com sua insegurança e orgulho. Tem a ver com sua idiotice - ela riu. - Está tudo bem. Quando você perceber que errou, pelo menos terá uma cicatriz pra se lembrar disso. Pra sempre - ela o encarou. - Para sempre, o dia em que você me perdeu... docinho.

Dois dias tinham se passado após a cena envolvendo Brian no pátio. Samantha ainda não sabia como fazer o garoto falar a verdade, no entanto, estava com tanta raiva de Leonardo, que isso parecia menos importante.
Estava com raiva por ele não ter corrido atrás dela, por não ter acreditado nela, por não ter sequer demonstrado que estava abalado com as coisas que ela tinha dito. Quem via de fora, parecia que nada tinha mudado.
Parecia que eles tinham ido e voltado os mesmos da Riviera. As mesmas briguinhas inúteis, os mesmos olhares de fúria, era como ter acordado no passado.
- Bom dia, coisas lindas da Sammy! - A garota saltitou até os amigos, e eles riram. - Como estão?
- Muito bem... - Thomas beijou a bochecha da menina. - Você que parece estar radiante.
- Nada como uma boa noite de sono ouvindo John Mayer. - Ela sorriu. - Aquela voz sexy no meu ouvido a noite inteira, tem como não dormir com os anjos?
- Tem certeza que era o John Mayer? Aposto que você só estava sonhando comigo - Torres apareceu, com um sorriso cínico estampado no rosto. - Aposto que você estava pensando em como era sexy ouvir minha voz no seu ouvido, agora que você não tem nada. - Ele gargalhou, e então a segurou pela cintura, sussurrando com uma voz quase pervertida: - Docinho.
Samantha não deixou que um sorriso vitorioso se formasse nos lábios de Leonardo, quando ele percebeu que a pele do pescoço da menina tinha arrepiado.
- Ah, querido, você está enganado... A voz do John me faz dormir, porque ela é sexy, é suave... É a voz de um anjo. - Ela sorriu, acariciando o rosto de Torres com uma das mãos. - Da última vez que eu cometi o erro de lembrar da sua voz, passei a noite nauseada e correndo para o banheiro. Sabe como é, você perdeu o efeito, baby - E então ela o imitou, sussurrando em seu ouvido: - Sua hora já passou, docinho.
Samantha abriu um largo sorriso ao ver o garoto desnorteado em sua frente.
Não se lembrava do quanto era boa nas brigas com Torres.
O sinal tocou, e todos se levantaram, ainda meio abalados com a cena que tinham presenciado.
- Alguém tem aula de literatura agora? - Torres perguntou, e logo viu a expressão satisfeita de Sammy cair por terra. Ah, não! Leonardo não aguentaria duas aulas seguidas com ela.
Aquilo era uma merda, uma grande merda. Literatura de novo. A aula que os juntou, ali, de novamente, com ela. E só com ela.
Mas Leonardo não teve tempo de processar a ideia. Viu Sammy andando sozinha pelo corredor cheio de alunos, a caminho da aula, e bufou, depois de sentir um tapinha nas costas e ouvir a risada de Thomas.

Quando chegou na sala, havia um lugar disponível bem atrás da carteira de Sammy. Havia outro, bem em frente à mesa da professora. Resolveu escolher a primeira opção, mesmo quase certo de que ficar encarando a Sra. Brown o tempo todo era menos torturante do que o que ia fazer. Samantha não se moveu quando ele sentou. Continuou conversando com uma cheerleader japonesinha que estava ao lado dela. Leonardo lembraria o nome daquela garota, se por acaso prestasse atenção nas garotas com que ficava antes... Dela.
- Bom dia, classe! - A Sra. Brown entrou na sala. - Muito bom revê-los! Tive uma experiência muito boa com alguns de vocês em nossa última aula antes das férias.
Torres ouviu Samantha bufar e rolou os olhos.
A senhora começou a aula, mas Leonardo não conseguia prestar atenção em nada do que ela dizia. Samantha estava se movimentando desconfortavelmente na cadeira, como se quisesse sair correndo dali. Ela pegou um lápis no estojo e começou a fazer um coque.
"Não... Não", Leonardo passou as mãos nos cabelos, sentindo o perfume da menina enquanto ela enrolava o cabelo.
Ela terminou rapidamente um coque perfeito, todo preso, e Leonardo teve que conter o impulso maluco que teve de tocar sua nuca descoberta. Ela sabia ser sexy até sem querer. Aquilo não estava lhe fazendo bem, se ficasse mais dois minutos encarando seu pescoço, faria algo de que se arrependeria. Viu Sammy cochichando com a japonesinha e subitamente lembrou o nome da garota. Respirou fundo, aproximando o rosto do ombro de Samantha, que levou um susto.
- Torres, o que diabos você... - a menina virou um pouco o corpo, mas ele fez sinal de silêncio com os lábios.
- Relaxa aí - disse, seco, e virou-se para o lado. - Autumn, certo?
A garota sorriu, visivelmente empolgada por ter sido lembrada por ele.
- Certo - ela disse baixo.
- Quanto tempo não nos falamos. - Leonardo continuou com o queixo apoiado na curva do pescoço de Samantha, para falar com Autumn. Aquele perfume estava o matando.
- Deve ser porque você parou de me ligar - a japonesa respondeu, e Leonardo ouviu a risada de Sammy, acompanhada de um pedido de silêncio da professora.
- Espere aí - Leonardo murmurou para Autumn, e pegou um papel, escrevendo qualquer idiotice. Então, tocou o ombro de Samantha, que virou, nervosa.
- O que você quer, garoto?
Leonardo não respondeu nada. Apenas estendeu o papel dobrado e fez sinal com a cabeça para que ela o passasse para Autumn. Ela girou os olhos discretamente, mas passou na maior pose de quem não ligava.
Até mais ou menos o quinto papel.
- Escuta aqui, Torres! - ela disse, nervosa. - Se você quer ficar paquerando no meio da merda da aula de literatura, faça você mesmo, pare de encher meu saco! - Sammy viu a cara de susto de Autumn, e então amoleceu. - Desculpe, querida. Não é nada com você. É que...
- Eu sei. - Autumn sorriu. - Vocês se odeiam. Todo mundo sabe.
Samantha e Leonardo trocaram um olhar muito breve, mas ficaram quietos.

- Hey! - Anna correu até Samantha, na hora do intervalo. Tinha tido uma aula de matemática sem nenhum dos amigos, mas qualquer coisa era melhor que Leonardo a importunando.
Quem ele pensava que era pra ficar trocando risinhos com uma garota qualquer na frente dela?
- Sammy, como foi a aula com o...?
Samantha não deixou que ela acabasse.
- Insuportável. Me deixe perto dele por dois minutos e eu juro que choco a cabeça dele contra a parede - Sammy disse tão séria que fez Anna rir. - Tá maluca? Perdeu a noção do perigo? - Samantha colocou a mão na cintura, e Anna engoliu o riso.
- Desculpa, é só... Engraçado.
- O que é engraçado, Anna? Esse pentelho infernizando minha vida?
- Não - Anna disse, quando as duas já avistavam seus amigos. - Você tendo ataques de ciúme.
- EU TENDO O QUÊ?
- Ela tendo O QUÊ? - Thomas a imitou, e Sammy só ficou mais puta.
- Ataques de... - Anna ia dizer, mas o olhar de Samantha a interrompeu. - Tá, parei, parei.
Sentaram para comer em uma mesa quase no centro do pátio. Essa mesa sempre foi delas, mas ultimamente andava frequentada pelos garotos. Enquanto Dhiego e Gusta faziam uma guerra de comida que quase acabou em tragédia - sujando o cabelo de Amanda, que provavelmente processaria ambos - Sammy pareceu engasgar.
Leonardo estava sentando na mesa com Lisa James, duas outras líderes de torcida que Sammy não reconheceu, e Autumn. Ele pareceu sentir o olhar sobre ele, pois olhou pra ela no mesmo instante. Leonardo estava abraçando Lisa pelos ombros, enquanto Autumn ria. Sammy desviou o olhar, tomando um longo gole do suco, e fingiu não ter visto nada.
Mas ele fez questão de, cinco minutos depois, vir andando com Autumn pendurada em seu pescoço até eles.
- Hey, peraí, baixinha! - ele riu, e Autumn também.
Ah, agora com ela é apelidinho fofo?
- Hey... Dude! - Dhiego disse com uma voz estranha.
- Gente, essa aqui é Autumn, lembram dela? Vocês devem conhecê-la por causa do...
- Time de cheerleaders - Anna acrescentou de má vontade. - A gente sabe.
- Posso sentar aqui com vocês? - Autumn perguntou, olhando especificamente para Sammy.
Mal sabia que isso não era a melhor coisa a ser feita. Samantha engoliu o ódio e sorriu largamente.
- Mas é claro, meu anjo, você é sempre bem-vinda.
A cara de Leonardo foi impagável. Ele não conseguiu deixar de transparecer o choque.
- Tudo bem mesmo? - perguntou, com a voz meio estranha. Sammy sorriu novamente.
- Claro que sim.
Todos estavam meio boquiabertos encarando Sammy. As meninas nem tanto - sabiam da capacidade da amiga de fingir muito, muito bem quando queria. Era uma atriz, no fim das contas.
O intervalo foi até bastante fingidamente agradável. Quando o sinal tocou, Samantha percebeu, pelos horários, que tinha educação física com as amigas. Menos mau. Uma hora inteira de fofocas e quase nada de suor - já que elas sempre davam um jeito de fugir do principal - parecia perfeita para tentar liquidar os sentimentos sádicos que estava criando em relação a Torres.

- Hey, Gusta, estou indo pra casa, precisa de carona? - Sammy perguntou, chegando ao lado de Anna no fim das aulas. Ele negou.
- Vou almoçar com a Mands em algum lugar, depois vamos ao cinema... Quer vir?
Samantha riu.
- Não, obrigada, não gosto de segurar vela. - Antes que ele protestasse, continuou: - Aliás, tenho uma pesquisa enorme de filosofia pra fazer. - Ela torceu o nariz.
- Ai caramba, ainda tem essa! - Anna bateu na testa, e Sammy riu. - Bom, eu vou pra casa também. Te ligo mais tarde, tá? - Ela beijou o rosto de Sammy, e depois o de Gusta.
Samantha se despediu do irmão e andou por entre os carros do estacionamento do colégio. Avistou seu New Beatle amarelo, que era fácil de encontrar, e dirigiu-se até ele. Enquanto abria o carro, viu, mais adiante, Leonardo e Autumn.
Eles estavam encostados no capô do carro que ela reconheceu como o de Lisa. Autumn estava entre as pernas de Leonardo, e eles conversavam perto demais. Ele a segurou pela cintura e a puxou, depois olhou para o lado. Bem na direção do New Beatle. Autumn fez com que ele olhasse pra frente de novo, e o beijou.
Sammy entrou no carro rapidamente, sentindo os olhos arderem e uma sensação de raiva e nojo tomou conta dela. Saiu arrancando com o carro, quase atropelando duas garotas que estavam por ali. Não olhou para trás. Não daria esse gostinho a Torres.

Leonardo mordeu levemente o lábio de Autumn, separando o beijo.
A garota sorriu, satisfeita. Era realmente muito bonita. Se fosse em outros tempos, ele estaria orgulhoso de si mesmo.
- Hey, eu vou para casa... - Leonardo disse baixo, e a garota fez bico.
- Se você quiser, podemos ir para a minha... Eu sei... Cozinhar - Autumn soou quase pervertida, e Leonardo chacoalhou a cabeça, rindo.
- Claro que sabe - ele piscou. - Mas realmente preciso ir. Tenho trabalho de física.
- Ah... - Autumn acariciou seu rosto. - Eu posso passar na sua casa mais tarde?
- Hm... - Leonardo olhava para o nada, enquanto a garota se pendurava em seu pescoço. - Não dá. Desculpe. Tenho outras coisas pra fazer.
Ele não esperou que Autumn protestasse. Deu um beijo em sua bochecha, e desencostou do capô do carro, ligando os fones do iPod. Encontrou seu carro e partiu pra casa, ignorando o celular que tocava, já com Autumn ligando.
Quando entrou em casa, jogou a mochila em uma poltrona e se jogou no sofá. Esticou o braço e apertou o botão da secretária eletrônica.

"Leonardo, querido, é a mamãe. Como você está? Nunca mais me ligou! Bom, eu volto no fim da semana, como você sabe. Quando chegar, quero ver os potes de comida que eu congelei para você todos vazios, ok, meu amor? Ah, não durma muito tarde e não esqueça os deveres de casa. Amo você. Me ligue assim que ouvir isso, beijos."


Rolou os olhos, deletando a mensagem. Ligaria para ela assim que tivesse paciência, coisa que já nem sabia mais o que era. Caminhou até a cozinha, abrindo a geladeira e pegando uma garrafinha de Heineken. Puxou a porta do congelador, vendo pilhas e pilhas de comida congelada ali dentro. Fez uma careta. Amava a comida da sua mãe, mas tudo que andava colocando no estômago era Doritos ou Ruffles, e mesmo assim, quase nunca. Não conseguia comer. Era ridículo, simplesmente não tinha fome. Tomou mais um gole da cerveja, voltando ao sofá, e ligou o som bem alto. Os vizinhos andavam reclamando disso? Que se fodam todos eles. O celular vibrou na mesa e ele se irritou ao ver uma mensagem de Autumn. Mas que porra era aquela? O que aquela menina queria tanto com ele?
Não era quem ele queria. Não era dela que ele esperava uma ligação.
Leonardo não conseguia fazer nada em casa. Parecia um marionete no colégio, cheiroso e que dava em cima das garotas, só pra esfregar na cara de Samantha. Só queria saber se ela se importava. Tinha vontade de bater em si mesmo quando se pegava pensando nela vinte e quatro horas por dia, olhando as fotos estúpidas que estavam na câmera, mas que ele não tinha coragem de passar pro computador, e ouvindo músicas que marcaram as férias.
Ele era uma garota, só isso explicava. Não era possível sofrer e querer alguém tanto assim.
Gay, muito gay.
Cada vez que ele dizia algo pra ela, parecia que seu coração ia parar de bater, e quando ela revidava, irritada, tudo o que ele pensava era em agarrá-la ali mesmo. Onde estivessem.
E ao contrário disso, ficava dando bola para líderes de torcida biscates e pegajosas.
Como ele queria Samantha. Só ela o entendia.
Aqueles assuntos de Autumn? Preferia conversar com um poste. Os beijos dela eram muito bons, mas para ele, era mecanizado, como colocar uma camiseta dentro da máquina de lavar. Não é algo que você quer fazer, mas você faz. Não tinha vontade de arrancar as roupas dela do nada, ou de gritar qualquer idiotice para fazê-la rir. Não ficava com a imagem fixa do sorriso dela em sua mente quando tentava dormir.
Honestamente, não queria porcaria nenhuma com aquela garota.
Leonardo jogou a garrafa vazia no lixo, subindo as escadas para trocar de roupa. Era possível que suas próprias roupas lembrassem Samantha?
- ARGH! - gritou, nervoso, e se jogou pra trás na cama.
Ele acreditava nela, Thomas estava certo. Algo dentro dele sempre disse que ela não estava mentindo.
Mas agora já tinha colocado os pés pelas mãos e não sabia mais como agir. Ainda não suportava a imagem dela com Brian, mas e se... E se fosse tudo uma armação maluca, mesmo?
Desceu as escadas, pegando o telefone para ligar para sua mãe - antes que ela concluísse que ele estava morto - quando tocaram a campainha. Xingou Autumn mentalmente, mas abriu a porta, e tropeçou em uma caixa. Quando olhou para para o outro lado da rua, tomou um susto ao ver Sammy abrindo seu carro.
- O que diabos é isso? - gritou, olhando para a caixa e depois para ela. Sammy sorriu, sem humor.
- Isso? Isso sou eu deixando você pra trás, Torres. - Ela entrou no carro e partiu, deixando-o com cara de nada olhando o horizonte.

Leonardo colocou a caixa na mesa de centro. Respirou fundo anets de abrir. Claro que sabia que não era uma bomba ou algo do tipo, mas ainda assim não sabia o que pensar. Sentiu o estômago rodar quando encarou seu relógio, um urso de pelúcia que ele havia lhe presenteado, dois CDs e um pedaço de papel - a carta de literatura - e... a blusa vermelha.
A blusa que ela fez tanta questão o verão inteiro, a blusa pela qual eles "brigaram" o tempo todo.
E então soube que estava realmente acabado. Ele tinha a perdido de vez.

Leonardo não conseguira dormir aquela noite. Rolou de um lado para o outro na cama durante horas, pegou o celular e discou um certo número pelo menos três vezes, até que conseguiu apagar por pouco tempo. Não ouviu o despertador, e sim sua mãe. O que era estranho, não era para ela ter voltado. Depois de levar uma senhora bronca por não ter se alimentado direito, conseguiu a desculpa perfeita: se atrasaria para o colégio. Colocou o uniforme rapidamente, e quando ia apagar a luz para sair, avistou a blusa vermelha. Respirou fundo, dobrou-a e a jogou na mochila.
Aquilo não era mais dele. E ele iria devolver para quem realmente "merecia a guarda".
Dirigiu sem prestar atenção na música que tocava no rádio, até chegar ao colégio e estacionar numa vaga qualquer. Avistou as cheerleaders de longe e tentou se camuflar no meio das pessoas para que não o vissem. Acenou para Dhiego e Anna, que estavam sentados no jardim, enquanto procurava Sammy com o olhar. Ao correr os olhos pela mesa dos jogadores de futebol, arregalou os olhos. Ela não estava sentada com eles. Estava em pé, conversando com um cara que ele reconheceu como goleiro do novo time, rindo e contente.
E ela não tinha o visto.
Logo, estava realmente se divertindo. Mas o pior não era isso: ela estava vestida com o moletom de universidade do cara.
Leonardo sentiu o ódio correr nas veias, ao passo que a blusa vermelha pareceu pesar na mochila. Andou até onde Sammy estava, pegando-a pelo braço.
- Agora eu entendo porque você fez tanta questão de devolver aquela merda de blusa! - ele disse rapidamente, e Sammy fez um sinal com a mão para o jogador, empurrando Leonardo para longe.
- Você tá maluco, Torres? Quem você pensa que é para chegar pegando no meu braço e falando comigo desse jeito? - Sammy disse, irada, e Leonardo riu.
- Sou o idiota que chegou a pensar que você podia estar falando a verdade! - Leonardo estava falando alto demais. Sammy pareceu atordoada, mas respirou fundo, puxando o braço.
- Você é apenas o idiota que terminou comigo e não confiou em mim - ela disse, ríspida, e o coração de Leonard foi até a boca. - Vá fazer showzinho de ciúme com a sua "baixinha" - Sammy fez aspas com os dedos, rindo. - Você não tem mais o direito de se incomodar com quem eu ando, com o que eu visto ou qualquer coisa do tipo.
O goleiro se aproximou dos dois.
- Esse cara tá te incomodando, Sammy? - perguntou, com a voz grossa. Samantha riu, negando.
- O passado não me incomoda. - Ela olhou para Leonardo da cabeça aos pés. - O passado eu esqueço.
Samantha virou as costas, voltando para o grupinho de jogadores e algumas líderes de torcida, deixando Leonardo para trás com a pior das sensações que já tinha conhecido na vida.

Aquele dia tinha sido longo demais para Torres. Ao estacionar o carro na garagem, lembrou que sua mãe estaria em casa para encher mais seu saco. Perfeito.
- O passado eu esqueço... - murmurou, nervoso, batendo a porta do carro.
Quando entrou na sala de estar, sentiu o aroma de frango assado vindo da cozinha. O leve palpitar no estômago o deixou momentaneamente animado.
- Olá, amor! - sua mãe lhe deu um beijo na bochecha, limpando as mãos no avental. - Estou cozinhando o almoço! Por que você não avisou que seus amigos viriam?
Leonardo olhou para trás. Que amigos?
- Mas meus amigos não vem pra cá, vem? - perguntou, confuso. Gusta, Thomas e Dhiego costumavam avisar quando iam se enfiar em sua casa, ainda mais pra almoçar.
- Não, amor, seus amigos da França!
Leonardo franziu a testa. Amigos da França? Sua mãe só podia estar bêbada.
- Eles estão na sala de TV. Chegaram há meia hora.
Torres preferiu não interrogar mais sua mãe, e curioso, andou rápido até a sala de televisão. Escutou um barulho do que parecia ser Maroon 5, que ele comprovou ao ver o clipe deles na televisão. E logo em seguida... Cory?
- E aí, cara? - Cory levantou para cumprimentá-lo.
- O que você...? - Leonardo não precisou terminar a frase, ao ouvir a risada de Sparks.
- Vim consertar uma certa merda que aconteceu no meu aniversário...
Leonardo rolou os olhos.
- Você veio DA FRANÇA só pra falar aquela mesma história que a Sammy...
Leonardo calou a boca quando a porta do banheiro abriu.
Caiu instintivamente para trás, olhando com os olhos arregalados para a garota que saiu do banheiro. Ela vestia um vestido rosa claro rodado e simples, sapatilhas claras e estava de cabelo solto. Mesmo assim, Torres não demorou dois segundos para lembrar dela.
Emma. A garçonete.
Claro! ELA!
A menina não precisou abrir a boca para ele se tocar da merda que tinha feito.
- Leonardo? - Cory perguntou, preocupado, e ele chacoalhou a cabeça.
- Me diz que você não... - Leonardo respirou fundo. - Me diz que você não fez o que eu tô pensando que você fez.
Emma abaixou os olhos. Vasculhou algo na bolsa, com as mãos trêmulas, e jogou quatro notas de cem libras na mesa de centro. E a caixinha da pulseira que ele tinha comprado pra Samantha.
- Desculpe, eu...
Leonardo começou a lembrar de tudo que Samantha havia lhe dito.
De cada lágrima que ela tinha derramado e das horas de seu dia que passou tentando entender o que tinha acontecido. Sentiu-se um merda. Um terrorista devia se sentir melhor perto dele.
- MAS VOCÊ... - Leonardo berrou, depois baixou o tom de voz, lembrando de sua mãe na cozinha - O Thomas te parou! A gente te ofereceu ajuda... Você não... COMO?
- Leonardo, calma... - Cory disse baixo. - Ela vai explicar...
- Cara, você não sabe o que eu fiz por causa dessa porra de história! - Torres se descontrolou, e Cory fez uma careta.
- Eu sei o que você fez.
- Olha, eu sei que vocês me pararam... - Emma interrompeu. - Foi tudo muito fácil, mas se vocês não tivessem feito isso, eu teria parado vocês! Eu ganhei quatrocentas libras... Mas nunca consegui usar... Eu juro que não sabia o que estava fazen...
- AH! - Leonardo interrompeu, exasperado. - Que tipo de pessoa aceita uma grana de alguém pra "levar um cara pra despensa" e não sabe o que tá fazendo? Achou que ia ter o que lá? Gremlins cantando? Uma festa surpresa? CARALHO!
A garota escondeu o rosto com as mãos.
- Eu não pensei que isso fosse acontecer, desculpe! - ela disse alto. - Eu não sabia que vocês se amavam! Achei que era uma brincadeirinha idiota e que eu ia ganhar uma grana fácil! Quando eu vi sua cara, quando eu vi o estado dela, eu...
- E PORQUE VOCÊ NÃO DISSE LOGO?
- O Brian, o Ian e o John estavam lá, eles podiam... Sei lá, cara! - Leonardo abaixou o rosto, em silêncio. - Eu recolhi a pulseira quando ela saiu correndo atrás de você. Fiquei mal por dias pensando nisso, e então fui até a casa do Cory. Eu juro que não fiz por mal.
Leonardo chacoalhou a cabeça.
- Tanto faz se você é uma mula e fez isso ingenuamente ou se é o capeta na forma humana - Leonardo levantou a mão para que Cory não o interrompesse. - O que importa é que você me fez perder alguém que eu nunca vou ganhar de novo.
Os olhos de Torres ardiam.
Samantha nunca iria o perdoar. E ela tinha razão, claro que tinha.
- Mas... Ela queria que você soubesse a verdade, não queria? É pra isso que pedi para o Cory me trazer aqui. Agora vocês podem se entender, se você quiser eu falo com ela... - Emma estava visivelmente envergonhada. Leonardo chacoalhou a cabeça.
- Você não sabe o que eu fiz. Você não sabe o que eu disse pra ela. Ela vai me odiar pra sempre.
Cory aproximou-se de Leonardo, dando um tapinha em suas costas.
- Você só vai saber se tentar.

Leonardo largou Cory e Emma em sua casa. Sua mãe o mataria, claro, mas não estava se importando. Sua mente estava a mil por hora, não sabia nem como estava respirando direito. Dirigiu mais rápido do que o considerado aconselhável até a casa de Samantha. Ao andar até a porta principal, parecia que ia desmaiar de tanto nervoso. A caixinha da pulseira estava no bolso do casaco. Se fosse um anel, pareceria até outra coisa. Tocou a campainha duas vezes seguidas, e enfiou as mãos nos bolsos, ansioso.
Talvez Gusta ou a mãe deles abrisse a porta e ele pudesse respirar.
Talvez... Não.
Sammy abriu a porta tomando uma Coca Cola. A cara de espanto dela teria sido hilária, se o momento fosse outro. Torres encarou a camisola cor de rosa minúscula que ela vestia e todos aqueles sentimentos de sempre tomaram conta.
- O Gusta está na Amanda - Samantha disse, empurrando a porta para fechá-la.
Leonardo pressionou a porta para trás, quase fazendo-a tropeçar.
- Eu vim falar com você - disse, baixo. Mal conseguia encarar nos olhos de tanta vergonha.
- Eu não tenho nada para...
- Mas eu tenho - ele disse, a olhando pela primeira vez. Samantha coçou o pescoço, como fazia quando estava desconfortável. - Eu sou um idiota. Me perdoa?
O queixo de Sammy caiu, ela obviamente não esperava por aquilo. O encarou, em silêncio, com uma expressão indecifrável.
- Você bebeu, Torres? - perguntou, e ele riu baixo.
- Não. Nunca estive tão sóbrio - respondeu prontamente. - Sammy, me desculpa, eu sei que devia ter acreditado em você, mas a situação era difícil pra mim, e agora eu sei que...
- Como você chegou a essa conclusão? - ela o interrompeu, cruzando os braços.
- A Emma veio até minha casa com o Cory.
- Quem diabos é Emma?
- A garçonete que... - Leonardo parou de falar. Samantha começou a gargalhar, sarcástica.
- EU NÃO ACREDITO NISSO! - ela gritou, mas ainda rindo. - Você teve que ver a menina que armou com o Brian pra acreditar em mim? - Samantha ficou séria de repente, e Torres engoliu seco.
Podia não ter mencionado Emma. Burro!
- Sammy, por favor, não faça isso... Eu estou aqui pedindo desculpas, eu não consigo ficar sem você... - ele susssurrou. - Esses dias foram os piores de todos. - Leonardo a segurou pela cintura, puxando-a pra frente. - Eu preciso de você. Eu te...
- Cala a boca! - Sammy disse séria, empurrando-o para trás. - Sabe, queridinho... Alguém muito sábio me disse uma vez que nessas horas o amor não vale de merda nenhuma.
Leonardo engoliu seco, aproximando-se de novo.
- Esse cara era um idiota.
- Esse cara É um idiota. - Samantha disse, nervosa. - Você disse na minha cara que NÃO CONFIA EM MIM! E agora vem aqui com essa cara de cãozinho caído da mudança e acha que vai ficar tudo bem? - Ele percebeu que ela tremia. - NÃO VAI FICAR TUDO BEM!
Leonardo queria apertá-la contra si. Queria fazer tudo aquilo que sabia que não ia conseguir viver sem. Ela era tudo pra ele. E dessa vez podia ter estragado tudo pra valer.
- Sammy, por favor... - Leonardo aproximou-se, o pânico tomando conta. - Eu sei que eu não mereço estar aqui pedindo isso, mas... Poxa, se fosse você no meu lugar, você...
- Eu te daria uma chance de explicar. Eu te daria um voto de confiança - Samantha respondeu rapidamente.
- Fácil pra você dizer - ele disse, um pouco alterado. - Não foi você que viu o que eu vi!
Samantha rolou os olhos, nervosa.
- Eu te dei todas as chances do mundo, Leonard! Eu pedi, eu implorei, eu me rastejei... E você simplesmente ignorou isso tudo! Que porcaria de amor é esse? - Samantha o empurrou para trás, nervosa. - Eu não quero ouvir nada do que você tem pra falar, você poderia ter feito tudo diferente... Nós acabamos, Leonardo. - Ela deixou uma lágrima escorrer. - E a culpa é toda sua.
O baque da porta parecia ser muito maior do que realmente foi, pelo menos para ele. Sentiu os olhos arderem, mas não era hora de chorar como uma bicha. Correu em volta da casa, escalando uma árvore, e se jogou na varanda de Samantha, que estava aberta.
Ela deu um grito, pegando um travesseiro e tacando em sua direção, mas esse passou direto e caiu lá embaixo.
- Leonardo! SAI DA MINHA VIDA! - ela gritava, nervosa. - Não era pra eu esquecer que você existe? FACILITE! - Sammy chorava, e Leonardo a segurou pelos dois pulsos, colando seu corpo no dele.
- Não é pra você me esquecer... - sussurrou. - Porque eu amo você. E eu não vou te perder.
Leonardo sentiu os pulsos firmes de Sammy amolecerem, e ela derrubou uma lágrima.
Ele soltou o pulso esquerdo, ainda segurando o outro, e colou seu corpo no dela. Acariciou seu cabelo e rosto, sentindo-a tremer com seu toque. Quando percebeu que ela não ia mais reagir, a puxou de vez para si e soltou o outro pulso. Mordiscou seu lábio inferior, e ela entrelaçou os dedos em seus cabelos, apoiando a outra mão em seu peito.
Em seguida, o empurrou com tanta força que ele bateu as costas contra o vidro da porta da varanda.
- O que você...? - Leonardo perguntou, a voz realmente sentida, como se seu prêmio tivesse sido lhe tirado das mãos.
- Saia do meu quarto. Por favor - ela sussurrou.
- Sammy...
- Você não pode consertar as coisas assim, Torres... - ela disse baixo, limpando o rosto. - Eu não quero saber. Você teve sua chance. E não é um beijo que vai levar embora toda a dor que você me causou.
Leonardo não se aproximou. Sentiu o rosto esquentar, a cabeça rodar, tudo o que fosse de ruim junto. Os olhos marejados de Samantha doíam nele. Como podia ter sido tão estúpido?
Apenas tirou a caixinha da pulseira de dentro do bolso, e colocou na cama. Sammy pareceu surpresa, mas não perguntou nada. Apenas jogou-a de volta, com desdém.
- Mude a tira que tem escrito docinho para baixinha e seu prejuízo não será tão grande.
- Sammy, a Autumn...
- Não quero saber.
Leonardo sorriu, sem humor, com uma tristeza visível.
Caminhou até a varanda e pendurou-se na árvore para descer. Quando chegou lá embaixo, percebeu que não seria assim. Ele simplesmente se recusava a deixar que terminasse assim.
- EI! - gritou. - Sammy!
A menina apareceu na varanda, em silêncio. Ele sorriu largamente. Não estava confiante. Sabia que podia já tê-la perdido. Mas as lágrimas de Sammy, a dor dela... Só provavam uma coisa: ela ainda o amava. E ele não ia desperdiçar isso.
- Eu vou ter você de volta! - gritou. - Eu vou virar essa cidade de ponta cabeça, eu vou fazer o que você quiser, mas você vai voltar pra mim.
- Leonardo...
- Porque nós podemos ser passado... - ele sorriu. - Mas meu futuro é com você. Escreva isso, docinho.

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