Small Bump

Epílogo

POV Camila

Quatro Anos depois.

Entrei no apartamento com o máximo de cuidado que consegui, não estava em meu normal, e também já estava tarde, não queria acordar nem Valentina nem Lauren. Larguei meus saltos no canto ao lado da porta, e as chaves na mesinha do hall de entrada. Me apoiando pelas paredes, consegui chegar até a sala de estar, mas para minha surpresa a TV estava ligada. As vozes insuportáveis e finas dos personagens do Discovery Kids ecoavam pelo lugar, juntamente com a risada tão gostosa e conhecida por mim. Olhei para meu relógio de pulso, que indicava onze da noite. Respirei fundo e segui adiante, já prevendo a briga que Lauren e eu teríamos hoje.

Ela por deixar Valentina até tarde assistindo TV, como sempre.

Eu por ter passado o dia inteiro fora de casa e no final, chegar bêbada.

Nesses quatro anos muita coisa mudou em nossa vida, o casamento que, por muitas vezes eu achei que seria perfeito, de uns tempos pra cá virou um inferno total. Eu trabalhava e estudava o dia inteirinho, apenas chegava em casa a noite, enquanto Lauren fazia o seu máximo na empresa para chegar cedo o suficiente e passar umas horas com nossa filha. Nos dois primeiros anos o nosso casamento foi um mar de rosas, com pouquíssimas dificuldades por causa da minha falta de jeito em seu mãe e esposa, e talvez um pouco imatura, mas seguia bem. De dois anos para cá tudo piorou, a faculdade começou a exigir mais de mim, me fazendo ficar ainda mais ausente. Porém, o meu esforço e dedicação fizeram  com que eu conseguisse meu primeiro estagio.

Aquilo tinha sido ótimo para mim, mas não para a minha vida pessoal.

As brigas em casa começaram a partir daí, eu e Lauren nos distanciamos, malmente nos víamos, e quando víamos sempre brigávamos... E assim como Lauren, consequentemente Valentina se afastou. Ela era mais apegada a minha mulher do que a mim, mas também, eu não podia ajudar, mais passava tempo fora do que com ela. Só que ainda assim com um pouco de dificuldade, eu consegui vê-la crescer e ajudar em sua criação. Ela era uma menina doce, gentil, educada e muito, muito sapeca.

- Mama! – O grito da pequena me trouxe de volta. Cambaleei um pouco pelo susto e me escorei no batente da porta para me dar equilíbrio – Mama você chegou!

Apesar de todas as repreensões para que a pequena não pulasse por cima do encosto do sofá, ela o fez, vindo correndo em minha direção, abraçando minhas pernas com força, como Sofia fazia quando era menor. Olhei para a garotinha abraçada as minhas pernas um pouco brava, não por ela ter me abraçado, afinal, adorava essas recepções calorosas. Mas sim porque hoje ainda é quarta-feira, e amanhã ela acorda cedo, não deveria está a essa hora assistindo TV.

- O que foi mama? – Ela perguntou, soltando-se de minhas pernas, provavelmente vendo a minha cara de poucos amigos.

- Porque você está a essa hora assistindo TV? Sua hora de dormir já passou a muito tempo, você deveria esta em sua cama, de pijama e coberta.

- Eu sei mama. É que eu pedi a mamãe pra ficar acordada até a senhora chegar...

- Quantas vezes eu já disse a você para não fazer isso  Valentina? Você acorda cedo amanhã, sabe que não pode dormir tarde.

- Eu sei, mas é que...

- Nada de "mas"  – A cortei. Não tinha a intenção de ser grossa com ela, e vendo seus olhinhos marejados resolvi me redimir. Ela não tinha culpa de sentir minha falta – Vá para seu quarto, sim? Escove seus dentinhos lindos, vista seu pijama e deite na cama... Vou lá te contar uma historinha daqui a pouco.

Ela apenas assentiu com a cabeça e saiu, fungando. Segui para cozinha, prendi meu cabelo em um coque frouxo e liguei a torneira, molhando minhas mãos e passando em meu rosto em seguida, numa tentativa falha de me acalmar um pouco. Quando virei para ir pro quarto dei de cara com minha esposa, me olhando como um cão raivoso; suas narinas estavam infladas, seu peito subindo e descendo, os olhos em chamas e os punhos cerrados. Me encolhi um pouco, me encostando na pia e a segurando com firmeza. Eram poucas as vezes que Lauren ficava desse jeito, e todas as vezes que ficava assim sempre acabávamos de dois jeitos: brigando feio e transando selvagem em seguida.