Manhã de Quinta-feira

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Manhã de quinta

Era uma manhã radiante de primavera nas vastas planícies de Votorantim, uma cidade pequena no interior de São Paulo. Katy, uma jovem de 26 anos estudante de engenharia, exibia seus cabelos negros recentemente cortados pelos ombros em seu pequeno jardim enquanto seus olhos castanhos apreciavam as flores ao desabrochar, Katy residia em uma modesta casa de 4 cômodos com sua mãe, uma mulher bondosa e gentil, seu irmão, um rapaz inteligente e afável, e sua filha, uma menina de 8 anos de doçura cativante. A pequena possuía longos e dourados cachos, emanando uma beleza encantadora.

Aquela semana havia sido difícil para Katy, há dias estava atormentada por dores intensas em seu dente. Mas aquela dorzinha incomoda iria ter um fim em breve, naquela manhã, ela se levantou, tomou seu leite com café solúvel, sua bebida preferida, deu um carinhoso beijo em sua filha e dirigiu-se ao posto de saúde para uma consulta com o dentista e aliviar as dores. No entanto, ao longo do caminho, percebeu que algo estava fora do comum naquele dia. Inicialmente, pensou ser uma questão meteorológica, pois o céu estava sombrio e as ruas desertas, sem sequer uma brisa ou o habitual ruído de carros e motocicletas passando.

"Que estranho..." sussurrou Katy, mas prosseguiu em sua caminhada até o posto de saúde. Ao se aproximar, ouviu um ruído vindo do lado esquerdo da rua. Embora pudesse simplesmente ignorar e seguir adiante, sua curiosidade não permitiu tal atitude. Ela se aproximou lentamente daquela moita e a moveu cuidadosamente para o lado.

"Jesus!", exclamou Katy com uma expressão de desagrado. Um gato devorava um rato naquele lugar. Ao ouvir o barulho dos arbustos se movendo, o gato ficou irritado com Katy por espioná-lo e ameaçou morder. Com um ar de brincadeira, Katy sorriu e disse:

"Um gato! Um grandalhão e mal-humorado! Como se eu fosse roubar sua refeição saborosa, não é mesmo?"

Katy continuou seu trajeto até o posto de saúde. Felizmente, havia poucas pessoas naquele local, então ela apenas teria que sentar e aguardar para ser atendida. No entanto, o problema de Katy (ou talvez sua sorte) era sua natureza analítica. Simplesmente sentar e esperar era uma tarefa infinitamente tediosa e extenuante para ela. Assim, começou a observar e ouvir as pessoas ao seu redor. Ao seu lado, estava sentado um rapaz de aproximadamente 15 anos, em um estado lamentável. Vestia-se como um típico adolescente, com uma calça jeans escura rasgada, uma blusa cinza e um gorro preto com uma única listra cinza.

O que chamou a atenção de Katy naquele jovem foi o quão mal ele aparentava estar. Profundas olheiras rodeavam seus olhos, sua pele estava pálida como se estivesse queimando de febre, seus olhos vermelhos tremiam de frio. Katy o observava quando ouviu alguns médicos e enfermeiros conversando sobre o assunto:

"Nunca vi algo assim!", disse uma enfermeira loira, de aproximadamente 45 anos, usando óculos e examinando ansiosamente os resultados dos exames.

Do outro lado, um homem de cabelos grisalhos e olhos claros, vestindo-se completamente de branco e com um jaleco com a inscrição "Dr. Johnson Smith", afirmou:

"Tenho 23 anos de profissão e nunca testemunhei algo assim. O sangue parece estar se transformando em água e as células estão se aglomerando, espalhando uma infecção por todo o corpo. Precisamos isolar o garoto, não sabemos do que se trata e nem se é contagioso!"

Uma jovem de cabelos pretos, aparentando ter seus 26 anos, com olhares intensos e trêmulos, passou suas mãos brancas e trêmulas sobre seu longo cabelo e sugeriu:

"Talvez, se investigarmos as causas, possamos encontrar um diagnóstico preciso. O menino mencionou que começou a sentir-se assim depois de ser arranhado por seu gato."

"Raiva?", exclamou Dr. Johnson Smith. "Na semana passada, um homem de 35 anos em Brasília apresentou os mesmos sintomas. Dois dias depois, ele foi levado ao hospital psiquiátrico, diagnosticado como louco por tentar agredir pessoas. Se o que esse homem teve é o mesmo que este menino está enfrentando, não há conexão com o vírus da raiva transmitido por animais. Emily, admiro seus esforços, mas deixe os mais experientes lidarem com isso. Vá cuidar dos assuntos de uma estagiária!"

Katy achou a resposta do doutor um tanto rude, mas apenas observou. De repente, ouviu o garoto bufar, como alguém extremamente irritado. Katy olhou para o lado e perguntou:

"Ei, rapaz! Você está se sentindo mal? Precisa de ajuda?"

Foi nesse momento que o jovem a encarou com olhos vermelhos e vidrados, pele pálida e lábios roxos. O garoto rosnava como um cão furioso. Sem hesitar, ele pulou em direção a Katy. Os enfermeiros intervieram e seguraram o rapaz, colocando-o em uma camisa de força e o levando para uma sala onde planejavam acalmá-lo.

"Ele tentou me morder!", exclamou Katy.

Dr. Johnson afirmou que o garoto havia tentado agredi-la, mas Katy continuou insistindo que ele tentou mordê-la, talvez para evitar complicações. O médico declarou que o menino havia tido um ataque de pânico, mas Katy acreditava firmemente que aquilo era mais grave. Ela não podia acreditar que alguém em pânico agiria como um animal, sem consciência humana.

"_Katy?", chamou a assistente do Dentista Tomás Willians.

"Estou aqui!", respondeu Katy prontamente, dirigindo-se à sala onde finalmente seria atendida e suas terríveis dores de dente seriam aliviadas. A cadeira de couro estofado aguardava sua presença, enquanto a sala de espera, com seus tons suaves e revistas antigas espalhadas, havia criado uma atmosfera de tranquilidade.

Ao adentrar a sala, Katy foi recebida pela amigável assistente, cujo sorriso gentil era reconfortante. O ambiente clínico, com seu odor peculiar de antisséptico, a deixou um tanto inquieta, mas a perspectiva de finalmente resolver o incômodo dental a motivava.

O Dentista Tomás Willians era conhecido por sua habilidade e cordialidade. Seu consultório, meticulosamente organizado, transmitia profissionalismo e conforto aos pacientes. Enquanto realizava a avaliação, o dentista explicava detalhadamente o procedimento a ser realizado para aliviar a dor de Katy. Cada ferramenta parecia ter um propósito específico e cada movimento do dentista era preciso e cuidadoso.

Durante a consulta, o som suave do aparelho de ar-condicionado se misturava ao zumbido dos equipamentos, criando uma espécie de melodia peculiar. Katy tentava se concentrar na explicação do dentista, mas sua mente continuava revisitando a cena perturbadora no posto de saúde.

Após o procedimento, Katy sentiu um alívio imediato. Agradecendo ao dentista e à sua assistente, despediu-se com um sorriso de gratidão. Porém, ao deixar o consultório, um sentimento de apreensão e inquietação ainda a acompanhava.

Ao retornar para casa, cada passo parecia pesar mais que o usual. O sol, agora baixo no horizonte, tingia o céu de tons alaranjados, criando uma atmosfera melancólica. Os sons da cidade ao entardecer preenchiam o ar, mas a mente de Katy estava repleta de pensamentos sobre o incidente com o garoto no posto de saúde.

O trajeto de volta para casa parecia mais longo do que o habitual. Cada esquina, cada movimento ao redor, fazia-a recordar a estranha reação do garoto na sala de espera do posto de saúde. Ela tentava desesperadamente se distrair com o cenário ao redor, mas até as folhos no chão ao se movimentar com a brisa do vento traziam a imagem do jovem se transformando em uma criatura irracional em sua mente.

Chegando em casa, o aroma familiar do jantar preparado por sua mãe preenchia o ambiente. Sua filha corria animada pelo único e curto corredor, ansiosa para contar sobre seu dia na escola. Katy tentou sorrir e se envolver na conversa, mas a inquietação persistia.

Após o jantar, ao se recolher para descansar, Katy revivia mentalmente cada detalhe daquele estranho episódio. O medo pairava no ar, misturado com a curiosidade e a sensação de que algo perturbador estava acontecendo. Mesmo exausta, ela não conseguia afastar esses pensamentos de sua mente.

Deitada em sua cama, sob o tênue brilho da luz da lua que se filtrava pela janela, Katy refletia sobre o que presenciara. A incerteza e a sensação de algo estar errado a mantinham acordada. As sombras dançavam nas paredes enquanto ela tentava desvendar o que presenciara naquele dia, desejando que tudo fosse apenas uma impressão equivocada ou um evento isolado.

No entanto, a atmosfera sombria persistia, e Katy adormeceu com um turbilhão de pensamentos, esperando que o amanhecer trouxesse respostas para suas inquietações.

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