Cap.8

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Laila sempre fora minha melhor amiga. Mesmo assim, nunca esperaria que já soubesse de meu "desmaio" do dia anterior.

__Mas como você desmaiou? __ perguntou de fato curiosa ao telefone.

__Senti uma tontura no quarto da Melisse__ respondi, omitindo grande parte da verdadeira história.

__Não sou formada em Medicina, mas sei que não é uma explicação válida, Diana.

__Muito bem. Se me deixar ir até sua casa e dormir pelo menos meia hora, te conto tudo o que precisa saber.

O silêncio que veio a seguir deixou claro que ela não havia entendido meu pedido. Ouvi seu suspiro do outro lado, expressando seu cansaço.

__Tudo bem. Só não vale babar na minha cama, ok?

Sorri até as orelhas. Finalmente faria algo normal com minha vida.

Verifiquei se a fada causadora de meus problemas estava na cama, me virei respirando fundo e comecei a descer as escadas. O ambiente calmo e o frio de Cambridge me acalmava de uma forma indescritível. Afundar meus passos na neve pela manhã me trazia lembranças do dia anterior. Chacoalhei a cabeça tentando afastar os pensamentos. Ainda faltava tempo para que chegasse até a casa de Laila.

Observei os telhados cobertos de neve e o branco sem vida espalhado pela cidade. Eu nunca conseguiria viver em um lugar assim durante as quatro estações. O branco sempre teve sua beleza, porém ela era perigosa quando sugava nossa alegria.

O dia parecia acabar com a pouca energia que me restava. Os meus passos falhavam por conta de meu sono e o frio não me auxiliava a me sentir melhor. Em cinco minutos chegaria até a casa de Laila, mas meus pés doíam e eu tremia de frio e de fraqueza. Me lembrei que não havia comido.

Comecei a pensar em Melisse e Amy. Afinal, como as duas não perceberam minha ausência? Mesmo eu estando desacordada, elas não se preocuparam em momento algum com meu estado? Tudo parecia anormal e suspeito demais. Seria algo a perguntar para Sia mais tarde.

Sia não existe, Diana. Você está delirando!

Finalmente cheguei ao meu destino. Toquei a campainha e logo minha amiga já abria a porta. Ela abriu um sorriso quando viu meu rosto. Tentei retribuir o gesto, mas o sorriso saiu torto e forçado.

__Senti sua falta__ disse Laila me abraçando forte por alguns segundos.

__Também senti a sua__ respondi-a

Com um gesto ela me convidou a entrar, e não hesitei em sentar em sua poltrona aconchegante. Senti um leve desconforto em minha perna. Pensei ser por conta de algum adereço da calça.

Laila fechou a porta e se sentou em outra de suas poltronas. Parecia realmente feliz com minha presença.

__Como vai Amy?__ perguntou ela ainda sorrindo.

__Está bem, dentro do possível. Mesmo me deixando sem comer após dormir por um longo tempo sem ingerir nada.

__Ela não lhe ofereceu comida?__ questionou ela, indignada.

__Bem, ela me ofereceu lavar a louça do jantar da noite de ontem.

Laila se levantou e correu em direção à cozinha. Esperei calada. Em instantes ela retornou com duas canecas de café com chantilly. Não pude conter minha felicidade ao ver algo que pudesse encher o meu estômago e me esquentar ao mesmo tempo, além de ter um sabor delicioso.

__Você não tem nem ideia do quanto eu precisava disso__ disse, já com um bigode de chantilly.

Laila sorriu por segundos, mas ao perceber o quão fraca eu estava, resolveu assumir uma postura mais séria e ir diretamente ao assunto.

__Vamos ao que me prometeu, Diana?

Respirei fundo, tentando encontrar uma história bem elaborada que explicaria um desmaio que me levou a "dormir" por quase dois dias. Não existia nenhuma explicação plausível. Mesmo sem ideias, qualquer história sem pé nem cabeça seria mais aceitável do que o que realmente havia acontecido.

__Eu não...não sei como aconteceu. Esta é a verdade.

Laila ainda me olhava séria, esperando minha explicação. Passou cerca de meio minuto apenas me encarando, e eu sentia uma pressão enorme sobre mim.

__Fale sério Diana. Preferiria que você me relatasse uma viagem dimensional até um mundo mágico do que simplesmente dizer que não sabe o que de fato aconteceu.

Um arrepio percorreu minha espinha quando ela me disse isso. Ela sabe. Vai me internar em um hospício.

Tentando me acalmar, observei a expressão dela e reparei que não se tratava disso. Foi apenas um exemplo que coincidiu com a realidade. Mas ela ainda queria uma resposta.

Senti o desconforto em minha perna novamente, e passei a mão pelo bolso de trás. Fadinha filha de uma égua!

Puxei-a delicadamente por trás de mim, e a escondi na lateral da poltrona. Laila ainda estava olhando para o meu rosto, e eu torcia para que ela não tivesse percebido.

__Vamos Diana, __ela quebrou o silêncio__ conte-me.

__Eu não tenho o que contar. Vim até aqui para descansar.

__Ah, fala sério! Você dormiu por um dia e meio e veio até aqui descansar?

Parei de respirar, piscar, me mexer. Todo e qualquer movimento involuntário parecia agora controlado por mim. Não aguentei prender o fôlego por muito tempo, e comecei a respirar lentamente e disfarçadamente, tentando me acalmar.

__Ou... não dormiu?

Não pude evitar. Minha respiração se tornava ofegante e meus olhos estavam inquietos.

__Tenho que ir. Foi bom te ver, Laila.

Deixei o resto do café em cima de uma pequena mesa da sala de decoração retrô e enfiei a fada de volta no bolso. Andei apressadamente até a porta e senti minha amiga me agarrar pelo braço.

__Aonde pensa que vai? Você me prometeu!

Olhei-a incrédula. Laila não parecia-se mais com minha melhor amiga, que sabia quando eu me sentia desconfortável e que respeitava isso. Parecia agora com todas as pessoas que não se importam com os sentimentos do próximo, e que eu sempre tento manter uma boa distância.

Talvez seja por isso que tenhamos nos distanciado.

Soltei meu braço de suas mãos, virei as costas e não hesitei ao caminhar na direção oposta de sua casa, sem rumo algum.

__Você ainda vai me contar esta história direito, Diana! __gritou ela na rua deserta.

Caminhei para longe, em meio ao vazio das ruas brancas. Quando já estava distanciada o suficiente, retirei de meu bolso a causa de toda esta reviravolta repentina na minha vida. Analisei o pequeno objeto, indignada com seu tamanho e seu poder extraordinário.

Olhei em minha volta à procura de algo com o que me distrair no frio. Não havia percebido, mas estava agora em frente à casa de Godric. A tentação de entrar e desabafar eram maiores do que o orgulho. Mas eu não podia. Deveria guardar meu segredo para mim, ou acabaria em um sanatório em questão de dias.

Não pude evitar: já não controlava mais minhas pernas e pés, e me vi atravessando a rua e logo apertando a campainha de Godric.

Esperei tensa, por alguns segundos. A neve começou a cair e me senti aliviada de estar embaixo do telhado de sua varanda.

A porta se abriu e minha postura se tornou séria, e eu me senti tensa. Porém vi os olhos azuis e o sorriso de meu amigo, e tive a certeza de que ali eu era bem-vinda.

Involuntary : e se seus sonhos se tornassem realidade?Onde histórias criam vida. Descubra agora