Lembranças da terra do Nunca

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---------------------------------------Na terra do Nunca, algum tempo atrás
Entre um intervalo e outro dentro daquela jaula, Peter dizia que podia me tirar se eu fosse comportada. É claro que eu não era. Só que, pouco a pouco, Peter me fez acreditar nisso. Toda vez que eu concordava com ele "Olha só, mais um ponto Wendy", e toda vez que eu respondia sendo mal educada "Isso vai lhe custar um ponto a menos, pra sair daqui". Uma vez ele tirou dois pontos, porque cuspi na cara dele, quando ele começou a falar dos gêmeos. De qualquer jeito, era óbvio pra qualquer um que aquilo não era sério. Peter nunca me deixaria sair dali. Pelo menos era nisso que eu acreditava, até que um belo dia ele abriu a jaula "Tem uma hora pra fazer o que quiser. Não conseguirá sair da ilha. E se ao menos tentar sair, ficará na jaula por toda a eternidade."
Eu olhei pra ele assuatda. De cara não acreditei. Ele não parecia estar brincando, mas será mesmo que eu podia, finalmente, sair? Assim, sem motivo algum?
-Parabéns por ter acumulado 100 pontos.- ele disse sorrindo. Só então acreditei nele e sorri. Sai correndo em círculos, e Peter só ria da minha cara. Corri até ele e o abracei forte."Muito obrigada"- sussureei. Ele parecia sem reação., mas eu nem liguei. Eu estava feliz demais mais para isso. Primeiro, saí vendo os meninos perdidos. Eu queria dizer "Como cresceram!" Mas eles continuavam iguais.
Sai na ilha, mas tudo continuava o mesmo, como se nem um segundo tivesse se passado nos anos que fiquei na jaula. Brinquei de pega-pega com todos. No pique-esconde, percebi como estava ágil em me desviar das plantas pegajosas e venenosas. Estava tudo igual. Até o laço que amarrei no alto de uma árvore, fingindo ser o mastro do navio pirata numa brincadeira do meu time de piratas contra o de Peter(os piratas eram os meninos perdidos), ainda estava lá.
Corri até a lagoa das sereias. A maioria não ia com a minha cara, nem eu com a delas, mas algumas eram minhas amigas. Me senti feliz em revê-las e poder nadar com elas. Apesar que, de vez em quando, escutava coisas como "Estava melhor sem você", "Volta pra jaula, cópia mal feita de Eva" e outras coisas assim.
Quando voltei, pra clareira, nem me lebrava mais que teria que voltar pra jaula. Quando me dei conta disso, fiquei triste, mas pude ter uma ponta de esperança que talvez um dia, pudesse sair verdadeiramente. Isso me consolou. Me comportei direitinho a partir dessa hora. Peter disse que eu tinha demorado bem mais que uma hora, senti medo de perder meus pontinhos (agora) valiosos, mas ele pareceu não se importar, já que me deu um presente. Era um baú. Ele disse que quando eu conseguisse abri-lo, estaria solta. Aí é que está. O baú não abria de jeito nenhum.
-Como abrirei isso daqui? ? Não abre!
- Desvende o segredo do baú, e estará livre da maldição.
-Maldição?- perguntei sem entender. Pan pareceu indiferente.
-Não era você mesmo que chamou a Terra do Nunca de amaldiçoada?
Eu suspirei. Terra Amaldiçoada. Eu estava com muita raiva no dia que disse isso, que coisa louca. Eu amo a Terra do Nunca. E, se dependesse de mim, nunca mais sairia dali(caso eu pudesse ver minha família quando quisesse e estivessse livre dentro da ilha). De qualquer jeito, não parecia daquele tipo de maldição que Peter estava falando, mas nem comentei. O que estava ocupado meu pensamento era "Como abrir o baú? "
-Ta, mas como abrirei o baú?
Peter olhou fundo nos seus olhos. Ele falou como se já tivesse decorado, por ler/ouvir muitas vezes:

- A chave do baú irá se revelar
Descubra, desvende como encontrar
Deve estar atenta quando procurar
O mais miúdo momento é o certo para achar

E deve se recordar
Não se esqueça dessa peça
A chave irá te libertar
Quando você se reencontrar

O mais propício lugar
Sempre é o seu lar
E se se perder na desnorteada mente
As árvores mais antigas sabem de tudo claramente


Eu estava encantada com as palavras, mas quando Peter acabou ele só seguiu seu caminho. Quando estava quase no adentro da floresta virou-se pra mim e disse baixinho:
-Boa sorte, Wendy. Eu confio em você.
E aí, eu entrei na minha jaula. E ouvi o click de que alguém havia trancado ela de longe...

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