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Novo Dia | Velhos Amigos.

Ele arregalou os olhos e depois disse :
-Como é que isso aconteceu?
-O quê?
-A amnésia?
-Sinceramente eu nem sei bem...quer dizer o meu marido disse me que eu era engenheira e que quando tinha ido ver uma obra que me tinha caido uma cena em cima. Mas descobri que não era engenheira por isso ele mentiu me e eu não sei como é que aconteceu.
-Espera...marido?
-Sim.
-Desde quando é que tu tens marido! ?
-Desculpe mas nós conhecemos nos, sim ou não ?
-Sim. Conhecemos-nos muito bem.
Senti um vazio no estômago e não consegui responder nada.
-Lúcia...Tu desapareceste à um ano. E não eras casada. Aliás estas muito diferente do que eras.
-Eu estou a ficar muita confusa com o que me estás a dizer...
-Eu explico. Desapareceste à um ano. Tu estavas meio doente mas mesmo assim continuavas a trabalhar no teu projeto da amnésia. Um dia saiste daqui às tantas da noite, lembro me de te ter perguntado se querias boleia mas tu foste sozinha. No dia a seguir não apareceste nem no outro. Nem durante uma semana. Eu estranhei e fiquei muito preocupado porque tu eras super obcecada pelo teu projeto. E dai a um mês chegou nos a noticia da morte de uma rapariga que tinha cabelo comprido escuro, que se despistara às tantas da noite num Mercedes preto tal e qual o teu. A única coisa que não nos dava a certeza de seres tu era mesmo não haver matrícula porque tirando isso...
-Desculpa mas...eu não te conheço, ah...eu não percebo o que estas para aí a dizer!
-Achas que todas as desconhecidas que entram aqui eu lhes peço que venham comigo a explanada e lhes digo o que te disse? Não! Lúcia tu trabalhavas aqui! Comigo e com a Sindi, durante anos, somos amigos desde a faculdade, tens de te lembrar de alguma coisa!
-Sindi...? Esse nome...
-É o nome da tua melhor amiga! Por favor, diz me que queres falar com ela.
-Onde é que ela está?
Ele encaminhou me até ao elevador e depois carregou no botão do andar -3.
-A... tenta não puxar muito por ela porque ela ficou muito abalada...o laboratório dela era ao lado do teu e trabalhavam quase sempre juntas mas quando tu supostamente morreste ela não quis aceitar e quando aceitou mudou muito...o primeiro passo foi vestir se sempre de preto e o segundo foi passar a trabalhar com tecidos tóxicos...mudou-se cá para baixo e nunca mais sorriu...tu e ela tinham uma relação muito forte. És amiga dela desde o 4 ano....por isso. Têm calma com ela.
-Ok...
Quando chegamos ficamos num corredor muito escuro e depois dirigimo nos a duas portas fechadas, escuras e estranhas.
Nelson bateu a porta e ao fim da quarta vez de não obter resposta uma rapariga vestida da cabeça aos pés de preto abriu a porta:
-Que foi? - disse rispidamente.
-Sindi... é um tema delicado.
-Vá pouca me a essa merda, é importante ou não? Não tenho tempo para as tuas coisas. -olhou para mim - quem é essa ?
-É sobre ela o assunto...
-Não a conheço e não percebo onde queres chegar.
-Sindi...está é a...Lucy...
A rapariga olhou para ele furiosamente e inesperadamente deu lhe um estalo.
-MAS TU ACHAS NORMAL VIRES ATÉ AQUI A BAIXO CHATEAR ME COM ESTAS PIADAS?
-Sindi não estou a brincar! É mesmo ela! Olha para ela com atenção ! Não a reconheces ? Eu vi as impressões digitais dela Sindi... tu sabes que é ela...
A rapariga olhou me durante uns bons segundos e ainda meia cética disse me:
-Mostra me o teu ombro esquerdo.
Olhei para ela mas ela falava muito a sério, e então acabei por o fazer...
-A cicatriz...Lucy és mesmo tu! -disse enquanto levava a mão à boca e quando algumas lágrimas lhe surgiram nos olhos. - eu não  acredito acredito...

Assim o fizemos. Passado cinco minutos ela acordou.
-Sonhei...Lucia...
-Não. Foi real.
-O quê!
-Sim.
Depois disse:
-A...olá.
-És mesmo tu, Lucy?
-Sim...acho que...sim.
-ACHAS!?
-Calma Sindi.
-Chiu Nelson.
-Eu tenho amnésia...e é tudo muito confuso para mim também. Mas eu tenho aquela marca. Porque é que tens os olhos violeta?
-Tu não sabes?
-Não. ..
-Nós fizemos uma experiência...e quando pensamos que aquilo estava desativado, despimos as proteções para irmos embora. Mas foi quando estavamos desprotegidas que aquilo se ativou e explodiu para cima de nós. A ti caiu te em cima do braço e a mim foi na cara. Nós podíamos ter ficado sem isto mas...como não era grave tu sugeriste que a gente ficasse assim como símbolo da nossa amizade.
-Eu...lembro me disso!Sim! Eu lembro me da explosão! Montes de liquido roxo! Agora faz mais sentido!
-Lembras te?
-Sim...não sei como, mas lembro!
-Como é que ficaste assim? Porque é que desapareceste! ? Tu não sabes como é que eu fiquei...ao fim de três meses tive de desistir e acreditar que tinhas morrido. Eu não queria! Mas...
-Eu não sei como aconteceu... o meu marido andou a mentir me...ele disse que eu estava assim há dois anos, que era engenheira e que me tinha caido uma coisa em cima...mas está a tornar se óbvio que não era mesmo engenheira por isso provavelmente não me caiu nada em cima.
-MARIDO?!
-Chiu! Fala mais baixo Sindi. Ela diz que se casou à dois anos.
-Isso é mentira. Desapareces te o ano passado e não eras casada!
-Mas foi o que ele me disse.
-Quem é ele?
-Não sei.
-Não sabes?
-Não...quer dizer vi o esta manhã ele disse me quem eu era e o que se tinha passado e depois disse que tinha que ir trabalhar e deu me um calmante e eu fiquei imóvel durante 15 minutos a olhar para o teto que tinha colado uma série de fotos de nós no casamento e de mim com amigos...mas não havia ninguém familiar e tenho a certeza que vocês não estavam nas fotos.
-VÊS
-Calma Sindi!
-Desculpa. Vês! Isso é uma prova que ele é um mentiroso! Eu de certeza que apareceria nas fotos!
-E também é muito estranho que ele não tenha dito quem era.
-Não mas ele disse o seu nome e a sua idade, mas não e lembro como é que ele se chama só acho que tem 28 anos porque eu tenho 25 e lembro me de ele ter mais 3 anos que eu.
-25?
-Sim.
-Mas tu não tens 25 anos.
-Como assim não tenho 25 anos?
-Tu só tens 23 anos.
-Mas porque é que ele de havia de me mentir na idade.
-Realmente não vejo muito sentido.
-Sindi, Lucy vocês não percebem?!
Ele esta a aproveitar a tua amnésia para criar um mundo paralelo. Se tu não sabes nada ele pode facilmente criar um mundo fictício!
-Isso explicaria as mentiras.
-Não é só isso Sindi! Ele quer acabar com toda a tua orientação, até te engana nos dias e nas horas!
-Meus deus que homem é esse ela...
Nelson olhou de forma a calala e ela procegui o.
-Ela...não tinha nenhum namorado!
-Eu não sei quem é...
-Pois a gente sabe.
-Tou cheia de fome...
Quando a Sindi falou em fome lembrei me que tinha que fazer o almoço ao meu "marido "
-Tenho de ir para casa!
-Pk?!
-Pk ele não sabe que eu sei disto! Ele nem sequer pensa que sai de casa e queria basicamente que eu fizesse o almoço!
-Olha onde moras?
-Não sei! A morada...mas lembro-me do caminho.
-Ok vais me dizendo o caminho...e eu sempre fico a saber onde moras.
-Para que é que queres saber onde eu moro?
-VIVES COM UM TOTAL ESTRANHO! O QUE É QUE NÃO PERCEBES?!
-Sim. A Sindi tem razão.
-Ok vocês tem razão...
-Vamos.
Fomos para o elevador e descemos até -1. Depois dirigimonos até um BMW X6 branco, lindo!
-Uau o teu carro é mesmo muito giro.
-Sim eu ganho bem...tu também ganhavas...
-A sério? Quanto é que eu ganhava?
-Ganhavas por volta de 10 mil euros.
-POR ANO?!
-Não por mês.
-NÃO PODE!
-Sim pode.
Depois seguimos e saímos do edifício e com as minhas direções chegamos à "minha casa".
-Bem parece que cheguei...
-É esta a casa?
-Sim...
-O teu marido também deve ganhar bem...que carro é que ele tem?
-Não sei...
-Esta noite venho cá.
-Ham!? O que é que cá vens fazer?!
-Venho tentar ver a cara do tipo com quem te deitas na cama.
-Disseste isso de uma forma estranha...seca...
-Aaa...ai disse?! Esquece não foi por nada. Vá beijinhos! Não te esqueças de gravar um vídeo para não te esqueceres de nós.
-A partir de agora nunca.
Havia um estranho clima entre nós...
Saí do carro e abri a porta de casa.
Estava fria e sombria e agora mais do que nunca assustava-me (nunca ...desde de manhã...nunca e sempre não existem para mim).
Fui ao livro de receitas e fiz uma salada com frango e uns outros quantos ingredientes.
Depois fui para o quarto e vesti o pijama arrumando a outra roupa como se nunca a tivesse usado.
Mal desci as escadas a porta abriu-se e entrou um homem moreno, bem vestido e bem sisudo. Deu me um arrepio mal entrou.
-Bom dia.
-Bom...bom...dia.
-Estás mais calma. Isso é bom. O que fizes te para o almoço?
-Uma salada com frango...milho...queijo...
-Sim já percebi.
-Ok.
-Não vais descer as escadas?
-Vou?
-Tens medo de mim?
-Não...
-Parece.
Desci as escadas e dei lhe um abraço e um beijo na bochecha. Não sentia nada. Era um beijo vazio e sombrio.
-Estás linda.
-Estou de pijama.
-Eu sei.
Fomos para a cozinha e começamos a almoçar.
-O que é que fizeste hoje?
-Isso é uma pergunta estranha de se fazer a uma amnesica não achas?
-Não.
-Em que é que tu trabalhas mesmo?
-Não respondeste à minha pergunta.
-Não fiz nada.
- Passaste a manhã toda sentada no sofá a olhar para a televisão?
-Não.
-Mais uma vez o que fizeste de manhã?
-Então andei pela casa vi as coisas, li o livro que me destes...estive na rua a olhar para o céu...
-Só isso?
-Sim.
-A que horas?
-Sei lá!
-Se demoraste pelo menos uma hora em cada coisa estiveste 2 horas sem fazer nada.
-Eu não sei ao certo o que andeia a fazer! Mas isto é um interrogatório ou quê? !
-É.
-Então fazes isto todos os dias?
-Sim.
-E posso saber porquê? !
-É importante para fazer uma média do teu desenvolvimento psicológico.
-Hum...

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