CAPITULO 1

168 21 6
                                    

"Autocarro"

(14 anos depois)

Acordo com o barulho mais irritante á face da terra. Inutilmente agarro na almofada e coloco-a agressivamente por cima da minha cabeça. Este esforço para tentar que aquele som não me desperte foi em vão, porque de certa forma já estou meia acordada. Por fim como já sei que aquele barulho ensurdecedor não vai parar, estico o braço e procuro o despertador. As cegas apalpo a mesinha de cabeceira, encontro o relógio swatch, o elástico, e finalmente o meu inimigo matinal. Desativo-o e aquele bip-bip desaparece deixando o meu quarto no profundo silencio. Coloco a almofada como inicialmente estava, e volto a dormir.

Acordo com o meu pai a chamar-me:

- Clare! Clare! Anda lá. Levanta-te! Olha que ainda perdes o autocarro.

- Vou já - e viro-me puchando os lencóis ainda com mais força.
Não sei quanto tempo estive assim, mas estava quase a adormecer novamente quando ouço o meu pai de novo:

- Vais perder o autocarro! Vá!O pequeno almoço já está na mesa.

A todo o custo lá me levanto e a primeira coisa que faço é abrir as persianas, lá fora vejo os carros a passar. Coitadas daquelas pessoas tiveram que se levantar ainda mais cedo que eu. Abro a janela de vidro para ver a temperatura, está quente, por isso hoje posso levar calções. Vai ser o primeiro dia deste ano, agora que o verão está quase a chegar, as temperaturas começam finalmente a subir.


Fecho a janela e visto-me rapidamente. Corro para a cozinha onde o meu pai já acabou o pequeno-almoço. O relógio marca 8:05, tenho menos de quinze minutos antes que perca o autocarro. Como apressadamente o pão com queijo e bebo o sumo de laranja de uma só vez. São 8:09, só me falta fazer o malote para a educação física.

- Clare! Já estou a tua espera! - grita-me o meu pai á saída do apartamento - Vou andando para o carro.

Enquanto o ouço procuro as sapatilhas do desporto, não sei onde as pus. Agarro no relógio, ainda pousado na mesinha de cabeceira, e vejo que já são 8:13. Tenho que sair já! Paciência faço desporto com as sapatilhas normais. Agarro na mochila e no malote e saio de casa. Desço o elevador e corro até a rua onde o meu pai está novamente á minha espera dentro do Toyota preto.

-És sempre a mesma! Parece impossível! Porque não te levantas logo? Escusavas de andar a correr.

- O despertador hoje não tocou. - dou a primeira desculpa que me vem à cabeça para tentar justificar-me.

-Hoje não tocou? Ai esta é nova . - ironiza ele enquantoesboça um sorriso - Pensei que fosses dizer como ontem, que tava sem pilhas.

Esboço-lhe um sorriso e olho para a fila de trânsito.


O meu pai é um homem com 48 anos, alto, bem constituído. Já com alguma falta de cabelo onde já se havista cabelos brancos. Para a idade que tem acho que só o cabelo é que o denuncia, pois de cara não possui uma única ruga ou sinal. Ele é fantástico, e apesar de já ter passado por muito continua a ser o melhor pai do mundo. Quando me adotou juntamente com uma mulher, cujo nome já nem me lembro, levaram-me para uma casa grande com piscina. Acho que era alugada, nessa altura o meu pai trabalhava como gerente de um banco. A mulher com quem ele estava junto era engenheira numa empresa prestes a falir. As semanas foram passando e acho que ela recebeu uma proposta de emprego muito boa na Polónia, para a construção de uma barragem. Não tenho bem a certeza ma acho que foi esta a razão pela qual eles se separaram, eu fiquei a viver com o meu pai, mudámos para um apartamento e depois disso nunca mais falámos dela.

os últimos 5Onde histórias criam vida. Descubra agora