"Paredes de fumo"Um enorme calor invade-me o corpo. Agora já não ouço nada, um profundo silêncio paira no ar. O mesmo ar que parece aquecer cada vez mais. Tento levantar-me, mas mais uma vez sinto a cabeça latejar. Decido permanecer deitada e deixar o tempo passar. Aos poucos vou me sentindo melhor, já consigo sentir as forças regressarem. Por fim quando o calor já quase que me sufoca abro os olhos e levanto-me com cuidado.
Tudo o que vejo é uma névoa cinzenta, tanto as paredes como o teto estão cobertos daquela espécie de fumo. Olhando com atenção consigo distinguir algumas cores, sim, cores que estão a rodopiar mas que á primeira vista parecem ser cinzentas. Vejo tons de azul oceânico, carmim, verde alface, laranja, e preto. Todas elas se assemelham a pequenas manchas de tinta voadoras que se dissipam no ar como fumo mas que cobrem as paredes.
O calor continua a aumentar. Puxo a t-shirt para cima até ficar ao nível do nariz a fim de evitar respirar esta atmosfera fumarenta.
- Onde é que eu estou? – murmuro para mim mesma, pois só agora me apercebi que não faço a mínima ideia de onde estou ou de como fui ali parar.
Estudo com atenção este local. Para além das paredes e teto, também o chão é feito por aquela nuvem de cores. Ao andar parece que vou cair, como se o solo não estivesse realmente lá. O que pensando bem talvez não seja assim tão estranho, talvez esteja a caminhar sobre uma nuvem ou os meus passos sejam amortecidos pela densa camada de fumo.
Passaram-se talvez 30 ou talvez apenas 2 minutos em que percorri a neblina, o facto é que não tinha noção do tempo passar, quando as paredes começam a estreitar, numa espécie de túnel. Percorro o corredor onde agora as paredes, chão e tecto já não estão envoltos da névoa colorida, dando lugar ao que me parece ser rocha branca.Ao aproximar me do fim, consigo distinguir uma forte luz. Caminho em direção a ela como que atraída por um íman. Quanto mais me aproximo mais quente e pesado fica o ar.
Começo a correr sem razão aparente, apenas com o intuito de que ali fosse a saída. Num momento estou a correr, e no outro dou por mim no chão. O mais certo é ter tropeçado num dos atacadores e ter caído. Ao levantar-me sinto o sabor a sangue e reparo em três pequenos pingos vermelhos no chão branco, levo instantaneamente a mão á cara. Fico horrorizada ao perceber que é sangue. Tiro o casaco e coloco-o á frente do nariz para tentar estancar a hemorragia.Tenho mesmo azar, nem acredito no que me está a acontecer hoje. Estou sei lá onde, não sei como é que cá vim parar e ainda por cima, não sei como sair daqui. E eu hoje de manhã ainda dizia mal da minha sorte por estar a dar trigonometria…
O tempo parece passar infinitamente devagar, mesmo agora continuo sem ter a noção de quanto tempo passei sentada no chão. Observo as paredes brancas. São de um tipo de rocha com pequenos cristais reluzentes. Quando dou por mim o sangue já parou. Ao retirar o casaco azul vejo enormes manchas encarnadas. Pego nele com a mão e continuo a andar apressadamente até chegar ao fim do corredor.
A entrada repentina cega-me, tal como acontece quando tiramos uma foto com flash. Demoro uns minutos a habituar-me á claridade. Estou numa sala como nunca tinha visto antes. Toda a divisão emite luz. Luz essa que provém de várias chamas suspensas em redor das paredes. O calor é brutal e quase me queima os pulmões. Fico desiludida por esta não ser a saída.
Sem dar conta, dou alguns paços em direção a uma das paredes. Agora já não tão próxima da entrada consigo distinguir cores dentro das chamas, o centro é negro, e á volta existe verde, azul, uma espécie de vermelho e laranja. Pergunto-me se o fumo colorido da outra sala provém destas chamas, visto que as cores são semelhantes.Sinto o coração bater como nunca, talvez seja do esforço em respirar ou da minha mini-corrida, mas seja qual for a razão deve estar complementada com medo.
Nada disto faz sentido, é tudo tão estranho e surreal, como… como… como um sonho!
Esta ideia surge-me como um relâmpago deixando-me eléctrica e cheia de felicidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
os últimos 5
FantasyClare era uma raparia normal, acordava, ia a escola, estudava... Quando conhece Jake numa visão percebe que afinal a sua realidade vai para além do que sempre acreditou. Ela tem a marca, algo com que já nasceu, mas sempre desconheceu. Se quer perma...