CAPÍTULO 3

160 13 2
                                    

Passaram-se momentos infinitos, em que a dor atigira o máximo. A visão perdeu-se nos primeiros segundos,  e embora desta vez conseguisse ouvir perfeitamente, não tinha controlo de mim mesma.

Tão rápido como começou , também acabou de um momento para o outro.

Ambos parámos de gritar no mesmo instante. Permanecemos deitados, no chão, ofegantes, enquanto tentávamos recuperar o fôlego.
A  minha respiração já está a abrandar, o tremor que sentia no corpo já se começou a dissipar. Tudo indica que estou a voltar ao normal.
Sinto-me esgotada, como se de um momento para o outro me pudesse desfragmentar, quase que conseguiría dormir. Fecho os olhos e deixo-me envolver pelo calor e o suave crepitar das chamas.
Acordo (suponho que adormeci) com o rapaz a chamar-me:

- Ei tas bem? Aleijaste-te?

- Hum? – abro os olhos, vejo-o inclinado sobre mim, os seus olhos verdes (agora  consigo ver que são verdes) encontram os meus. Não sei porquê, mas parecem exatamente os de Beatrice. – Não foi só sangue do nariz.

Pensei que tinhas…

- Que tinha o quê?

Ele olha-me de uma maneira estranha como se fosse uma aberração. Sinto o poder dos seus olhos e desvio o olhar para a minha chama. Fico espantada ao perceber que retomou as cores inicias, talvez a influência que estabeleci com ela seja de pouca duração.

- Nada

Volto a insistir:
- Diz! Pensavas que eu tinha… Anda lá começas te a frase agora acabas.

- Eu não disse nada. – solta um suspiro e também ele olha para o fogo.

- Mas eu ouvi. – Sim tenho a certeza que ouvi

- Pensei que tinhas desmaiado. Depois vi o sangue e não sei. – Ele volta a fitar-me – Mas eu não disse nada.

Se ele não o disse devo estar a ficar maluca. Tas a ficar maluca Clare. Mas eu tenho quase a certeza que o ouvi.

- Não fales como se eu não estivesse aqui. Porque estou! E sim és mesmo maluca miúda!

- Agora quem não disse nada fui eu. Eu só… - apercebo-me então que o pensei, mas não o disse. Tal como aconteceu ainda há bocado, eu pensei naquilo do furacão e ele conseguiu ouvir-me. Como é que isto é sequer possível?

- Então, Clare, estamos os dois a ficar malucos só pode.– o seu tom de voz é áspero e ao mesmo tom de gozo.
  Jamais diria o meu nome a um desconhecido.

- Sou o Jake. – Ele estende-me a mão –Pronto, já não sou um desconhecido. E pára de falar como se não estivesse aqui. Tás me mesmo a irritar.

Fico estupefacta com o que ele me acabou de dizer. Acho que ainda não se apercebeu que a minha boca permanece fechada sem emitir um único som.

- Clare. – estico o braço hesitante

Ambos apertamos as mãos. Ao retirá-las sinto novamente um choque tão suave que mal me apercebo dele. Nesse instante, surge um clarão branco acompanhado com um som estridente que me assusta fazendo-me cambalear para trás. Jake apercebe-se e agarra-me o braco. Após recuperar do susto tento olhar para a fonte de luz.

No centro da sala, a cerca de dois metros de mim,  surgiu um tripé de velhos ramos torcidos, que parece ter nascido do próprio chão. Sustém um prato enorme onde uma chama branca como a neve arde suspensa nele. Esta chama é muito maior e brilhante que as outras, sou obrigada a colocar a mão á frente dos olhos para conseguir vê-la de frente.
Assim que olho todo o meu ser se sente atraído como um íman. Dou por mim a pensar que estou diante da saída. Uma saída pouco convencional mas perfeita. Um misto de felicidade e calma aflora o meu espírito. Esta chama quase que me incentiva para que lhe toque, estando cada vez mais brilhante se é que tal é possível. A brancura é extremamente magnética . As labaredas são como suaves penas perfeitas que ondulam ao sabor do vento. O som é uma sinfonia perfeitamente harmoniosa como nunca antes tinha ouvido.

os últimos 5Onde histórias criam vida. Descubra agora