Á noite, minha mãe preparou um lanche para todo mundo, enquanto sentávamos na sala e víamos um filme antigo que passava no canal. A sorte é que nosso sofá era extenso e dava para todos relaxarem ali.
Apesar de ser um filme bom, eu não estava prestando muita atenção, apenas olhava a televisão com desinteresse enquanto acariciava os fios de Gabi, na qual encostou a cabeça em meu peitoral. Ainda estou com a cabeça naquele sonho, que foi estranho demais a ponto de ficar ali perdido nos meus devaneios.
Senti uma leve pontada de sono, bocejando logo em seguida. Pedi licença e me despedindo da família, enquanto deixei a Gabi deitada no sofá, que a mesma já estava prestes a pegar no sono. Pensei em acorda-la para deitar junto comigo, porém seria bem esquisito sonhar com um cara que o fez arrepiar em um sonho ao lado da namorada dormindo. Prefiro pensar nisso sozinho.
Subi as escadas de forma lenta e preguiçosa, com o som dos meus passos ecoando pela casa. Depois desse dia maluco, eu quero relaxar realmente. Adentrei no quarto, permanecendo com as mesmas roupas e somente tirando o sapato, pois eu estava sonolento demais para tomar banho e por uma roupa de dormir decente.
Fui fechar a janela para ligar o ar condicionado, quando eu ouvi o barulho de passos apressados na rua. Da minha janela, dava para ver a pequena rua asfaltada que servia como um estacionamento para as pessoas que iriam para a praia, por isso minha casa é vista da imensidão de areia. Os passos continuaram, com mais frequência e o som foi aumentando.
Pensei duas vezes antes de fechar quando ouvi um grito masculino. Um homem de estatura baixa, pele bem bronzeada e cabelo raspado, acompanhado de três policiais, procuravam algo por todos os lados. Fiquei com medo que fosse um confronto de policiais e bandidos, pois os três estavam armados e prestes a atirar, seja qual for o movimento estranho.
Tudo ficou ainda mais interessante quando correram para lugares diferentes. O homem mais baixo, que vestia uma camisa social e um jeans escuro, retirou do bolso um pequeno revólver, indo para a direção oposta dos policiais, dando-lhe as ordens para quais caminhos os três poderiam seguir. Eu necessitava de uma pipoca para esses momentos.
Os homens sumiram da minha vista, quando um adolescente magricela surgiu do início da rua, correndo. Ele estava sem camisa, pois ela estava em sua cabeça e cobrindo seu rosto, descalço e com uma bermuda escura. Carregava um saco de supermercado cheio de objetos, contudo alguns caíam conforme corria. Era o ladrão, e pelo porte, estava o reconhecendo.
José Henrique de novo? Esse garoto não para? É, é ele sim.
Em menos de vinte e quatro horas, após levar uma porrada da madrinha dele, o filho da puta não mudou a sua postura. Parece que seus atos de roubar são um vício e não ligava para o que acontecerá por conta disso. Alissa estava certa. O que eu faria se fosse prefeito e tivesse um afilhado ladrão por natureza? E se minha cidade descobrisse que, para ele, roubar é um hobbie? Me tirariam do cargo no imediato.
Acho que agora se sentiu rejeitado por ser despachado para longe de Lótus, somente porque não compreendiam seu "erro". Talvez um psicólogo e algo novo para ele cairia melhor que se mudar para uma cidade grande, porque continuaria roubando e ainda seria preso - ou quase morto - da pior maneira.
Eu não quero que Rick seja morto. De jeito nenhum. Por mais que seja ruim, meu instinto implorava para ir ajuda-lo.
Enquanto o magricela parou, perto da minha porta e prestes a pisar na areia, tentei chama-lo a atenção discretamente, no entanto ele não ouviu. Eu precisava de algo para jogar nele, para que me ouvisse. Foi aí que eu dei uma olhada na mala de Gabi.
Não sei se ela se importaria muito, mas arranquei um pequeno chaveiro de coração do zíper de sua mala. Aquele pequeno objeto era suficiente para atingir uma pessoa e chamar sua atenção, caso eu consiga acerta-lo. Respirei fundo, vendo que ele ainda estava ali perdido, sem ter lugar para fugir, lancei o chaveiro que o atingiu em cheio seu pé. Perfeito!
Rick sentiu o chaveiro em sua pele, olhando em volta até avistar a minha janela, comigo o chamando para entrar. Procurou os quatro homens que o caçava e ,sem pensar duas vezes, correu ao portão. Virei-me para sair do quarto, descendo as escadas correndo e fazendo um barulho alto.
Eu estava pronto para dar uma desculpa ao pessoal da sala, mas apenas Maria Eduarda estava acordada. Essa menina era sagaz demais para inventar uma desculpa decente, mas caso ela perguntasse algo, ficaria no vácuo. A sorte é que permaneceu calada e pouco se fudendo pra mim. Ainda bem.
Abri a porta da casa, caminhando até o grande muro branco onde havia um portão de madeira. Ali estava pouco iluminado, porém consegui abrir aquela porta gigantesca na entrada da minha casa. Pronto, agora só falta disfarçadamente trazer o Rick para dentro sem que nenhum familiar veja.
A primeira imagem que eu me deparei, foi o projeto de ladrãozinho vestindo a camisa que estava no seu rosto com pressa e uma moça jovem andando despreocupada à beira da areia. Eu iria dar a atenção suficiente para ela e informar que saísse da rua onde ocorria uma perseguição, contudo eu estava tão desesperado que puxei Rick para dentro e deixei a moça ali desprotegida.
Fechei a porta com força e o barulho ecoou pela rua toda, talvez isso faça a ela ficar um pouco mais atenta. Peguei a mão dele, puxando para o corredor que dava para a piscina da casa, em silêncio antes que Maria venha.
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The Heart Thief
FanficBernardo Lareia era um tipico garoto, que saiu de ferias com sua mae,sua namorada,sua madrinha e a sobrinha dela. Na cidade de Lotus,eles conhecem Kaio,Alissa,Gabriel... e Rick,que pode mudar a vida de Bernardo para sempre.