Céu e Inferno

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A praça se encheu de pessoas, seus pensamentos e vozes, um zumbido abafado no fundo da minha mente. Ninguém se aproximou de mim enquanto eu encolhia na sombra escura ao lado da torre do relógio. Os humanos me ignoravam, os vampiros assistiam e esperavam.

Mas eu não estava sozinho.

Luto. Arrependimento. Angústia. Profundo sentimento de culpa. Eu tinha muita companhia.

"Não", Bella sussurrou. Em meus pensamentos sombrios, ela era um farol brilhando, iluminando todas as minhas falhas. Ela fez uma cara feia. "Não é culpa sua".

Sim, era. Meu eco mental de Bella podia não acreditar, mas eu sabia a verdade. Eu me perguntava o que ela sentiu naqueles últimos momentos... se ela me amaldiçoou por pisotear seu coração antes de pular para o seu esquecimento.

"Não, esqueça isso", disse ela. Ela fechou os olhos e se virou. "Estou me sentindo extremamente insignificante".

"Você está certa." Eu tinha ignorado a dádiva de sua lembrança por tempo demais. Com tão pouco tempo restante, eu me permitiria uma última indulgência egoísta.

Ergui os olhos de meus joelhos e olhei para a praça, para o reflexo do relógio em uma das janelas. Como Bella, escolhi o momento da minha própria morte. Ao meio dia eu iria passar em direção ao sol na frente de centenas de seres humanos, demonstrando a beleza horrível da minha espécie. Momentos depois, a condenação viria, e eu iria receber bem o fogo. Minhas cinzas seriam varridas; detritos inúteis diante de um vento de limpeza.

Apenas um minuto ou dois restavam do meu tempo neste planeta. O sol brilhava, o instrumento que seria o meu fim. Levantei-me e caminhei até a entrada do beco. A poucos metros do final, eu parei, olhando para a junção de dia e noite nos meus pés. Que irônico que, para acabar com tudo, eu teria que cruzar essa linha de sombra, dando um passo das trevas para a luz. Foi a extinção da luz de Bella que me levou ali.

"Ela está morta, Edward", a voz de Rosalie repetiu, e ouvi um som tom de arrependimento.

Eu pisquei e Bella franziu a testa nesse instante. "O que a perturba?"

"Nem mesmo ela queria você morta, meu amor", eu suspirei, desejando poder tocá-la mais uma vez, mas ela se foi. Apesar de todos os meus esforços...

"Você está fazendo isso de novo", ela brincou.

Os ponteiros do relógio contaram mais um minuto, mais um para o fim. Ninguém iria se ferir, exceto eu - o melhor final que eu poderia esperar. Silenciosamente pedi desculpas a Alice de novo, desejando que ela não tivesse que ver a violência, desejando que ela entendesse a paz que eu esperava encontrar no final.

Com esse pensamento, eu lentamente desabotoei minha camisa.

As primeiras testemunhas da minha natureza inumana seria uma pequena família que estava parada à minha frente. Enquanto os segundos iam se esgotando, eu considerava o grupo. Dois pais, dois filhos, um equilíbrio perfeito, assim como minha própria família. Meus irmãos e irmãs, minha mãe e meu pai, que todos iriam sofrer em luto por mim, e eu engoli seco outra vez, culpado por lhes causar tal sofrimento. Mas, como o casal diante de mim, eles estavam completos. Três pares perfeitos, tinham um ao outro para consolo. Entendi que o amor deles um pelo outro iria superar qualquer dor ou mágoa que sentiriam por mim, e agora eles já não se preocupariam comigo - o excluído. E isso era o melhor para eles também.

Eu só queria poder agradecer a Carlisle por ter me dado esta vida. Ele nunca deixou de se questionar sobre mim, e como eu estava no crepúsculo de minha... vida... eu podia ver que ele tinha me dado o maior presente. Por causa dele que eu conheci Bella e experimentei o paraíso, mesmo que fosse só por um momento. Isso valia por tudo, e eu queria que ele soubesse disso.

O Lado Sombrio da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora