Capítulo 3 - Um recomeço, talvez...

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Eu juro que, se continuarem falando que desconhecem a tal carta, irei fazer uma loucura. E eu faço mesmo. Uma dessas loucuras, nem tão loucas, seria procurar a "Joanna da Carta". Minha paciência se esgotando, junto com o meu ânimo. Olho para a balconista, com mais ou menos, 12 anos e começo pensar. Como botam uma menina tão nova para trabalhar? Enquanto ela bufa, a observo, revirando os olhos. Ela odeia trabalhar aqui. Dá para ver, apenas olhando para ela. Alex, a balconista, novamente me olha e afirma:
- Eu já disse. Nós não nos responsabilizamos com as mercadorias depois de serem vendidas.
- Como? Isso aqui é uma loja, não é possível que vocês não tenham um sistema de troca.
- Na verdade, não temos. - roendo as unhas, ela olha para a porta. Por um minuto, uma sensação estranha novamente me atinge.
- Posso ajudar? - disse a moça loira, que me atendera na noite passada. - Seu expediente já acabou, filha. Vá se trocar, você já pode ir para casa.
A menina se afasta rapidamente do balcão, e vai em direção à ala do funcionários.
- Desculpe pela arrogância da Alex. Ela, quando quer, é bem simpática.
- Tudo bem.
Ela sorri, e assume o lugar da menina, ficando atrás do balcão.
- Bom, o que você estava falando sobre troca?
- Ah. - Abro a bolsa e pego o diário, que está embrulhado em uma sacola. Seguro fixamente e volta a falar:
- Ontem, eu vim aqui para comprar um diário, e acabei me interessando por um, que por sinal, é bem especial.
- Sim, sim - ela sorri.
- Vou ser direta. O diário tinha uma carta escondida.
A moça arregala os olhos.
- Que tipo de carta?
- É meio que uma carta de amor.
- Eu posso ver? Você está com ela aí?
- Sim - entrego-lhe a sacola. Ela abre e tira o diário. Olhando para mim, ela suspira. Seus olhos exibem uma certa alegria e tristeza.
- Onde você encontrou isso?
- Na prateleira que você me indicou. Eu achei interessante a capa e comprei. Simples assim. Apenas quando cheguei em casa, quem encontrei a carta, ela estava entre duas páginas.
- Quanto tempo eu não a vejo.
Lerdeza em três, dois, um...
- Quem? - pergunto, confusa.
- A carta.
- Ah, tá! Espera aí, espera aí. Você conhece a pessoa que escreveu?
- sinto a esperança renascendo dentro de mim.
- Sim!
- Você pode me dizer aonde posso encontrá-la?
- Você está olhando para ela.
Meu olhos se abrem de uma maneira que nunca se abriram.
- Oi? Você é a Joanna?
- Em carne e osso.
- Meu Deus! Você não faz ideia de como eu queria te encontrar.
- Como assim? Encontrar?
- Eu gostaria de saber do final de tudo. De você e Will.
Ela se senta, olhando para baixo. Droga. Eu não deveria ter falado nele.
- É melhor irmos a outro lugar. Alex não sabe dessa história. - Ela disse. Saímos da loja. Ela troca a plaquinha de aberto para fechado. Atravessamos a rua, em direção ao Starbucks, ela vai na frente e abre a porta, eu entro e me sento em uma mesa.
- Posso te perguntar uma coisa?
Ela se senta, e me ouve abertamente.
- Claro!
- A Alex é filha dele? Filha do Will?
- Não. Isso é algo mais complicado. Mas não, ela não é filha dele.
- Ah, tá! Eu só estava interessada. Estava não. Ainda estou.
- Por que?
- A sua carta é linda. A história de vocês é linda. O jeito que você fala dele, é lindo. - Olho em seus olhos. - E o bebê da carta? Cadê ele?
- Eu não sei. Botei para a adoção assim que nasceu.
- O que? Por quê?
- Eu não tinha chances de cuidar de um bebê.
- Você poderia ter pedido ajudar à alguém.
- Eu não queria ninguém falando o quão eu fui irresponsável. Imagina, uma menina de 19 anos, grávida e sem pessoa para ajudar. Como que eu ficaria com uma criança?
- Eu entendo.
- Não, querida, não entende. Você só entenderia se tivesse um filho.
Suas mãos estão suando, enquanto ela fala. Roo a unha, imaginando como ela sofreu, e talvez, ainda sofra. Sua vida passa como um flash em minha cabeça. Um amor não recuperado. Uma esperança inabalável. Um filho perdido. E o mais importante, uma chance para recomeçar. Então por que ela ainda não foi atrás dele? Eu poderia ajudá-lá a encontrá-lo. Um amor que, eu ainda acredito que seja tão profundo quanto antigamente.
- Joanna!
- Sim...?
- Chelsea.
- Ah, sim, Chelsea. Lindo nome, por sinal.
- Obrigada, mas não é sobre o meu nome que eu gostaria de falar.
Meu coração começa a bater três vezes mais rápido. Minhas veias estão mais visíveis que o normal. Minha mão treme, só de pensar na idea maluca que se passa em minha cabeça.
- Deixe-me te ajudar a encontrar sua filha e o Will. Pense comigo, seria bom para você reencontrá-los.
Em apenas alguns segundos, seus lábios se transformam em largo sorriso. Seus olhos exibem uma certa empolgação. Mas der repente, tudo isso se vai. Olha olha para baixo, fazendo nossos olhares se perderem um do outro.
- Não, não. Não é uma boa idea.
- Não, você está enganada. É uma ótima idea.
- Chelsea, desista. Não tem mais chances.
- Não, não posso desistir quando eu tenho algo importante em minhas mãos. Algo que posso usar para transformar a vida de uma pessoa. Transformar sua vida, em algo melhor, Joanna. Eu posso ver como você ficou feliz em falar dele. Ficaria mais feliz ainda em vê-lo.
- Eu agradeço, mas o que eu encontraria? Mágoa? Arrependimento?
- Um recomeço, talvez...
- É tarde demais.
- Se o que você sentiu foi verdadeiro, nunca é tarde demais. Se era verdadeiro o amor de vocês naquela época, por quê não seria agora?
Ela fica quieta. Me observando, boquiaberta. Talvez, pensando. Ela faz um gesto com a boca, que talvez a fizesse falar. Mas logo em seguida, fechou a boca.
- Desculpa, eu não posso aceitar.
Por um momento, pensei que ela aceitaria minha proposta. Mas percebi que estava enganada.
- Você precisa ter coragem e seguir seu coração. Se ele está dizendo que é para você fazer isso, então faça.
Me levanto, dou alguns passos e me viro.
- Se mudar de ideia, ligue para este telefone. - entrego-lhe o meu cartão. Ando até a porta e me viro.
- Coragem, Joanna, coragem.

*

Nada melhor do que aproveitar uma sexta à noite com comédias românticas e muita comida. Minha lista de diversão está ficando muito boa. Festa do pijama! Minha festinha, que no caso, só tem eu de convidada:

1- 3 potes de leite condensado.
2- 5 comédias românticas.
3- 2 potes de Nutella.
4- cobertores e travesseiros.
5- meias fofas.
6- pipoca.
7- refrigerante.
8- doces
9- a casa para mim.
10- alguém tocando a campainha.

Alguém tocando a campainha? Era só o que me faltava. Cá estou eu, super confortável no tapete, com minhas meias fofas e tenho que me levantar. Me levanto, apoiando nos braços do sofá. Ando para fora do tapete, mas logo caio. Essas meias também... Que merda de piso de madeira. Minha sorte foi que a bunda amorteceu a queda. A fim de não querer cair de novo, permaneço no chão e rastejo até a porta. Com a mão direita, me apoio na maçante, e com a outra mão, uso um guarda-chuva como bengala. O que foi? Foi a primeira coisa que vi. Olho pelo olho mágico e vejo uma pessoa inesperada.
- Nico! - grito, abrindo a porta.
Ela sorri, me abraçando.
- Surpresa!
- O que faz aqui?
- Eu vim morar aqui.
Minha boca abre. Mas um para morar na minha casa? Isso aqui não é pensão.
- Morar... - digo, com voz falhando.- Morar onde?
- Calma, calma. Eu vou morar em Londres, mas não aqui.
- Ah, tá!
Inspiro profundamente, aliviada. Por mais que Nico seja uma prima bem legal, eu gosto de ter minha privacidade. Eu já tenho o Cam morando comigo, se ela vier também, isso aqui vira uma zona.
- E você, já se habituou com os novos ares de Londres? - ela sorri.
- Estou tentando, Nico. Mas está difícil.
- Chelsea, Chelsea. Eu já disse que é apenas Nicole. Esqueça esse apelido idiota que você botou em mim. Já faz muito tempo. - Ela disse e um filme se passou em minha cabeça. Quando éramos pequenas, brincavamos de casinha. Nico era o filho, eu a mãe, Becky a filha e Cam o pai.
- Chel... - ela começa a falar, mas nem presto a atenção. Minha mente está assistindo ao filme da minha vida. Saindo do pause e dando play no filme, vem a cena da Nicole querendo ser a filha, só que Becky se recusava a ser menino. E como eu queria ter um casal, ela acabou sendo Nico por um bom tempo.
- Você ouviu o que eu disse? - disse Nico, ops... Nicole, estalando os dedos no meu rosto.
- Ouvi sim.
Mentira.
- O que eu disse, então?
Ela ergue as sombrancelhas, me desafiando.
- Ok, ok. Eu não ouvi uma palavra do que disse.
- Eu quero que você me conte tudo que já aconteceu aqui com você.
Assinto e começo bem do começo mesmo. Desde o aeroporto - Derek - até o diário. Seus olhos estão brilhando, fascinados.
- Tudo isso, em alguns dias?
- Exatamente.
Ela se deita no tapete, apoiando a cabeça na almofada vermelha.
- Ah, e os vizinhos? São receptivos?
Sério que ela tinha que falar em vizinhos? Eu não contei à ela do meu amável desconhecido vizinho? Os barulhos do apartamento ao lado invadem a minha cabeça.
- Não, não mesmo.
- Por que?
- O meu vizinho é muito irritante.
Ela revira os olhos.
- E por que você ainda não fez una reclamação?
Eu sou burra, ou ela disse o óbvio? Como não pensei nisso antes?
- É, é uma ótima ideia.
Um pensamento maléfico dirige até minha mente e estaciona, pagando por horas, por não ter me dado essa ideia antes.
- No que essa cabeça; com esse sorriso de quem vai aprontar, está pensando?
- Sabe, acho que vou escrever um carta ao meu (Nem tão) Querido Vizinho.

(Nem tão) Querido VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora