Capítulo 7

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Jasmine On

A casa da Pandora é bem simples, porém, muito aconchegante. Sinto o celular vibrar, desbloqueio a tela e vejo uma mensagem da Lilly me pedindo para voltar. Senti um aperto enorme no coração, mas os relacionamentos não são só flores, né? Um nunca vai concordar plenamente com o outro o tempo todo. Mas dessa vez a Lilly passou dos limites. Então resolvi ficar, sei o quanto vamos sentir por isso, passar uma noite sem a Lilly vai ser como ir ao deserto sem água. Pandora é um amor de pessoa, me deu todo conforto e foi para o quarto me deixando sozinha, fito o teto por alguns instantes pensando em tudo que já passei com Lilly, todos os planos que fizemos juntas, e se vale realmente a pena tratá-la assim. Caio no sono. Acordo as 7 da manhã com o despertador do celular, e ao desbloquear sinto as lágrimas brotando em meus olhos. " Acordar Lilly com um beijo"... Sim, isso é obra dela. Sinto meu coração bater mais forte só de imaginar Lilly não me perdoar. Levanto e vou ao banheiro fazer a higiene matinal e ao sair do quarto, sinto o cheiro dó café. Chego até a cozinha e encontro Pandora preparando a comida.
- Bom dia. - falo desanimada.
- Bom diiiaaa, vamos animar, caralho. - Pandora fala levantando os braços.
- Animação está fora de cogitação hoje. - falo sentando na cadeira.
- Por quê?
- Não sei se oque fiz com a Lilly foi o correto. - passo a mão no rosto.
- Talvez você deva ir atrás. - Pandora põe café numa xícara até transbordar. - Antes que seja tarde demais. - ela me olha e sorri.
- Mas ai ela vai se acostumar a toda vez que fizer algo que eu não goste, ser perdoada. - retribuo o sorriso. - Não acha?
- E se não for pra perdoar então por que continuar com ela? Quem ama perdoa, todos cometemos erros, ninguém é perfeito. Muito menos você, e vai mostrar isso se não perdoar.
- Talvez eu esteja tentando fazer ela enxergar que não precisa ter ciúme de mim. - falo sorrindo.
- Talvez você esteja sendo infantil, se ponha no lugar dela.
- Okay, vou mandar mensagem para ela quando terminar de comer. - pego uma torrada.
- O tempo passa hein, tic toc. - Pandora bate no relógio no pulso dela. - Não perca o amor da sua vida por besteira, você vai se arrepender.
- Você fala como se já tivesse vivido algo parecido. - encaro seriamente.
- Praticamente. - ela fala e começa a limpar o café que tinha deixado transbordar.
- Algum homem?
- Hm, antes fosse, talvez fosse mais... fácil.
- Como assim?
- Eu nunca te contei porquê fui pra sua cidade né?
- Verdade, adoraria saber. - bebo um pouco do café.
- Eu me apaixonei por... uma menina da minha escola quando tinha uns 15 anos e minha mãe me afastou dela.
- Como assim? Não sabia que é lésbica. - falo surpresa.
- Como saberia se eu nunca contei a ninguém? - Pandora fala rindo.
- Tem medo de se assumir?
- Não, sou bem decidida, não tenho medo e nem vergonha do que sou. Mas minha mãe é velha, eu aguento mas ela não.
- Compreendo. -falo e me levanto para por a louça na pia. - E está solteira agora?
- Sempre estive. - ela fala envergonhada.
- Como assim? Uma moça tão bonita e simpática, não é possível! - falo rindo.
- Não importa quantos ou quantas me queiram se eu só quero uma e essa uma não me quer.
- Hétero?
- Provavelmente, nunca perguntei. Ela nem sabe que eu sinto isso por ela, que eu sempre senti.
- Corre, Pandora, vai dizer a ela, o tempo tá passando hein, tic toc. - falo a imitando.
- O tempo já passou. - ela diz rindo. - Ela está noiva, de um cara.
- Nossa, sinto muito. - desmancho o sorriso.
- Não se preocupe, agora vá atrás do seu amor. Não é todo o dia que ele bate à sua porta.
- Sim senhora. - falo rindo.
Vou até o quarto e escrevo uma mensagem para a Lilly.
"Lilly, vá ao café da Pandora em uma hora, preciso acabar de vez com isso". Envio e vou para a sala onde Pandora estava deitada no sofá.
- Pan, posso fazer algo para a Lilly no seu café?
- Claro, só deixa eu sumir com a minha mãe. - ela fala e pega o celular dela.
Pandora fala algumas coisas ao celular e depois volta dizendo que eu posso, pedi a ela que arrumasse um violão uma caixa de som e um microfone, ela arrumou com um vizinho e logo fomos a cafeteria.
- Pan, e se ela não vier? - falo enquanto cubriamos uma mesa.
- Ela te ama?
- Não tenho dúvidas, e é recíproco. - falo apaixonada.
- Então ela virá. - Pandora sorri.

Lilly On

A madrugada foi como uma tortura sem Jasmine do meu lado. Se alguem soubesse como é encontrar o amor da sua vida, sentir todos dias a sintonia do seu corpo ao seu lado, sentir seu calor até mesmo quando o clima estivesse mais quente que uma sauna, e achar isso o máximo... Com certeza sentiria o que sinto agora.
Talvez possa até ser uma perda de tempo querer encontrar o amor da sua vida; talvez possa ser até errado lutar para juntar duas linhas paralelas, mudar o fato de que nascemos para lutar sozinhos. Mas eu sei que errar não seria o problema. Sei que no final de tudo, se tudo der errado, ainda vou ser a mulher mais orgulhosa do mundo por ter insistido em algo que sabia que podia dar certo (mas não se pode prender ninguém ao seu lado depois de errar e transformar em uma calamidade algo fútil).
Fico imaginando diversas coisas na cama, na madrugada. Imagino meus momentos com Jasmine, as vezes que ela me fez sorrir, a vez que ela me fez chorar. Lembro da sensação que tenho quando a beijo, o arrepio que sinto quando tenho seu corpo ha menos de milímetros do meu.
Depois de me revirar pela centésima vez na madrugada na cama e mandar mais de mil mensagens pedindo a Jasmine para voltar, escuto um bip no celular. 6:55 da manhã, despertador com a nota "acordar e esperar o beijo de Jasmine". Um costume de fazer várias coisas pra chamar sua atenção, ainda mais perto da data quando nos conhecemos.
Algumas lágrimas dispersas caem dos meus olhos, então me deito novamente. 30 minutos se passam, e o toque de mensagem soa nos meus ouvidos, e eu, em um pulo, pego o celular.
Mensagem da Jasmine:
"Lilly, vá ao café da Pandora em uma hora, preciso acabar de uma vez com isso."
A mensagem desmonta minhas estruturas. Ou talvez só a minha capacidade de tomar todas coisas com dois sentidos.
Não espero nem uma hora, vou correndo até o café da Pandora. Espero sentada encostada na parede da casa, e quando deu exatamente 9 horas, levanto e bato na porta. Pandora abre e umas lágrima caem dos meus olhos.

keep Running (Romance lesbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora