Capítulo 2

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  Livia deu uma última olhada no quarto que fora sua casa pelos últimos três anos. Tudo estava bem arrumado agora, edredon e lençóis dobrados e travesseiro sem fronha. Provavelmente esperando a nova moradora que chegaria para o semestre seguinte. Já não era mais o seu quarto tão acolhedor, cujas paredes eram cobertas de pôsteres do One Direction. O guarda-roupas vazio, finalmente com algum espaço, pensou ela, lembrando de como tinha que constantemente remanejar roupas de uma estação para outra dentro da mala já que o armário com apenas duas portas não era o suficiente. A escola ficava em Lausanne, Suíça e fora uma escolha dos pais para que ela tivesse uma educação primorosa e também fizesse boas amizades. E isso realmente aconteceu. Ali conhecera suas amigas que considerava como irmãs. Muito mais do que a sua própria.

Olhando o Lac Léman pela janela, pensou em Bella. Eram muito parecidas fisicamente. Pele muito clara, cabelos castanhos claros e olhos no mesmo tom. A boca e o nariz bem feitos era parte de um rosto harmonioso. A semelhança no entanto era somente física já que a personalidade de Bella era o oposto da sua. Desde muito pequena confrontara os pais. Quando tinha que ir até a sala cumprimentar alguma visita, Bella simplesmente não aparecia. E caso fosse obrigada, fazia questão de escandalizar o visitante com algum comentário maldoso a respeito da sua aparência. Com o tempo, a mãe percebeu que era melhor deixá-la se esconder. Os pais bem que tentaram mandar Bella para amesma escola mas o comportamento na entrevista com a diretora foi tão reprovável que decidiram por fim que a presença dela na mesma escola da irmã seria prejudicial para Lívia. A menor então ficou em Londres na casa dos pais que tinham a intenção de tê-la sob sua guarda.

Uma batida na porta tirou Lívia de seus pensamentos.

"Está pronta?"

"Sim, Irene, estou."

"O motorista da escola vai nos levar até a estação."

As duas riram juntas revelando cumplicidade: dois anos atrás, estavam conversando de madrugada e olhando pela janela viram o motorista da escola saindo sorrateiramente do quarto da inspetora. Isso garantiu às duas carona para onde quer que fossem e vistas grossas com os horários.

"Irene, estou muito feliz que você também, está voltando para Londres. Acho que não conseguiria partir sozinha."

Irene e Livia se tornaram melhores amigas no instante em que se viram. Uma olhou a outra e juntas olharam o óculos cujo grau aumentava o olho algumas vezes da diretora que estava fazendo as apresentações. Caíram na gargalhada no mesmo instante e isso selou a amizade. Daquele dia em diante, estavam sempre juntas. A elas se juntaram Fran e Dana, esta russa e a outra, belga. O quarteto ficou conhecido como "saco de risada".

"Esta ansiosa para chegar rever seus pais?'- perguntou Irene.

"Estou ansiosa para rever minha mãe. Meu pai você sabe...vai estar trabalhando."

"Já falei que acho você muito exigente com seu pai."

"Não é exigência, é constatação."

Para John Wittney a única coisa mais importante que o seu trabalho era a esposa Mary. A amava de todo o coração desde que se conheceram 35 anos atrás. Casaram-se depois de alguns anos de namoro e o sentimento que tinha por ela aumentava a cada dia. Ainda era um advogado recém formado quando pediu sua mão em casamento. O sogro relutou porque achava que a filha tinha possibilidade de casamentos bem mais confortáveis financeiramente. Mas Mary foi convencendo o pai de que o amor era mais importante, até que o casamento foi aprovado. Wittney tornou-se um dos advogados mais ricos da Europa mas nunca esqueceu o fato de a esposa tê-lo escolhido muito antes de que isso acontecesse.

Mary Wittney era uma mãe dedicada e amorosa. Estava sempre presente na vida das filhas apesar do ciúme do marido, que não gostava de dividir sua atenção com ninguém. Tanto amor e devoção no entanto, não foram suficientes para que a filha mais nova se rebelasse constantemente contra tudo e contra todos. Era sua preocupação constante. Em compensação, tinha Livia. A filha chegaria de tarde a Londres e dessa vez, não iria mais voltar para Lausanne uma semana depois. Mary estava tão feliz com essa perspectiva que não conseguia nem escolher que roupa vestir. Pegou um vestido branco com cintura marcada que colocou rapidamente e desceu esperar a filha na sala. A porta se abriu e as duas correram uma para os brasões da outra. Livia estava de volta.


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