Capítulo 38

79 3 0
                                    

A casa do pai de Harry ficava um pouco afastada da pequena cidade onde ele nasceu. Teve que andar uns vinte minutos da hospedaria até lá. Ele tinha viva na memória a fachada branca com o jardim na frente feito de arbustos e flores e a cerca em madeira circundando toda a casa. Muitas vezes passou por ali imaginando como seria aquele lugar por dentro. Sentiu como se tivesse voltado no tempo e sentou embaixo da mesma árvore onde costumava sentar esperando ver o pai por alguns momentos antes que esse percorresse o caminho da entrada do portão até a porta da frente. Um vento frio soprou em seu rosto e ele fechou os olhos. Quando abriu viu a figura do pai andando pela estrada em direção à casa. Ao contrário do que fez por tantas vezes, desta vez Harry levantou e foi até ele. Não parecia um homem tão grande agora e seu rosto tampouco era severo como antigamente. O olhar do pai e do filho se encontraram assim que o vento soprou ainda mais forte.

"Achei que você viria" - disse o mais velho - "quer entrar?"

"Não. Podemos falar aqui fora?"

"Melhor entrarmos. Está ficando frio"

"Não quero atrapalhar sua vida...sei que sua família deve estar em casa agora"

"Não vai atrapalhar" - abriu o portão - "Venha. Pode entrar."

Harry fechou os olhos por um segundo e imaginou quantas nas inúmeras vezes em que desejou escutar aquela frase.

A casa de Alfred Styles era surpreendentemente aconchegante com suas paredes verde-escuro e portas brancas. A lareira aquecia o ambiente em que ele sinalizou para o filho sentar. Tania, a esposa, veio cumprimentar com um ar cordial como se o estivesse esperando também.

"Gostaria de tomar alguma coisa?"

"Não, obrigado. Eu não vou demorar."

"Fique para jantar conosco"- a voz dela era muito mais gentil do que ele pôde supor que seria.

"Gostaria que ficasse." - concordou o pai.

Harry descobriu que tinha duas meio irmãs: a mais velha com quinze anos e a mais nova com onze. As duas olhavam com curiosidade aquele estranho de quem tanto ouviram falar. Ele quase não comeu, apenas observava em silêncio a vida que o pai construiu.

"Gosta de torta de chocolate, Harry?"- a esposa do pai o fazia sentir confortável.

"Gosto"

"Quer com um pouco de sorvete e calda?"

"Não, obrigado" - arrependeu-se de ter aceito a torta. Não conseguia comer mas não queria que Tania pensasse que era porque não tinha gostado. Foi ela quem o salvou:

"Por que vocês não vão até a sala conversar um pouco e depois levo a torta."

Os dois saíram da mesa e foram sentar no sofá em frente a lareira.


CrossroadsOnde histórias criam vida. Descubra agora