5- A Bandana Vermelha

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Enquanto o velho portão era aberto por Heckmann, os olhos dos mineiros se ajustavam. Aquele triste rangido parecia lacrimejar o passado para o presente, nas suas antigas tábuas de madeira que se contorciam ao se mexerem, como se quisessem se quebrar o mais rápido possível. A abertura do portão mostrava que, o lampião não seria mais estritamente necessário, pelo menos pelo dia. Não era uma escuridão absoluta, como se estivessem nos sapatos de um cego, era como o estranho estado de uma manhã, onde a luz e a escuridão ainda não concordavam entre quem seria o mestre. Deixando, por fim, o lugar com um aspecto azul escuro, frio e indiferente, vinha com isso, um alívio momentâneo, com a impertinente e triste realização de que, sem dúvida, durante a noite, estariam tão cegos quanto dentro daquele túnel, naquele escuro perfeito e absoluto. Escolheram então, aproveitar a pouca vista que tinham por agora, Montenegro apagou o lampião, precisava economizar o máximo, fazendo com que o laranja se fosse, e as cores frias se puseram a dominar suas visões. Ainda não estava muito claro, viam o básico para não tropeçarem uns nos outros, não viam muito longe, pouco mais de dois metros à sua frente. E estranhamente, parecia ainda haver uma pálida e sútil bruma a rodear os mineiros, obstruindo ainda mais sua visão do distante. Deram passos para frente, saíram todos do túnel e Heckmann fechou a porta, trazendo aquele triste rangido de volta à tona. Os mineiros se sentiam em uma prisão, afinal, parecia que estavam na beira de um penhasco, já que não sabiam qual a distância até o chão. Um passo mau cuidado e se esborrachariam contra as frias pedras daquela mina descendo pela escuridão fria, se não fosse claro, pela cerca enferrujada que parecia seguir eles. Ela impedia que caíssem para a quase certa morte, a cerca alta era reforçada com arame farpado, duvidavam que faria alguma diferença, se fossem tentar subir a cerca, sua ferrugem seria certa a quebrar, e a paranoia de cair se provaria certa.

O trilho que seguiam, fazia uma curva a direita e acomodava dois carrinhos de mineração, esses velhos resquícios dos trabalhadores carregavam carvão até a borda. Montenegro teve a vontade de usar aquele carvão para fazer um belo churrasco, a própria ideia era ridícula, mas não fazia nenhuma diferença para ele, a barriga quer o que a barriga quer. Ele passou a vista um pouco mais a frente, e notou que não poderiam mais seguir o trilho. Estas estâncias da mina pareciam ter sofrido também, escombros do teto e vigas de madeira bloqueavam o caminho. Quebraram também, aquela cerca enferrujada. Como uma muralha alta e inquisidora, não fazia sentido tentar passar por cima daquele gigante de pedra e madeira, sabia que, o tempo havia feito seu trabalho. Olhou para o teto, não muito acima de suas cabeças, apenas alguns poucos metros. Mal podia ver o contorno das rochas duras que os prendiam dentro daquela montanha, poderiam cair a qualquer momento de qualquer dia, e essa ideia, lentamente alimentava sua paranoia. Montenegro se perguntava de onde vinha aquele azul fraco que possibilitava que eles vessem, mesmo que um pouquinho, mas não era especialista em azul (se é que isso existe) ou em cavernas para questionar aquilo, era um presente, e o recebia de braços abertos.

Impedido pela muralha, se virou para a esquerda, e foi seguido pelos outros. A esperança não seria perdida agora. Havia uma salvação para não ficarem presos com aquela cerca, uma estrutura de madeira se encostava nas paredes de rochas e dava um fim a este pequeno corredor onde estavam. A estrutura constituía de diversas passarelas de madeira, em vários andares, tantos que nem podiam conta-los, iam para cima e para baixo, fugindo de suas curtas vistas. Colados juntos por vigas e colunas grossas e redondas, fazendo com que, o chão de um andar, fosse o teto de outro, se estendendo por além de suas vistas. Montenegro foi acertado por uma grande certeza, de que, em algum lugar, algum canto destas cercas, muralhas, estruturas, trilhos e portas, estaria o portão que levaria a sua saída, até podia o imaginar. Um anúncio bem grande, escrito em letras alegres falando "Venham! Venham seus bostinhas! Aqui vão sair desse buraco de merda!" Divertia a ele este pensamento, por mais irrealista que fosse. Mas queria que o mundo, ainda os esperassem, paciente e solenemente, com um buque de rosas iriam os cumprimentar e dar aleluias que saíram vivos e sãos. Era apenas isso que podia imaginar, era apenas isso que queria imaginar. Certificou essa certeza consigo mesmo e andou decidido, com os outros mineiros ao seu lado, em direção a sua saída. Faltavam alguns metros até a estrutura, e Montenegro, procurando construir confiança e intimidade com os mineiros, perguntou para Heckmann:

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⏰ Última atualização: Mar 26, 2016 ⏰

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