5. Não mais seu

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Thranduil não conseguia esconder seu desapontamento. Insistira de todas as maneiras possíveis que Tauriel não fosse para Imladris, mas foram vãs tentativas.

- Não há nada para você lá. Você tem uma casa em Mirkwood, você tem a mim. - disse Thranduil, implorando mais uma vez.

- Preciso de um tempo sozinha, e não vou conseguir isso aqui. Quero passar um tempo em Valfenda, isso será bom para mim. Não lhe prometi centenas de vezes que não tardaria a voltar? - perguntou Tauriel, cansada de ter que repetir a mesma coisa.

Era tarde da noite, todos no palácio estavam dormindo e Tauriel aproveitou a ocasião para comunicar ao rei que iria para Valfenda. Pensou sobre isso longa e demoradamente, e decidiu que seria melhor assim.

Ainda não perdoara Thranduil, e vê-lo todos os dias não ajudava em nada. Sabia que ele não aceitaria essa viagem assim que o rei pôs os pés dentro de seu quarto, mas ele não podia negar-lhe isso.

- Não posso permitir que faça isso. Não posso. - disse Thranduil, não escondendo a tristeza em sua voz.

- Não pode me negar isso - disse Tauriel, e um longo momento de silêncio seguiu-se a isso.

Ambos se encaravam, seus olhares expressavam dor e cansaço de estar discutindo a mesma coisa todo o tempo. De repente, a expressão de Tauriel abrandou e ela sentou-se na cama, cobrindo o rosto com as mãos. Thranduil aproximou-se dela e puxou-a para um abraço.

- Não consigo entendê-la. Já implorei seu perdão, já me ofereci para cuidar de nosso filho, mas ainda assim você quer ir para Valfenda.

- Por favor, Thranduil. Por favor. - suplicou Tauriel, seus olhos marejados de lágrimas.

-Espere um momento.

Derrotado, Thranduil afastou as mãos dela carinhosamente e beijou-lhe a fronte. Saiu do quarto e voltou minutos depois com algo na mão. Colocou na mão de Tauriel uma pedra preta irregular, com palavras gravadas nela em uma língua que Tauriel desconhecia. Entrelaçou as mãos de Tauriel nas suas e falou:

- Significa "Uma estrela brilha sobre nosso encontro". - explicou Thranduil. - Quero que se lembre de mim em Valfenda cada vez que olhar para essa pedra.

E, beijando-a novamente, libertou-se de suas mãos uma última vez e foi embora.

Tauriel ficou sentada, observando a pequena pedra. Guardou-a num pequeno saco de viagem que levaria para Valfenda. Iria viajar com Alatariel e Lindir antes do alvorecer do quinto dia e ainda não arrumara quase nada, mas não sentia vontade de fazer qualquer coisa. Queria se despedir de Mirkwood.

Deixou o saco jogado na cama e saiu do quarto. Andou pelas cozinhas, pelos pátios, até mesmo pelo Salão do Rei. Não viu ninguém pelo caminho, mas parecia ter escutado mais de uma vez gritos abafados na Floresta. Depois de quase vinte minutos, os gritos ainda continuvam, ao longe.

Curiosa, foi até a Floresta averiguar. A caminho de lá, ouviu mais um grito. Um grito de mulher. Andou mais rapidamente e outro gritou quebrou o silêncio da Floresta, agora abafado pela mão de alguém. Tauriel escondeu-se atrás de uma árvore e deparou-se com uma estranha cena. Um uruk-hai com uma flecha espetada no crânio, e a pessoa que ela menos esperava encontrar: Legolas, carregando uma jovem moça para dentro do palácio. A garota não parecia ser uma elfa.

Silenciosa como só um elfo poderia ser, Tauriel saiu de trás das árvores e seguiu Legolas.

O elfo e a moça entraram no palácio e dois guardas estavam às portas. Legolas deu ordens e os guardas abriram para que eles pudessem entrar. Legolas a levou para seu quarto, olhando para os lados atentamente para ver se alguém os observava.

Tauriel sabia que era terminantemente proibido levar alguém para o palácio sem a permissão do rei. Decidiu que esperaria até o dia seguinte para conversar com Legolas e perguntar o que ele iria fazer com a garota.

Seguindo para o seu quarto, ela imediatamente esqueceu a cena que acabara de ver e Thranduil voltou a tomar conta de seus pensamentos. Mal percebia para onde estava indo quando viu a porta entreaberta e encontrou Alatariel lendo um livro ao lado da cama. A elfa puxou-a para junto e pôs-se a ler a história em voz alta.

Quando terminou, as duas conversaram o resto da noite. Alatariel queria saber tudo sobre Mirkwood, e Tauriel tentava ouvir atentamente o que ela dizia, apesar de sua mente vagar para longe dali.

- Lá nós cantamos ao pôr do sol e observamos as estrelas refletindo sua beleza nas águas do Vau - explicou Alatariel, com um brilho nos olhos.

- Parece-me tudo tão belo e majestoso - disse Tauriel, se deliciando com as histórias. - Espero poder ver tudo isso em breve.

- E irá, minha senhora. Toda a Valfenda se alegrará com a sua chegada. Quanto tempo pretende passar entre nós, senhora? - perguntou Alatariel.

- Ainda não sei... Foi com grande relutância que o rei permitiu que eu partisse. Tentarei não me demorar lá, só estou indo porque me pedes muito. - sorriu Tauriel.

- Está bem, minha senhora. - disse Alatariel e olhou pela janela. - Já é tarde, o dia já está aparecendo e é melhor que eu vá.

Pôs Tauriel para dormir como da última vez e foi para seus aposentos.

*  *  *

Dias depois, o dia amanheceu claro e alegre, e Tauriel levantou-se disposta para o desjejum. Quando o ocaso caiu sobre Mirkwood, viu a garota que Legolas trouxera há quatro dias para o palácio, e não acreditava no que via.

Não havia a visto desde o dia que Legolas a resgatara, por isso achava que Legolas já havia mandado a garota embora, tendo conhecimento das ordens do pai.

Tauriel seguiu-a e viu que ela estava indo para o quarto de Legolas. De longe, Tauriel observou a moça abrir a porta do quarto, e um cheiro embriagante de vinho encheu o ar. Tauriel arriscou chegar mais perto do quarto e escutou.

- Alteza, temo que eu tenha sido extremamente insensível. Peço-lhe perdão. Devo ao senhor minha eterna gratidão, eu... Eu lhe devo minha vida. - a voz da moça mal dava para ser ouvida do lado de fora.

- Não precisa agradecer. Eu fiz meu trabalho. Não podia deixá-la naquele lugar horrível, com aquilo a lhe atormentar. Fiz o que qualquer um em sã consciência teria feito.

Tauriel saiu do quarto rapidamente, sentindo que era sua obrigação comunicar ao rei que a garota ainda continuava no palácio. Legolas conhecia muito bem as ordens que recebera, mas não parecia querer obedecê-las.

Tauriel esperou até a manhã seguinte, inquieta. Ao amanhecer, ela foi até o Salão do Rei, resoluta. Thranduil ficou surpreso ao ver Tauriel e a recebeu com alegria, sentado elegantemente em seu trono. Perguntou o que fazia ali àquela hora, e ela respondeu gravemente:

- Tenho algo a dizer-lhe, meu senhor. Legolas mantém uma jovem moça no palácio há alguns dias e como ele bem sabe, é proibido trazer alguém para o palácio sem o consentimento do rei. Pelo jeito como age, ele está mantendo-a... em segredo.

Tauriel sabia o quanto Thranduil era rígido em relação às ordens impostas por ele, e saber que seu filho cometera algo tão grave não deve ter atenuado a situação.

Terminou o que tinha para falar e observou a reação de Thranduil. Uma fúria repentina surgiu em seus olhos claros, que não desejava nada menos que dilacerar a garota.

- Chame um de seus guardas. Mande que avisem Legolas que quero vê-los imediatamente.

Retirou-se do Salão apressada, temendo quão longe iria a fúria do rei.

A ELFA DA FLORESTA - Contos da Terra Média (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora