10. Muralhas quebradas

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Mirkwood estava silenciosa, como sempre. Legolas havia saído há algumas horas, depois de ter tentado de todas as maneiras convencer o pai de que não podia deixar Melinyä ir embora.

Era madrugada, ainda estava escuro, e todo o palácio dormia. Thranduil estava sentado em seu trono no Salão do Rei, imóvel como uma pedra.

Havia ordenado que prendessem a garota humana, mas pensava seriamente se devia libertá-la ou não. Mal tomara sua decisão quando um guarda entrou desabalado no salão. Thranduil espantou-se ao ver Melion acordado àquela hora.

- Alteza, eles... eles... fugiram... levaram a mundana... - disse Melion, ofegando fortemente.

- O que? - Thranduil surpreendeu-se. - Minhas ordens foram bastante claras! Essa moça devia estar nos calabouços!

A fúria de Thranduil foi tanta que Melion recuou, assustado.
- Conte-me tudo. Agora. - ordenou Thranduil, tentando manter a voz calma.

- Sim, alteza. - disse Melion, tremendo da cabeça aos pés. - Eu estava nos estábulos quando Legolas apareceu e ordenou que quatro cavalos fossem selados imediatamente, e mandou que eu fosse embora e não contasse a ninguém; disse que eram ordens do rei. - perdeu um pouco do medo e desatou a falar. - Saí de lá, mas fiquei observando do lado de fora. Instantes depois, a capitã chegou carregada de coisas e acompanhada da garota e os outros dois de Imladris. Esperei por um longo tempo, até que vi à distância a capitã e a humana na mesma montaria, cavalgando o mais rápido possível. Em seguida, os outros dois apareceram e cavalgaram com a mesma velocidade. Legolas ficou lá dentro por muito tempo, e eu já estava pensando em voltar quando ele saiu. Parecia arrasado, se me permite dizer, Alteza. Andou o mais silenciosamente possível até o palácio, embora ficasse olhando com frequência na direção que os outros tinham ido embora. Segui Legolas até o palácio, e esperei até que ele tivesse em seu quarto para avisar ao Senhor o que vi. E foi isso, Alteza. - terminou seu longo discurso e ficou em silêncio.
Thranduil não conseguia acreditar no que ouvia. Tauriel fora embora. Desobedecera a uma ordem sua, e levara a garota para Imladris. Não sabia se sentia surpresa, raiva ou tristeza. Um sentimento substituía o outro a cada segundo. Queria punir Tauriel da pior forma possível, mas também queria que ela entrasse no Salão naquele momento, com seus longos cabelos ruivos esvoaçando atrás de si, com o filho de ambos nos braços.

- Vá embora, Melion. Quero ficar sozinho. - sussurrou Thranduil.

Melion saiu apressadamente do salão. Thranduil levantou-se e foi até o quarto de Tauriel. Abriu a porta lentamente e entrou.

O quarto estava quase totalmente arrumado. Apenas o guarda roupa aberto indicava que Tauriel estivera ali há poucas horas. Ela tirara quase todas as roupas, mas ainda deixou umas poucas; sua farda de capitã estava entre elas. Thranduil pegou o vestido que Tauriel usara na primeira noite que estiveram juntos e sentou-se na cama. Era lindo, assim como ela. Verde, ricamente bordado e com uma pequena fita dourada marcando a cintura. O cheiro de Tauriel ainda estava no vestido. Inalou-o profundamente, e uma enxurrada de lembranças invadiu sua mente: Tauriel mordiscando a maçã enquanto ele a observava; as curvas de seu corpo quando ele rasgou seu vestido com impaciência; o jeito que ela dormia, aninhada em seus braços.
Seu coração encheu-se de tristeza e melancolia. Tinha visto Tauriel um dia antes, mas sentia sua falta como se anos tivessem se passado.

Já tinha amanhecido completamente, mas Thranduil não se deu conta disso. Se pudesse, ficaria todas as Eras do mundo sentado naquela cama. Nada mais importava, nem mesmo ser rei. Thranduil estava tão deprimido que chegou até mesmo a pensar em pegar um navio para as Terras Imortais. Mas sabia que não podia. Tinha que governar, com Tauriel ou não.

Pegando o vestido, foi para o seu quarto e o colocou cuidadosamente ao lado da cama. Enxugou as lágrimas que, sem que ele percebesse, haviam descido sobre seu rosto quando ele olhou uma última vez para o vestido, e voltou para o Salão.

* * * * *
- Ela vai casar, meu Senhor. - disse o guarda, segurando uma carta nas mãos. - Um elfo de Valfenda chegou com essa mensagem - entregou a carta à Thranduil.

O rei estava em seu quarto, sozinho, quando o guarda entrou. Claramente, a mensagem fora escrita por Elrond. Depois de dois meses em uma profunda tristeza, um fiozinho de felicidade encontrou espaço no coração do rei quando ele leu que sua filha havia nascido. Elrond dissera que o nome da pequena era Elwën, e que era mais parecida com Thranduil do que com Tauriel. Ela havia pedido que Thranduil a perdoasse pela fuga. Elrond também disse que o casamento estava marcado para cinco meses depois, e até o convidou para presenciar a cerimônia, apenas por educação.

Thranduil foi dominado por uma fúria repentina ao ler a carta. Fúria e tristeza. Já estava farto de estar triste o tempo todo. "Ela vai casar", disse a si mesmo. Mas não conseguia suportar tudo aquilo. Era desprezado por Legolas todos os dias, os guardas estavam insatisfeitos sem Tauriel no comando, todos de Mirkwood haviam se voltado contra o rei quando souberam que ele ordenara que Melinyä, uma garota inocente, fosse presa. Thranduil aguentara isso tudo durante dois meses, mas nem todos os dias juntos haviam sido piores que aquela carta. Não, aquilo não era tristeza. Era muito pior. Seu coração havia sido rasgado, pisado e posto de volta no lugar. Depois daquela noite, depois da filha que tiveram, Tauriel iria casar.

- Mande uma mensagem a Tauriel, e apenas a ela. Diga-lhe que eu imploro que ela volte para a Floresta com a nossa Elwën e desista dessa farsa que é esse casamento. - disse Thranduil, amargurado. - Sei que ela não vai ceder, mas diga-lhe também que eu perdoo a garota humana se necessário. - com essas palavras, saiu do quarto e deixou o guarda anotando tudo o que ele dissera.

A ELFA DA FLORESTA - Contos da Terra Média (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora