Capítulo 2: Adeus, Liverpool

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Fui correndo para o meu quarto, para abraçar o Noah e bater nele, ao mesmo tempo por não ter me contado sobre a viagem.
-Ai, garota! Para! -Ele me fez parar de bater. -Você não percebe que sua vida pode melhorar por lá? Você vai ficar bem, então calma!
-Nós vamos ficar bem, Noah. Pode parar com o fingimento, eu sei que você vai também. -Falei, olhando nos olhos dele.
-Ah, fala sério! Eu queria te ver chorar por mim. -Dei o meu olhar mortal, do tipo "já pode acabar com isso". -Tudo bem, foi mal. Eu tava brincando.
-Idiota... espera. Eu não pensei em algumas coisas.-Falei, espantada.
-Fala, Lizzie -Noah pediu, enquanto organizava a bagunça que fizemos, quando estávamos montando as nossas Árvores genealógicas.
-Onde vamos ficar? E a escola? E nossa vida por aqui? -Fiz o questionamento.
-Olha, Lizzie, de acordo com o que os seus pais me passaram, eles alugaram uma casa nos EUA. Eu ouvi que eles estão pensando em comprá-la. -Ele fez uma pausa, se concentrando na caneta que usou para escrever os nomes dos seus parentes no papel. -Já a escola... continuaremos a estudar, só que nos EUA, claro. -Revirei os olhos, cansada de ouvir a palavra "escola" ou "estudar.
-Continue. -Ordenei.
-Bem... seus pais vão começar a ter uma rotina instável. Você já sabe disso, né?
-Uhum. -Falei, encostando minha cabeça no meu travesseiro.
-Então... sobre isso... nós vamos ficar em um internato. -Como assim?!
-O quê?! Por que eles não me disseram isso?! -Gritei, me levantando.
-LIZZIE! -Ele me deu um grito surpreendente, como resposta e segurou as minhas mãos frias. -Desculpe. Eles queriam que eu mesmo te falasse. Seria mais fácil, você não acha? Você se altera com muita rapidez, se ainda não notou nesses 15 anos.
-Eu sei, Noah!
-Tudo bem, em resumo, nós vamos pra aula e quando sairmos, vamos para os nossos quartos, na própria escola, ok? -Ele olhou para mim.
-Okaaay! -Murmurei.
-Mas olhe pelo lado bom. A Ellie disse que teríamos nossos próprios quartos na casa que eles alugaram. Instabilidade não significa muita coisa.

-Pelo menos... -Dei de ombros.

-Ah, para de ser dramática. Estaremos juntos. -Ele me abraçou e me beijou na testa.

-Noah?

-Sim?

-Quando nós vamos? -Perguntei, um pouco ansiosa para a resposta.

-Hoje mesmo, às 11 horas. Vá descansar. Quando você acordar, eu posso te ajudar com as malas.

-Valeu. Você já vai? -Perguntei pro Noah, que já estava fechando a porta do meu quarto.

-Vou, sim. Preciso me despedir dos meus pais. Tchau e até mais tarde.

-Até. -Foi a última coisa que respondi, antes de cair no sono.

Meu cérebro foi lavado. Foi o que senti, depois do sonho que tive ou estava tendo, não sei. Tinha uma casa, dentro dele. Ela era toda azul e tinha a aparência de nova. Cheguei até a sua porta e tentei abrí-la, sem sucesso. Olhei para baixo, meio pensativa. Por que esse lugar chamava a minha atenção? O que de especial tinha nele? Não sei. Talvez pelo simples fato de ser a única casa nessa rua deserta, na verdade, dessa cidade deserta.
De repente, ouço um barulho. Alguém gritou. Tinha gente nessa casa e eu senti a obrigação de salvá-los, não importa do que. A última coisa que vi, a última lembrança foi de um papel com os dizeres "Não entre aqui".
Acordei suada. Não consegui distinguir se era um sonho ou pesadelo, muito menos o que significava. Só fiquei pensando, até dar 11 horas.
-E então eu vi um papel escrito "Não entre aqui" nele. Parece fazer algum sentido pra você? -Perguntei pro Noah, que acabara de chegar.
-Sim... é maneiro! -Dei um mini soco. -Ai! Por que você fez isso? Parece até que sua mão tem uma atração por mim. -Ele brincou com algo sério.
-Isso é sério, Noah! Pensei que você pudesse me ajudar, sei lá! -Me exaltei de novo.
-Não sou psicólogo nenhum, mas pode ser alguma coisa relacionada com a mudança. Já parou pra pensar? -Ele chutou.
-Pode ser. Só poderemos saber quando chegarmos lá em casa, né? Fazer o quê... -Suspirei.
-Hey... eu sei que pode ser difícil pra você. É muita coisa, mas você não vai ficar sozinha. Isso eu lhe prometo. Vamos continuar sendo melhores amigos, só vamos pra outro lugar. Vamos numa aventura juntos. Isso não é legal? -Ele perguntou, com as mãos na minha cabeça.
-Certo. -Tudo o que podia dizer.
-Pessoal? -Ouvimos Ellie nos chamar. -Hora de irmos. Chequem se tudo está organizado e se pegaram tudo. Temos que chegar no aeroporto com 1 hora de antecedência. -Concluiu.
-Tudo bem, mãe! -Respondi. -Pai, o senhor pode me ajudar com as malas? Eu preciso levá-las pra fora.
-Tudo bem, amor. -Ele me deu um beijo e um sorriso.
-Vamos, Oliver. Não podemos nos atrasar! -Falei pro Noah, usando o seu sobrenome, como muitas vezes faço.
No carro, o silêncio dominava. Não, não estávamos tristes ou chateados. Não mesmo, mas não tínhamos assunto e preferi olhar para Liverpool e gravar os meus últimos pensamentos e lembranças, antes de ir. Devia ter chamado o Noah pra írmos ao porto, apesar de mamãe não simpatizar muito com o lugar. Era lindo!
-Onde estão as passagens? -Meu pai perguntou, assim que chegamos no aeroporto.
-Estão todas aqui. Pensei que fôssemos esperar mais um pouco. Aquela coisa de "temos que chegar com 1 hora de antecedência" foi em vão? -Perguntei, encarando os dois.
-Não, querida. Só queríamos ver se tudo está ok. Daí, só precisamos entregar as passagens e vamos embora.
-Fala como se fosse tão simples.
-E é, Lizzie! Anda, vamos comprar um chocolate quente. Tá tudo bem? -Noah perguntou para os meus pais, que apenas assentiram.
Fiquei assistindo à mulher preparar a minha bebida quente, assim como a do Noah. O que sempre achei estranho de mim é isso, eu presto atenção nos pequenos detalhes, os que as pessoas geralmente não dão muita importância.
-Vamos indo? Nosso voo já chegou. -Meu pai nos alertou.
-Vamos. -Adeus, Liverpool. Adeus, meu lar de tantos anos.

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