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4. Emma - Outubro de 2018.

O tempo passava - lentamente, mas passava - e Harry ainda não havia chegado de sua aula. Ele já deveria ter chegado há meia hora. Emma normalmente não se importaria, mas eles haviam combinado de sair com seus amigos essa noite, e, se Harry não chegasse logo, eles se atrasariam.

Finalmente, a porta do apartamento se abre, e Harry aparece em seu terno e gravata - vestuário obrigatório para seus seminários -, já afrouxando o nó e tirando os sapatos. Emma tinha passado algum tempo elaborando uma bronca mas, ao ver o cansaço estampado no rosto dele, acabou por simpatizar com a sua dor e foi ao seu encontro com um abraço.

"Dia cansativo?" Ela pergunta, acariciando suas costas. Harry cola seus lábios aos dela brevemente antes de suspirar.

"Mm-hmm." Ele diz, simples, colocando sua mochila na cadeira. Emma queria dizer como Economia não tinha nada a ver com ele e como ele deveria largar esse curso, mas se manteve calada. "Vou tomar um banho."

Ela assente e Harry vai para o banheiro. Emma se senta no sofá e tenta se distrair enquanto o chuveiro corre. Ela vê TV, sempre notando o relógio que não para de correr, e o atraso deles aumentando.

Harry vai para o quarto, se arrumar, Emma supõe, porém o tempo passa e Harry não sai do quarto. Ela resolve ir checar, e encontra-o sentado à sua mesa, luminária ligada, encarando um livro grosso, com o marca-texto entre os dentes.

"Harry?" Emma o chama, confusa. Ele está usando apenas uma calça de moletom, sem blusa, e provavelmente sem nada por baixo também.

"Hum?" Ele responde, sem nem olhar.

"O que você está fazendo?"

"Estudando. Bem, tentando estudar Cálculo." Ele murmura e bufa, frustrado.

"Nós íamos sair, lembra? Despedida da Joanna. Vamos fazer uma 'baratona'." Ela diz. Apesar de saber muito bem que já vai ficar bêbada na primeira cerveja, a ideia de tomar um drink em cada bar, o mais rápido possível, parecia muito divertida.

"Ah. Desculpa, esqueci. Preciso estudar. Mas você pode ir." Harry diz, novamente sem sequer olhar para ela.

Emma segura o seu impulso de revirar os olhos. Ela só respira fundo e anda para o seu lado.

"Deixa eu ver isso." Ela diz e, sem pedir permissão, puxa a cadeira de Harry para trás e se senta em seu colo. Harry hesita, mas acaba por suspirar e apoiar seu queixo no ombro dela. Emma pega as folhas jogadas ao redor do livro e explora os diversos números.

"Você faz Direito, o que deveria saber sobre números?" Ele arqueia uma sobrancelha.

"Hum, se você não se lembra, eu tive Cálculo Avançado na escola." Emma diz.

"Justo."

"Você, por outro lado, teve História, Artes, e Música." Ela observa.

"Sim."

"O que nos leva a perguntar o porquê de você estar lidando com Cálculo agora. Especialmente quando poderíamos estar bebendo cerveja até não aguentar mais com os nossos amigos." Emma diz e Harry suspira.

"Não vamos entrar nesse assunto de novo, Emma." Ele quase pede, mas sabe que é um caso perdido.

"Mas nós temos que falar sobre isso, Harry. É o seu futuro. Você odeia essas coisas, esses números. Por que estudar isso?" Ela se vira um pouco no colo dele para olhá-lo nos olhos.

"O que mais eu faria?" Ele dá ombros.

"Música, Artes, História!" Emma insiste e ele bufa.

"O que mais eu faria que não me tornaria um morador de rua?" Ele debocha.