8. Liam - Dezembro de 2022.

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"Eu deveria ter escrito mais cedo.

Talvez alguns anos mais cedo. Mas o importante é que estou escrevendo agora, certo? Preciso lhe contar uma história. Se você enxergar como uma história de amor, ela terá um final triste. Mas se ver como uma história de vida, você notará que nem todos os finais felizes precisam terminar em "para sempre". Até porque não existe felicidade eterna, né? É uma conquista diária. Essa nossa busca por uma satisfação que durará por uma vida inteira já começa frustrada.

A história que tenho para contar começa familiar.

Menina odeia menino. Menino não necessariamente gosta muito da menina. Menino e menina ficam bêbados e acordam na cama, com suas roupas espalhadas pelo quarto do menino. Menina e menino se evitam por alguns dias, mas a solidão (e o álcool) os leva de novo para aquela já um tanto familiar cama. Depois da história se repetir algumas – muitas – vezes, eles reparam que talvez o álcool não seja a razão pela qual eles estão ali. Eles simplesmente fodem muito bem.

Leva alguns anos para o menino e a menina perceberem que sua relação vai além do seu tão valorizado sexo. Eles já estão morando juntos a esse ponto. Depois de um tempo, eles resolvem namorar. Por que não tentar, certo? Olhando para trás, a menina queria nunca ter tentado.

Por quê? Porque tudo tem fim. O menino traiu a menina, a menina terminou com o menino. O menino ficou ofendido e começou a beijar todas as outras meninas do Universo. Enquanto isso, em seu cantinho particular, a menina descobre que ele deixou uma surpresa para ela, uma lembrança da qual ela nunca mais se esqueceria – um bebê.

Humilhada e envergonhada, a menina não conta para ele. Não conta para ninguém. Ela pondera se deve se livrar do punhado de células que cresce dentro dela, mas decide que não tem estômago para isso. Então ela some. Finge que vai fazer intercâmbio; se desliga de todas as redes sociais. Ela tem o bebê sozinha – uma linda criança que lembra o menino em cada um de seus traços.

Os anos se passam e todas as tentativas dela de contar para ele sobre sua filha são frustradas. No fim, ele mesmo tem uma filha com outra mulher, e ela decide que está bem sem ele saber. Menos sofrimento para as duas partes.

A única razão pela qual a menina está escrevendo esse email é porque, bem... Ela está cansada de esconder. Sua filha não é um fardo ou uma vergonha a ser ocultada. É o que a faz sorrir todos os dias.

Liam... Estou escrevendo isso porque não consigo olhar em seus olhos ou ao menos ouvir sua voz e te dizer que escondi isso de você por todos esses anos. Não sei qual será a sua reação, nem mesmo sei se quero saber. Mas foi covarde da minha parte não te contar – assim como é covarde da minha parte não te dizer isso ao vivo. Não tenho como pedir o seu perdão, mas é direito seu saber. Entenderei se você não quiser conhece-la. Entenderei se você preferir fingir que nem sequer leu essa mensagem. Juro que entenderei. Você tem uma vida, e é um absurdo eu tentar mexer nela.

Não estou te contando isso porque preciso de ajuda, ou porque sinto a sua falta. Estou te contando isso porque estou cansada de me esconder, e a Abby irá comigo ao casamento da Em e do Harry no final de semana que vem. Não tenho com quem deixa-la e prefiro que você passe por esse momento de choque agora do que em meio ao casamento deles.

Me desculpe. Eu deveria ter contado. Deveria ter contado assim que descobri, mesmo com você se agarrando com outras meninas. Deveria ter contado de qualquer forma. Espero que você possa me perdoar, mas vou entender se você não o fizer.

Com amor,

Bea Park"

Liam encarava o celular, aberto no email, segurando sua filha de três anos no colo, enquanto tentava processar o que acabou de ler. Seus olhos deslizam pelas palavras novamente, mas o choque ainda permanecia. Bea tinha uma filha? Ele tinha uma filha de cinco anos com Bea?

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