7. Emma - Dezembro de 2021.

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Estava frio, muito frio, frio demais para a Califórnia. Depois de passar o inverno todo em Nova York, vendo a neve virar gelo e fazer todo mundo eventualmente escorregar e quase quebrar o cóccix, Emma tinha uma certa esperança de que a Califórnia a abraçaria com seus braços quentes, a oferecendo o tal verão eterno.

Talvez isso teria acontecido se o seu voo tivesse chegado lá durante o dia, mas, visto que já estava à noite, Emma estava quase entrando em estado vegetativo de tanto frio. Ela nem podia culpar o tempo; subestimou o frio, acreditando que nunca mais sentiria depois de tanta neve na Costa Leste. Então, quando Harry disse que iam jantar em um lugar chique, ela colocou um vestido longo cinza que não oferecia muita cobertura para os braços. Seus cabelos – agora curtos – também não ajudavam muito.

"Você está bem?" Harry perguntou, apertando a mão dela levemente. Eles estavam andando na rua porque Harry teve que estacionar meio longe do restaurante. Ela assentiu com a cabeça.

"Sim. Só um pouco de frio." Ela disse com um sorriso trêmulo. Harry não hesitou ao tirar seu paletó e coloca-lo sobre os ombros de Emma. Ela sorri, agradecida, e dá um beijo rápido em seus lábios.

Era o aniversário de namoro deles. Seis anos. Seis anos que se passaram muito rápido. Harry tinha acabado a faculdade de Música há dois anos, e agora trabalhava em uma escola de música onde ensinava crianças a tocar piano e violão. Não era o emprego com o melhor salário do mundo, mas ele estava feliz, e isso fazia Emma feliz.

Emma, por sua vez, também concluiu seu pré-curso de Direito na Yale em 2019, e passou para a Columbia University, em Manhattan, com honras. Lá ela terminou o seu curso e agora trabalha em uma empresa grande em Nova York, enquanto estuda para se tornar uma juíza. Ambos moram juntos no East Village, em Nova York, em um apartamento aconchegante na esquina da 1ª Avenida com a 6th street.

Mas eles reservaram esse aniversário, que caía em um final de semana, para fazer uma viagem. Apesar de Emma quase implorar para que eles fossem ao Havaí ou qualquer outro lugar que estivesse calor, Harry insistiu que eles deveriam passar o final de semana na Califórnia. Será uma ótima ideia, ele disse. Lá vai estar calor também, ele disse. Até agora, Emma não recebeu uma confirmação de nenhuma dessas afirmações.

"Harry, que restaurante estamos indo? Não lembro de nenhum restaurante por aqui." Emma diz, olhando em volta. Essa rua traz alguma memória à tona, mas ela não consegue saber ao certo qual.

"Queria te levar a um lugar antes de irmos jantar. Acho que você talvez reconheça." Ele responde com um sorriso de quem planejou isso tudo muito bem.

Harry para de andar e Emma acompanha seu olhar para achar um prédio muito familiar a eles dois.

"Meu Deus, a gente não vem aqui há..."

"Anos." Harry completa. Emma sorri.

"Eu estou de vestido e salto alto. Você realmente vai me fazer subir aquela escada de emergência?" Ela arqueia uma sobrancelha, mas está tão animada com a ideia quanto ele. Ela se sentia com dezessete anos de novo, apesar dos seus vinte e três anos estarem bem explícitos em seus traços.

"Pelos velhos tempos." Harry dá ombros e Emma sorri. Ela devolve o paletó dele e os dois entram no prédio, fazendo o caminho até o último andar.

Harry sobe primeiro e Emma tira os seus sapatos para não arriscar a queda. Ela puxa a saia de seu vestido para cima e sobe a escada de emergência. Harry dá a mão para ela nos últimos degraus e a puxa para cima.

Emma joga seus sapatos de salto alto no chão e desce para ficar no mesmo nível que Harry, mas quando seu olhar se foca no telhado, ela não encontra aquele espaço cinza, sem iluminação e sem nada demais. Na verdade, o telhado todo está decorado por luzinhas de natal, uniformemente distribuídas em cima deles e presas por postes improvisados nos cantos do telhado. Elas não iluminam muito, o que provavelmente justifica o número impressionante de velas – ainda que apagadas – por todos os cantos. O chão está coberto com pétalas de rosas vermelhas, rosas e brancas. Há uma mesa branca no meio do espaço, com duas cadeiras, uma de frente para a outra. Em cima da mesa, dois pratos, ambos cobertos, provavelmente para não cair nada em cima. Há uma vela entre os dois pratos, e duas taças de vinho viradas de cabeça para baixo.

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