Recomeço?

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"Se você não quer irritar as pessoas, seja um vegetal. Dance que nem um idiota nas festas, sorria como um idiota em reuniões importantes, cante músicas pop o mais alto que conseguir em frente a seus amigos indie, calce meias vermelhas quando a regra de vestiário é branco e preto. O ponto não é a rebelião, é se expressar. O ponto é que o mundo seria um lugar melhor se fossemos ensinados a ficar fascinados pelas nossas diferenças em vez de sentir medo delas, se fossemos ensinados a explorar a individualidade em vez de controlar. Se fossemos ensinados que mesmo em desacordo com o jeito de alguém se expressar, não temos autoridade para dizer que essa pessoa não pode ser ela mesma. Seja livre, ou deixe-nos ser livres." Camila Cabello

05 de agosto de 2046 – Batalhão do exército, sede de Miami

- Você acha que isso é brincadeira? Acha que eu acordo cedo para estar aqui vendo essa sua bunda mole estragando tudo para todos?! Você não me conhece...

Lauren desligou sua mente do homem gritando à sua frente. Ele estava tão perto que se estivesse em outra situação ela teria certeza de que ele estava inclinando-se para beija-la. O Sargento havia tomado essa rotina de gritar insultos a ela desde o que havia acontecido na última semana, era sempre a mesma ladainha. De manhã ele gritava por cerca de cinco minutos antes de manda-la fazer cinquenta flexões e no final da tarde era o momento em que ele mais se inspirava, gritando com ainda mais força.

Lauren tinha vontade de cuspir em seu rosto, assim como ele fazia toda vez que falava tão perto, mas ela mantinha a postura rígida, como uma estatua, braços atrás do corpo, pernas levemente separadas, olhar focado a nenhum ponto específico à sua frente.

- Soldado! Você acha que o que eu digo não é importante? – Ele pergunta com raiva, seu hálito quente encontrando a bochecha de Lauren.

- Não senhor! – Lauren responde alto.

- Eu disse, pegue essa sua bunda branca e faça as cinquenta flexões, Jauregui!

E ele não precisou falar mais uma vez. Lauren se colocou na posição já conhecida e começou os movimentos.

- Um!

Isso era culpa dela

- Dois!

Maldita.

- Três! Quatro! Cinco! Sem parar Jauregui!

E mais uma vez Lauren entrou em modo automático. Isso acontecia todas as vezes que estava em momentos como esse, momentos em que seu corpo já sabia o que fazer sem precisar de algum comando maior de seu cérebro. Era um hábito que começou a ter em seu segundo mês no exército. Ela simplesmente se desligava do que estava acontecendo a sua volta e se torturava com as lembranças.

Lembranças dela.

Lauren a odiava com todas as células de seu corpo. Se ela não tivesse entrado em sua vida, hoje ela estaria na faculdade fazendo aquilo que amava. Estaria feliz com seu par.

- Isso é o que vocês vão ganhar se seguirem os passos da Soldado Jauregui, não sejam burros assim. Vinte!

Os insultos ela já havia aprendido a esquecer, nada a machucaria mais do que sua consciência, no último ano não havia um dia em que ela não pensasse no que havia acontecido na casa do Lago, no dia do baile de formatura.

As lágrimas haviam acabado três meses após o ocorrido.

A vontade de morrer chegava a cada três meses, mas logo passava com as visitas ao psicólogo.

Os pesadelos haviam parado com os novos remédios para dormir.

Mas havia algo que não passava.

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