Capítulo 1

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Lauren estava no colo de seu padrinho, protegida nos braços dele, enquanto a pessoa que mais a amava, ia aos poucos deixando o mundo material. A sala da modesta casa de seus pais, estava escura, salvo por uma lâmpada que ainda balançava, por ter sido recentemente ligada. Anoiteceu desde que seu pai havia entrada no quarto do casal com um médico amigo seu, e eles ainda não haviam saído. Sua mãe também estava lá dentro, não deixou mais do quarto, desde que seu irmão decidiu nascer, naquela manhã.

A porta do quarto se abre, e Michael sai amparado pelo amigo aos prantos. Lauren ao notar-lo na sala, se contorce no colo do seu padrinho, até ele a colocar no chão. Ela corre e abraça as pernas de seu pai, como um adulto abraçaria uma árvore. Lauren era relativamente menor que as crianças de sua idade. Nasceu prematura, devido a complicações na gravidez de sua mãe. Complicações essas que afetaram o feto, fazendo Lauren nascer intersexual. Seu pai olha pra sua única filha, e agora sua única família, e a pega no colo a abraçando, como se ela fosse sumir.

- Pai porque você ta chorando? eu já posso ver meu irmãozinho?

- Lauren, papai tem que falar com você. - Michael caminha pela pequena sala, e coloca a sua filha sentada ao lado de seu padrinho - Mamãe e seu irmãozinho, eles estão dormindo agora.

- Então vamos acordar eles, eu esperei o dia todo oras. - Lauren diz emburrada com os braços cruzados. 

- Não podemos porque eles não vão acordar mais.

- Eles vão dormir pra sempre?

- Sim filha.

- Não pode papai, eu quero ver eles. - Lauren disse e deu um pulo do sofá, pra correr pro quarto, mas seu pai a pegou no ar - me solta eu quero ver a mamãe.

Ela se remexia nos braços do pai, fazendo força pra se soltar. Ele se levantou com ela no colo e levou ela para o lado de fora, aonde a lua iluminava a noite e o vento e cantava pelo prado. Ela começou a chorar e a espernear para o seu pai a solta-la, mas ele não o fez. Ao invés disso ele apertou ela mais forte sem machuca-la, e ninou ela cantando uma música que tocou em seu casamento com a mulher, a única que lhe veio na cabeça aquela hora. Lauren ainda chorava mas não tentava mais se soltar. Ele andou até o meio do pasto ainda balançando ela, que agora só fungava agarrada a seu pescoço.

- Eles se foram meu amor, mas papai está aqui com você.

- Eu quero eles de volta.

- Eu também, mas não é mais possível. Eles vão cuidar da gente de longe agora.

[...]

Lauren está em pé, ao lado de seu pai e seu padrinho. Cada um pega em uma mão sua, ela tem um vestido branco com folhas lilás, o preferido de sua mãe. Ela dizia que penicava, mas usou a pedido de seu pai. Conseguiu pelo menos deixá-la ir com suas botinhas preferidas de caçar sapos, elas estavam um pouco enlameadas na sola, mas ele permitiu mesmo assim.

O pastor, alguns parentes e entes queridos começam a fazer seus elogios póstumos respectivamente. Depois disso, ela olhava pra cova sendo soterrada aos poucos por dois homens com pás. Michael preferiu que o filho fosse enterrado junto da mãe, no mesmo caixão. Assim que é totalmente coberto pela terra, a despedida acaba e as pessoas começam a se dispersar, oque é acentuado assim que uma chuva começa a cair das nuvens cinzentas que cobriam o céu.

Michael pega Lauren, e corre tentando proteger a filha das gotas de chuva, a trazendo junto ao peito e seu compadre acompanha seus passos logo atrás. Neto, como é chamado o padrinho de Lauren pelos mais próximos, passa na frente dos dois e abre a porta da caminhonete de Michael. Eles entram e Neto assume o volante presumindo o espírito abalado do amigo, pela perda da mulher e do filho no mesmo dia. Lauren esta encolhida junto ao pai, com os olhos fechados, cansados de tanto chorar e Neto os deixa em casa.

Grace - A filha do sol e da Lua.Onde histórias criam vida. Descubra agora