Foi numa dessas noites que Osvaldo ouviu o filho desabafando com a mãe.
Josias já tinha dezesseis anos e ainda era virgem. O boato que nasceu no colégio e logo se espalhou pela vizinhança era de que fosse homossexual. A mãe lhe pediu que dissesse a verdade, que não havia problema se o fosse. O filho apenas explicou que não sentia necessidade em se relacionar com ninguém, que preferia ficar sozinho por ora. Bete lhe deu um beijo e foi dormir.
Quando Josias voltou a si, ainda restava o problema atual. O bebê em seu colo chorava e estava sujo de sangue. Achou melhor lavá-lo e colocá-lo para dormir. Durante o processo voltou-se para aquelas lembranças outra vez
Sentiu uma reminiscência. Visualizou mentalmente o período alguns dias depois daquela conversa com a mãe, quando começou a ser assediado por Ritinha. A moça, que morava numa rua próxima e estudava no mesmo colégio que ele, o procurava de forma insistente, apesar das tentativas dele de se esquivar.
Ritinha era tudo o que ele detestava em uma mulher. Apesar de ser bonita e dona de um corpo novo e esbelto que qualquer garoto desejaria, possuía trejeitos que o repeliam. Ela parecia fazer questão de parecer vulgar. Exagerava na maquiagem e no tamanho diminuto de suas vestes. Parecia um desafio à física sua capacidade de preencher peças de roupa bem menores do que seu corpo, e de caminhar balançando-se como quem dança.
Talvez seu caminhar fosse consequência do seu gosto por ouvir funk no celular. Tudo bem se ela usasse fones de ouvido, mas não, todos a sua volta eram premiados com música a custo zero. Se algum descontente reclamava ou pedia para abaixar o volume, conhecia outra faceta dela que Josias detestava. Ritinha era "barraqueira", adorava fazer um escândalo e chamar atenção de todos à sua volta quando era contrariada.
As recusas dele em ficar com aquela garota tão fácil só fizeram piorar a sua fama. Agora todos tinham certeza que era gay. Como um garoto como ele perderia aquela oportunidade? Era o que todos se perguntavam às suas costas.
Fugindo desse cerco, ele voltou para casa mais cedo um dia, a tempo de adentrar antes da visita costumeira. Naquela tarde, as ondas sonoras de calmaria chegavam a bordo da sugestiva hail and kill e ele achou que seria um entardecer tranquilo.
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Assexuado
HorrorO que é necessário para destruir a psiquê humana? O que é preciso para transformar homem em fera? Aparentemente não muito... --- #293 EM TERROR dia 22/06/2017 #338 EM TERROR dia 15/06/2017 #353 EM TERROR dia 22/03/2017 #374 EM TERROR dia 21/03/2017