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Tão logo Dona Angélica chegou a quietude se desfez. Enquanto o pai fornicava com a vizinha no quarto ao lado, o rapaz se indagava por que ele não nutria daquele desejo carnal, ou até mesmo amoroso, como a maioria dos mortais. Estaria ele complexado? E se estivesse, seria tudo culpa dos seus pais? Concluía que sim, afinal, a maioria de nossos desvios de caráter, são consequência de algo que nossos pais fizeram. É sempre mais fácil culpar ao outro.

Já era noite quando Osvaldo bateu em sua porta. Fingiu não ter ouvido, afinal seek and destroy preenchia o ambiente e era uma boa desculpa para ignorá-lo. Mas as batidas se tornaram murros e precisou abrir, vendo um homem embriagado querendo falar-lhe.

Josias deixou o quarto e foi à cozinha tomar um copo d'água enquanto o pai o seguia, fazendo-lhe todo o tipo de ofensas e o lembrando do quanto o odiava por ser um mariquinha. O rapaz já estava acostumado com aquele tipo de afronta e sabia que só pioraria caso se irritasse, por isso preferiu ignorar.

Mesmo após o banho, o bebê continuava chorando sem parar, tirando Josias do transe que o fazia relembrar o passado. Colocou então o pequeno no berço e foi fazer-lhe uma mamadeira para acalmá-lo. Nem mesmo o barulho do micro-ondas era capaz de abafar aquele berreiro, assim como o metal não pareceu capaz de encobrir os gritos de seu pai agonizante.

Josias lembrou-se novamente. De Osvaldo, embriagado, somente de cuecas na cozinha a atormentá-lo com aquela coisa toda de sexualidade. Conseguira desprezar aquelas ofensas até o pai lhe contar que havia contratado Ritinha para desvirginá-lo. E que nem assim ele fora capaz de fazê-lo.



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