A jornada começou

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         Minha cabeça doia tanto, eu devo tê-la batido quando cai. O vento zumbia lá fora, e um barulho emitido baixo me deixava curiosa. Eu havia tido um pesadelo, ou tudo aquilo havia sido real? Abri os olhos, e para o meu desespero estava dentro de um carro. Na frente havia um homem de pele morena e cabelo preto, no carona uma mulher loira e com tatuagens nos dois braços, eu estava sentada atrás e ao meu lado estava Will, ele tinha dormido, parecia estar muito cansado. O sol estava se pondo e deixava uma sombra estranha no rosto dele. Eu não conhecia aquelas pessoas. Cutuquei ele devagar para não assustá-lo. Mas não adiantou ele olhou para os dois lados apreçadamente e pareceu aliviado quando me viu.
_ Você está bem?_ quando ele falou a mulher do carona se virou para atrás e sorriu.
_ Olá, princesa.
       Quando me virei novamente para Will, havia um grande corte em seu peito.
_ O que aconteceu? Você esta machucado...
_ Eu estou bem_ sua expressão mudou totalmente, apertou a mandíbula e apenas olhou para a janela.
_ Will_ uma lágrima lutava em meu olho, mas a segurei, só deus sabe quanto odeio chorar.
      Ele cerrou as mãos sobre os joelhos e continuou a olhar para o vazio. Eu o machequei? O que havia acontecido com ele?
_ Quem é você?_ me virei para a mulher tatuada.
_ Meu nome é Sienna, Alteza.
_ Sienna..., já ouvi esse nome.
_ Sim, eu e Carlos somos a sua passagem para Filian.
Enquanto ela falava dei uma olhada no retrovisor, Mas o que é isso?
_Mas... o que... aconteceu com os meus olhos?
       Eles estavam de um azul profundo. As olheras roxas destacavam ainda mais, dando um tom de violeta.
_ Quando uma Filha dos Elementos domina seu poder, alguma parte do seu corpo ou até mesmo do seu coração, muda_ ela suspirou cansada_ Alguma parte sua voltou ao seu estado original_ disse Sienna.
_ Então eu ficarei assim para sempre?
_ Não. Isso é algo temporário, logo voltará ao normal, mas toda a vez que você usar seu poder ele voltará a ser azul.
_ Como assim, estado original?
_ O poder dos Elementos não vem do nada_ ela fez uma breve pausa e continuou_ Alguém da sua família pertence ao fogo também.
_ Não pode ser. Kalyndra é do ar. E eu não conheço mais ninguém, além..._ as batidas do meu coração estavam aceleradas_ meu irmão, Liam, Kalyndra, o Sr. Shalom... Everly...eles...
       A última lembrança que tenho dela, é quando estava lutando contra uma das criaturas.
_ Eles estão bem, Alteza. Foram levados até o esconderijo em segurança.
_ Mas... depois que eu desmaiei, o que aconteceu?
_ Fogo_ disse o homem ao lado de Sienna_ você queimou tudo, matou todos os Onis_ ele deu uma risada, como se fosse algo engraçado_ Foi impressionante!
_ Verdade. Você desmaiou por que ainda não controla corretamente. Mas você é forte, aguentou a força do poder.
_ Forte? Só pode estar brincando_ disse sarcasticamente_ tenho quase certeza que quem machucou Will foi eu, eu posso até ter matado alguém!_ minha voz era desesperada.
        Eu estava gritando. E a minha angústia era cortante.
_ Se a senhorita não ficar quieta, nós seremos percebidos. As janelas estão abertas, da para ouvir lá de fora!
       Olhei para fora da janela, ela tinha razão, o lugar em que estavamos passando, era cercado por vales, fazendo com que o barulho ecoasse.
       Não falei nada, apenas me endireitei. Will ainda olhava para o nada. Meu deus! Será que eu o machuquei? Fechei os olhos, apagando as imagens que apareciam como um raio nos meus olhos, deixando me envolver pela escuridão, não queria sair de lá, não queria pensar em nada.
       Cai no sono. Tirei um ou dois cochilos, mas me deixei levar pelo balanço do carro . Logo depois só me acordei com alguém me chamando.
_ Alteza?_ era Sienna.
_ Meu nome é Thália ou... Liliana_ disse abrindo os olhos_ aonde estamos?
_ Chegamos onde tinhamos que chegar. Venha.
_ Onde está Will?_ o lugar ao lado do meu estava vazio.
_ Já levaram ele. Foram cuidar do ferimento.
_ Eu quero vê-lo.
_ Agora não. Primeiro vou te levar ao seu quarto. Depois te levarei lá.
_ Por que eu devo confiar em você?
_ Olha, se eu quisesse matar você, já não estaria mais aqui_ ela me olhou de um jeito divertido.
       Ela me guiou pelo lugar. Uma casa antiga e abandonada, com trepadeiras nas paredes e algumas janelas quebradas.
        A instalação onde entramos era escondida dentro da casa. Mas o que havia em baixo dela era algo que nunca tinha visto. Soldados passaram por mim e Sienna, armados , nem sequer olharam, estavam focados. Viramos um corredor.
_ Esse é o seu quarto. Pode tomar banho, trocar de roupa, e jogá-la fora, esta toda rasgada e ensanguentada. A menos que queira guardar de lembrança.
_ Não vejo a hora de tirar.
Entrei e me sentei na cama.
_Aqui estou eu..._ falei para mim mesma.
        Foi difícil tirar o sangue seco da minha pele e do cabelo, mas consegui. Eu tinha um corte na testa e outro na perna, onde o Oni havia me acertado, não estavam doendo muito mas a aparência não era boa.           Coloquei uma roupa bem leve. E sai.
_ Oi! Que susto!
_ Desculpe. Não quis assustá-la princesa.
        Era o Carlos. Ele estava com uma cara de espanto e fundas olheras, fico imaginando a quanto tempo não dorme.
_Tudo bem.
_ Venha. Vou te levar para ver seu amigo.
_Como ele está?
       Ele cerrou o maxilar, e encarou o corredor.
_ Ele... foi bem corajoso. Quando desmaiou, havia um dos demônios que sobreviveram, em cima de você. Ele correu para te salvar, e o matou, não antes que a criatura o cortasse com a garra.
_Como ele está?_ perguntei novamente.
_ As garras geralmente tem uma toxina, felizmente temos a cura, mas vai levar alguns dias para ele se recuperar totalmente. Eu já fui arranhado, e posso te dizer que a dor é insuportável.
Obrigada, isso me alíviou muito!
_ Eu também fui arranhada. Mas não houve nada. Isso quer dizer que o Oni que eu matei não era... venenoso?
_ Exatamente_ ele parou na frente de duas portas transparentes_ Chegamos.
         Empurrei a porta e entrei na sala. Havia várias camas vazias no local, mas bem no final, um corpo estava esticado.
_ Oi.
_ Oi_ a voz dele era rouca e reconfortante.
_ Como se sente? Está doendo?
_ Não, eu estou bem. E você?
       Disse apontando para o meu corte na testa.
_ Foi só um arranhão, nada de mais.
        Os pupilas dos olhos dele estavam dilatadas, como se fossem a escuridão do espaço, desaparecendo com o castanho natural de seus olhos.
_ Eu pensei que houvesse apenas um demônio Oni.
_ Só tem um. Aqueles eram mutantes. Em algumas culturas antigas os Onis são considerados como os ogros. Não são tão perigosos quanto os transformistas, mas não podemos subestimá-los.
_ Transformistas?
_ É. São demônios que se transformam em tudo que tocam. As vezes você pode passar por um e confundi-lo com uma criança, ou um idoso.
_ Como você sabe tanto sobre demônios?
_ Quando se luta contra eles, você tem que saber tudo.
_ Pensei que fosse um dos soldados.
_ E sou. Mas fui treinado para matá-los, e proteger as pessoas dos ataques.
_ Como no Norte.
_ É. Mas eu não quero falar sobre isso agora.
        Ele se contorceu.
_ Tudo bem. Ah, obrigada... por ter me salvado, quando eu desmaiei.
         Sua expressão mudou.
_ Não foi minha escolha.
Seu corpo ficou tenso e seus punhos se fecharam. Ele nunca havia falado assim.
_ Eu... você deixar você descansar. Se precisar de alguma coisa é só chamar.
Achei melhor ir.E sai de lá. Carlos estava ao lado da porta.
_ Está tudo bem? Parece pálida.
_ Não...você pode me dar um curativo? Para mim colocar na minha perna?
_ Ah. Vou te levar na enfermaria.
       Ao lado da sala de repouso, havia uma porta preta.      Entramos e para minha surpresa um rosto conhecido me fitava.
_ Everly!_ a abracei e ela pareceu surpresa
_ Oi! Como a senhorita está?
_ Pensei que... que bom que está aqui.
         Ela me deu um de seus sorrisos calorosos. Ela era como um arco-íris depois de uma tempestade.
_ Sente-se aqui vou cuidar de seus ferimentos.
        Ela tinha mãos tão delicadas. Cuidavam de meu corte na perna como se estivesse bordando a mais fina seda.
_ Está doendo?
_ Na verdade, não muito. As vezes sinto uma formigação.
_ Bom, a senhorita foi muito corajosa. Lutou bravamente.
_ Eu? Você que lutou como um soldado!
      O rosto dela se avermelhou.
_ Obrigada, Thália.
Era a primeira vez que me chamava pelo meu nome sem que eu pedisse.
_ Eu é que agradeço.
_ Pronto. Já terminei. Agora é melhor você descançar, foram muitas coisas para um só dia.
_ Tem razão. Eu vou para o meu quarto.
       E voltei para o cômodo silencioso e escuro. Me deitei na cama dura e fechei os olhos. Peguei no sono e não sonhei com nada, era apenas eu e a escuridão.
       Não sei quanto tempo passou.Um barulho irritante soava no corredor, uma luz piscava e a porta se abriu.
_ Desculpe, alteza. Mas é melhor você me seguir.
_ Aconteceu alguma coisa? Estamos sendo atacados?
      Corri até a porta empurrando Carlos para ver o que acontecia.
_ Não, está tudo bem. É treinamento de rotina para os novos soldados. Mas você esta sendo chamada na biblioteca. Aqui tem roupas novas, são mais confortáveis para lutar.
_ Eu vou lutar?
_ Talvez não hoje. Mas quem sabe. Estou esperando aqui fora.
       Ele jogou as roupas para mim e saiu. Era uma calça escura e uma blusa. Troquei de roupa e amarrei meu cabelo.
        Carlos estava conversando com um dos soldados quando eu saí. O homem de olhos cinzas me pareceu envergonhado quando me viu.
_ Alteza_ fez uma reverência e saiu.
_ Vamos! Você precisa aprender muita coisa em pouco tempo!
_ Que tipo de coisas?
_ Tudo, vai aprender a usar novas armas, como fazer fogueiras, aprender a sobreviver sozinha. Ah, e também A História de Angelim.
_ Eu também vou aprender sobre as criaturas? Demônios, fadas...
_ É claro que sim. Mas vai ter que aprender tudo em três dias.
_ É pouco tempo, mas eu consigo.
_ Certamente. Chegamos, pode entrar.
        Paramos em uma porta de madeira grande. Que se abriu com um rangido. Dentro havia inúmeras prateleiras e milhares de livros e no centro da sala estavam centados ao redor de uma mesa, rostos familiares.
_ Chegou quem faltava! Seja bem-vinda ao grupo dos alejados.

Rainha NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora