Capítulo 23

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Lia

01H02

O seu corpo estava deitado ao meu lado sobre a cama de casal bastante confortável. Com os olhos fechados e a respiração calma. O cabelo preto com os pequenos caracóis um pouco despenteados e uma postura serena. Estava todo nu e apenas os lençóis o tapavam até à sua cintura deixando o seu peito descoberto. Sorri enquanto o observava a dormir ao meu lado. Ajeito levemente a minha almofada enquanto ele muda de posição, ainda num sono profundo, e fica deitado de lado, virado para mim, dando-me assim uma perfeita visão do seu rosto.

Desviei por segundos o meu olhar do seu rosto e visualizei as horas no meu telemóvel pousado na mesinha de cabeceira. Pouco passava da uma da manhã. Já era tarde e eu ainda não tinha adormecido. Não conseguia dormir simplesmente. Não tinha sono, talvez. Também sentia uma certa azia subir-me pela garganta acima. Não sei mesmo o que se passava comigo, talvez o meu chocolate quente do Sturbucks me tivesse feito mal.

Mudei de posição na cama e coloquei-me de barriga para cima. Se não fosse a luz da Lua a iluminar o quarto através da janela, o mesmo estaria todo escuro. Mas não estava, e com isso deu-me uma visão do teto. Encarei-o. Não sei por quanto tempo. Se foram segundos, minutos ou até horas porque não estava interessada em saber. Mas já estava tarde e eu precisava de dormir, ou pelo menos descansar, mas ia longe.

Voltei a mudar de posição, para a inicial. Virada de lado para Enzo. Ele continuava calmo, como se nada se estivesse a passar em seu redor, como se eu não estivesse ali toda inquieta a tentar dormir. Ele continuava perdido num dos seus sonhos, que eu nunca soubera como são.

Bocejo, mas o sono não quer dar a cara e levar-me consigo. Suspiro já impaciente sem saber o que fazer.

De repente sinto-me gelada e reparo que já não tinha o cobertor a cobrir-me. Talvez eu precisasse do calor de Enzo. Talvez fosse mesmo isso. Puxei o cobertor para cima voltando-me a tapar e aproximei-me dele. Abracei-o. Juntei o meu peito nu ao seu peito nu e fechei os olhos. Senti-o mexer-se muito devagar e as suas mãos abraçaram todo o meu corpo transmitindo o seu calor para mim.

Dou um pequeno beijo no seu peito como forma de agradecimento. Ele voltou a mexer-se e senti que ele estivesse a ver as horas no seu telemóvel de última geração, e logo voltou a apertar-me contra ele.

- Dorme querida, já está tarde... - Ele sussurrou.

Virei-me de costas para ele e juntei as mesmas ao seu peito. Ficamos em conchinha e voltei a fechar os olhos. Ele voltou a adormecer. Podia sentir isso devido à forma como ele mudou a velocidade da sua respiração. Ficou mais calma, mas ao mesmo tempo mais pesada, dando início a um novo sonho.

O seu calor invadiu-me por completo mais uma vez e finalmente sentia-me mais confortável. O seu toque era o meu porto seguro. Sentia-me protegida nos seus braços e amada ao ouvir as suas palavras de preocupação, de consolo e de gracinhas que ele fazia.

Sorri mais uma vez. A segunda vez desde que estou acordada depois de um bom... hm... sexo. Mas a azia continuava ali, como se o meu estômago estivesse revoltado com o que eu comia e me quisesse castigar com aquele vómito que nunca mais saía. Tipo vómito ilusão.

O calor de Enzo continuava alia, os seus braços continuavam a apertar-me levemente e ele continuava ali também. Mas eu não sei se estava alia, ou estava? Eu não sei. Eu estava estranha, eu sabia que estava. Mesmo depois de 2 semanas, as revelações de Enzo ainda me causavam um grande efeito. Eu não sabia como agir ou o que fazer. E logo que agir e fazer têm diferentes significados, e os dois são importantes na ação humana. Mas nada conseguia explicar o que eu sentia. A biologia não, a fisica não e nem mesmo a filosofia.

A minha respiração torna-se mais pesada e sinto algo de anormal dentro de mim. Abro os olhos arregalando-os de seguida, apercebendo-me do que ia acontecer. Tento livrar-me do aperto de Enzo mas está difícil. Ele era bastante pesado, mesmo sem sequer fazer qualquer força.

Sinto mais uma vez o meu estômago a revirar-se. Eu precisava rapidamente de sair dali e entrar na casa de banho. Aperto os braços de Enzo e abano-o.

- Enzo! Enzo! - Falo tentando retirar os seus braços do meu redor. Eu sei que podia ter pensado numa melhor hipótese para sair dali, mas quando se está prestes a vomitar é que se foda o resto.

Sinto os braços dele a desviarem-se e nem penso duas vezes. Levanto-me rapidamente, não me importando com a minha nudez, e corro na direção da casa de banho guiando-me pela luz que a Lua transmitia para o quarto.

Ajoelho-me em frente à sanita e faço o serviço. Deitar o meu delicioso chocolate quente e o jantar para fora, e sujar a coitada da sanita que leva com tudo do Ser Humano problemático.

Levanto-me derrotada. Isso é que é o mais estranho, porque até agora eu só queria deitar aquilo fora e poder dormir à vontade nos braços do meu menino. Descarrego a água e fecho a tampa da sanita para não ver o estrago. Caminho até ao lavatório e lavo a boca, mas o mau hálito continua. Escovo os dentes e pouco depois reparei na presença de Enzo encostado na porta da casa de banho. Não o olhei. Estava demasiado envergonhada com o que se tinha acabado de passar, mesmo que ele não soubesse de nada.

Ouço os seus passos, mesmo silenciosos. Nós tínhamos um tipo de conecção talvez, pois eu conseguia sentir a sua presença a km dali. Os seus braços fortes rodeiam a minha cintura nua, e a sua cabeça fica pousada no meu ombro depois de desviar o meu cabelo loiro do mesmo. Olhamo-nos nos olhos um do outro através do espelho. Ele estava sério mas com cara de sono, e eu estava com uma péssima cara.

- É melhor fazer-te um chá para isso. - Sussurrou e depositou-me um beijo na bochecha. - Deve ter sido pelo que comemos ao jantar, ou então estás doente.

Assenti e pousei a minha cabeça sobre o seu peito.

- Deve ter sido do jantar... - Sussurro e o sono apareceu, sentindo-me fraca de repente. Agora é que vens seu maldito?

- Anda, vamo-nos vestir e vamos à cozinha para te preparar o chá.

Vesti a sua t-shirt e um robe, e calcei os chinelos de quarto. Enzo vestiu umas calças de desporto e uma t-shirt.

Descemos e o silêncio reinava na casa. Os empregados que dormiam lá, ficavam no andar de baixo mas os seus quartos ainda ficavam longe da cozinha. Entramos nela e sentei-me num banco em frente à ilha. Observei todos os momentos de Enzo a preparar o chá e minutos depois entrega-me uma caneca com o mesmo.

- Obrigada. - Sussurro e começo a beber aos poucos os chá, aproveitando e aquecendo as minhas mãos pálidas. Alguns minutos depois acabei com o chá e levantei-me para lavar o copo, mas Enzo pegou-o das minhas mãos.

- Deixa estar. Eu lavo isto. - Falou, ainda sério. Apenas assenti.

- Não sabia que fazias chãs. - Murmurei encostada à bancada enquanto o observava a lavar o copo e a colocá-lo a secar.

- Aprendi algumas coisas de culinária com o tempo. - Murmurou e virou-se para mim. - Estás melhor? - Beijou a minha testa.

- Sim, obrigada pelo chã e desculpa ter estragado o teu sono de beleza.

- Estás desculpada. - Sorriu e abracei-o.

Apertei-o mesmo contra mim sem me importar com o resto. Não o queria deixar, com medo do que poderia acontecer se eu descobrisse mesmo o que se passava comigo e ele me deixasse.


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