Capítulo 2

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Pela segurança do grupo, todos da resistência deveriam aprender a manejar espadas, arcos, lanças e demais táticas que eram necessárias a sobrevivência. Por conta de seu problema pulmonar, Ally não conseguia correr longas distâncias muito menos acompanhar o ritmo dos outros nos exercícios rotineiros. Mesmo assim, seu pai a ensinara de tudo um pouco dedicando paciência e tempo a acompanhando em seu ritmo. No entanto, Ally já estava ficando exausta de sempre ser deixada para trás. Vira seus melhores amigos saírem em missão e nunca mais retornar enquanto ela permanecia no conforto da caverna escura. Ela já estava chegando em seu limite. Há alguns dias atrás havia comentado com o seu pai que queria a oportunidade de sair em missão com ele, mesmo que fosse a mais simples, mas o mesmo negou veementemente, a segurança dela vinha em primeiro lugar em sua vida e não se perdoaria se algo acontecesse a ela. Ally insistiu pelos dias que se seguiram mas a resposta continuou sendo negativa. Ela não queria continuar sendo a donzela intocável da montanha, até porque muitos de seus companheiros falavam em suas costas pelos corredores de sua alta proteção, a virgem da montanha era como a chamavam. Isso bastava.

A noite seu pai retornara da missão. Ambos do grupo de reconhecimento estavam muito cansados. Ally o aguardava impaciente no quarto que compartilhavam quando o viu entrar.

- Pai, está tarde, estava preocupada, o senhor não retornava - disse o abraçando.

- Desculpe te preocupar querida, tivemos muito trabalho.

- Pai, me deixe ajudá-lo - disse o fitando nos olhos.

- Querida, você já me ajuda muito - respondeu posando a mão no ombro da filha com carinho.

- Não pai, o senhor sabe do que eu estou falando, por favor me dê a oportunidade, eu vou ficar bem, não vou decepcioná-lo. - insistiu agora com lágrimas nos olhos.

- Meu bem, eu sei o que você quer fazer, mas não precisa sair em missão para se mostrar forte. Você já é. Apenas aceite. - ele se desvencilhou de seu abraço e caminhou até o fundo do quarto adentrando em uma passagem. Ela o seguiu.

- Você não entende pai - esbravejou logo atrás dele - Eu não aguento mais isso, não posso ficar presa dentro dessa montanha pra sempre, você sabe disso, se o meu destino for morrer lá fora no primeiro dia que eu sair que seja, seja aqui dentro ou lá fora eu vou morrer de qualquer forma.

Seu pai se virou subitamente e apontando o dedo na face de sua filha disse raivosamente.

- Nunca mais diga isso. - apertou a mão em punho em sua frente e completou - Não quero ouvir isso de você nunca mais entendeu!? Você não vai morrer, pelo menos não enquanto eu estiver aqui para protegê-la.

Ela olhou assustada fixamente nos olhos do pai, ela o vira exaltado pouquíssimas vezes. As palavras que se sucederam saíram quase como um sussurro.

- O senhor não pode me proteger pra sempre. Não pode me esconder do meu destino, e eu sei que o meu destino, não é ser a rainha intocável da montanha. - ela deu lhe as costas e saiu do quarto. Seu pai ficou parado, estático, cujo movimento se manifestou apenas nas lágrimas que rolaram pelo seu rosto, ouvindo os paços de sua filha sumirem ao longo do corredor escuro.






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