Capítulo 3

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A noite estava fria com o céu estrelado. Do topo da montanha era possível observar a vasta planície que se estendia no horizonte pelo lado leste. No pé da montanha de um dos lados, havia uma mata densa com árvores gigantescas, eram as famosas anciãs. Pouco se sabia sobre a floresta, o único fato concreto era que estavam ali há muito, muito tempo. Sua fama era conhecida pela idade que possuía e também pelas histórias que abrigava. Muitos fugitivos da lei, pessoas comuns e até mesmo líderes renomados adentravam a floresta em busca de refúgio, um local que pudessem se acalmar e procurar a solução para seus problemas. Alguns retornavam certos de que todas as respostas haviam sido encontradas, outros ao contrário, voltavam com mais perguntas em suas mentes do que poderiam suportar e acabavam sendo apelidados de loucos. Na minoria dos casos, um ou outro nunca retornava da floresta, diziam que haviam sido escolhidos para o jardim das anciãs, um lugar calmo e tranquilo onde os sonhos se tornavam reais, e você poderia viver de acordo com eles. Isso na maior parte das vezes atraia pessoas de todas as partes para o interior da densa mata. No entanto, com a invasão de Kosovo nas terras de Kritéia a dezenove anos atrás, a floresta e suas histórias haviam perdido o brilho. Não havia mais pessoas interessadas em respostas, não se sonhava mais, só havia tristeza, murmuração e choro.
Ally estava parada diante da floresta observando a vasta escuridão por entre as árvores. Depois da discussão que tivera com seu pai, o que ela menos queria era se socializar com as outras pessoas da montanha. Ela queria ficar sozinha, "colocar as coisas no lugar" ela pensava. "Eu só preciso de um tempo, um tempo sozinha" e não havia lugar melhor do que a floresta. A montanha separava a longa planície onde o exército kosoviano montava acampamento e a floresta, logo, não haviam guardas guardando o local, o único perigo eram os seus próprios medos. Por mais que ela entendesse o lado do pai em querer mantê-la segura, mais cedo ou mais tarde, ela precisaria enfrentar o pior. Ela não o teria para sempre a seu lado, e com a intensificação da guerra nos últimos anos, esse medo de perca do pai, tornava-se cada vez mais constante em seu coração. Ela precisava tomar uma atitude, não queria ser dependente de ninguém pelo resto de sua vida, mas seu problema de saúde a deixava indefesa. "Deve haver uma saída", pensava, "Por que isso tinha que acontecer? Por que eu tinha que ser tão fraca quando quero ser forte?".
- Eu preciso de respostas. – disse baixo para si mesma fitando as robustas árvores a sua frente, e dando um passo após o outro, ela adentrou na escuridão da floresta.
A passos calmos e lentos ela foi se distanciando da beira da floresta pela qual adentrara. Estava escuro e apenas a luz do luar e o céu estrelado iluminavam o caminho. Não havia sinal da presença de nenhum tipo de animal selvagem, apenas árvores, o som da leve brisa da madrugada passando pela copa das árvores e escuridão. Alguns meses antes ela ouvira alguns camponeses em uma das típicas rodas em volta de uma fogueira conversarem a respeito da floresta e os segredos que guardava.
"Para alguém encontrar as respostas que tanto procura, o antigo adverte:
Deixai entrar o predecessor,
Dai nome ao que já fora antes,
Lançai-o no abismo mais profundo,
Abraçai o manto vermelho,
Deixai fluir de dentro para fora o que enceste novamente." – diziam.

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