A notícia ♥

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Já se passaram 3 semanas e o Bernardo está um doce comigo, ele costuma querer sair comigo nos sábados e domingos e sempre aceita minhas opções de lugares para ir ou alguma coisa para fazer, não que eu seja anti-social mas não gosto muito de ir sempre em shopping ou em lugares que tenham muitas pessoas juntas, seria isso uma espécie de fobia? Não sei.
É sexta-feira e já decidimos o que vamos fazer amanhã: assistir filme na casa dele. Os pais dele parecem gostar muito de mim e eu me sinto muito bem quando vou na casa dele, o legal é que os nossos pais já fizeram amizades e sempre combinam de jantar ou saírem juntos, fico feliz por isso.
Estava lendo um livro na minha cama, quando de repente escuto o meu celular fazer barulho e vibrar em cima do criado-mudo, pego o marca páginas do Mickey que ganhei de natal da Ana (sim, eu amo o casal Mickey e Minnie), coloco na página em que parei e então pego o celular.
- Mensagem de Clara -
"Boa noite amiga, tudo bem?"
- Mensagem de Alice -
"Olá, estou bem e você?"
- Mensagem de Clara -
"Estou bem. Ia te chamar para vir aqui em casa amanhã, mas tenho certeza que já tem compromisso com o Bê."
- Mensagem de Alice -
"Vamos assistir filme na casa dele. :)"
- Mensagem de Clara -
"Que fofo! *-* Usem camisinha ok? [Risada]"
Fiquei um pouco incomodada com aquela mensagem, é claro que eu e o Bernardo não iríamos fazer nada demais, não era a primeira vez que eu ia na casa dele assistir filme e ele nunca fez nada comigo que chegasse a esse ponto, ele tem a cabeça no lugar e eu também. Não respondi. Coloquei o celular no criado-mudo novamente e voltei a ler.
Depois de 30 minutos, o celular tinha feito barulho algumas vezes, mas eu não quis pegá-lo. Olhei no relógio que eu tinha no quarto, eram 21 horas, decidi descer e pegar alguma coisa para beber.
Minha mãe estava na sala, com o telefone na mão, estava balançando as pernas e seus braços pareciam tremer, estava nervosa. Olhei para ela por alguns instantes, mas seus olhos não desgrudavam do chão. Fui para a cozinha e abri a geladeira, depois de procurar por algo decidi tomar um copo de chá gelado sabor lichia que eu amava. Voltei para a sala e a minha mãe estava do mesmo jeito, me sentei ao lado dela.
- Quer mãe? - Estendi o copo para ela.
- Obrigada. - Ela negou com a cabeça, forçando um sorriso, sem tirar os olhos no chão.
Ficamos em silêncio por alguns instantes.
- Esperando ligação de alguém? - Perguntei quebrando o silêncio.
- Sim.
- Está tudo bem?
Pela primeira vez ela olhou para mim e deu mais um sorriso forçado. - Ah, é claro filha.
Aquele sorriso dela e seu olhar tão murcho não me enganavam, se ela estava chorando minutos antes, eu não sei, mas algo estava deixando-a abalada. Achei melhor subir para o meu quarto e deixá-la sozinha.
Decidi pegar o celular e finalmente responder as mensagem, já estava mais calma e poderia elaborar melhor uma resposta para a Clara.
- Mensagem de Clara -
"Amiga?"
"Cadê você?"
"Me desculpa, acho que não gostou do que eu disse, mas é claro que eu disse brincando."
"Alice cade você?"
Respirei fundo, é claro que eu não queria magoa-la, ela tinha sim, dito brincando pois me conhece bem e sabe minha opinião sobre esse assunto.
- Mensagem de Alice -
"Oi Clara, desculpa. Acabei me concentrando demais aqui no livro e nem ouvi as mensagens."
Achei melhor não tocar no assunto. Tinha mensagens do Bernardo, fui ver.
- Mensagem de Bernardo ♥ -
"Oi minha princesa, tudo bem?"
- Mensagem de Alice -
"Tudo sim e você Bê?"
Ele estava online e no mesmo minuto me respondeu.
- Mensagem de Bernardo ♥ -
"Estou bem. O que está/estava fazendo? Demorou para responder."
- Mensagem de Alice -
"Estava lendo e depois desci na cozinha para pegar um copo de chá."
Assim que enviei a mensagem a imagem da minha mãe me veio a cabeça, o que será que tinha acontecido para ela ficar tão abatida daquele jeito?
Fiquei conversando com o Bernardo até a hora de dormir, o que me ajudou a esquecer sobre esse assunto.

♥♦♥♦

- Filha... Filha... - Meu pai mexia no meu cabelo com a intenção de me acordar. O que era bem estranho pois era sábado e eu geralmente acordava tarde aos sábados.
AI... SOCORRO... Será que dormi demais e estava na hora de ir para a casa do Bernardo? Eu não dormi tão tarde ontem e combinei com o Bê que eu sairia de casa às 15 horas, não acredito que dormi tanto assim.
- Filha... Vamos meu amor, acorde. - Meu pai aumentou a voz quando percebeu que eu estava quase acordando.
Abri os olhos e olhei para ele, os seus olhos estavam inchados... Sentei rápido na cama.
- Que horas são? - Pergunte coçando os olhos tentando enxergar o relógio.
- 4h45.
- O QUÊ?
- Filha, preciso que você se arrume e desça para a cozinha, ok? Não demore.
- M-mas pai... Por que tão cedo?
- Conversamos lá em baixo. - Ele se levantou da minha cama e foi em direção a porta para que eu não insistisse mais.
- Tudo bem, é... Vamos sair? - Perguntei não só porque queria saber porque ele estava me acordando tão cedo como também para saber se deveria colocar alguma roupa especial...
Ele apenas fez um movimento afirmativo com a cabeça e saiu do meu quarto, fechando a porta. Levantei, fui para o banheiro e lavei meu rosto. Enquanto escovava os dentes várias perguntas me passavam pela cabeça, tudo aquilo estava muito estranho pois se íamos sair, eu teria que avisar o Bernardo, mas como meus pais decidem que vamos sair assim, de última hora? Eu tinha perguntado dois dias antes se iríamos sair no final de semana para que eu pudesse combinar de fazer algo com o Bê e eles negaram, dizendo que era só avisá-los depois o que eu e o Bernardo iríamos fazer para que eles se programassem. Eu não sabia onde íamos e nem como o tempo estava lá fora, eu estava com muito frio, mas isso não é novidade para mim que sou muito friorenta, porém esse argumento é inválido para essa situação pois eram 5 horas da manhã e nesse horário, sempre é muito frio. Coloquei uma calça jeans preta, uma camiseta normal e uma blusa de frio, nos pés coloquei meu all star branco e no cabelo a única coisa que fiz foi penteá-lo e prende-lo em um coque alto e desarrumado, nem pensei em maquiagem, só pensei em descer logo e descobrir o que estava acontecendo. Peguei meu celular, o coloquei no bolso de trás da calça e desci.
Cheguei na cozinha e vi minha mãe, sentada na mesa da cozinha com uma xícara grande de café na mão, chorando sem parar. Meu coração se apertou e foi nesse instante que eu acordei de verdade e vi que nada estava normal. Fiquei paralisada na cozinha olhando para ela que assim que levou seus olhos aos meus, deu um grande suspiro tentando não chorar na minha frente.
Meu pai estava de costas, provavelmente preparando alguma coisa para comer. Quando ele percebeu que eu estava na cozinha ele me olhou com os olhos baixos.
- Oi filha, sente-se. O que vai querer?
- Quero saber o que está acontecendo. - Disse sentando de frente para a minha mãe, lugar onde eu sentava todos os dias.
- Não é nada. - Meu pai disse se virando novamente para a pia.
- Como não? Estou acordada às 5 horas da manhã, em um sábado e minha mãe está chorando sem parar enquanto toma um café.
- Tudo bem, tudo bem... Me diz o que quer comer e já te conto tudo.
Eu estava ficando cada vez mais impaciente, respirei fundo para não perder o controle e ser grossa com meu pai, ele não merecia.
- Acho que vou comer apenas uma banana com aveia, não estou com muita fome. - Disse com a voz baixa, enquanto me levantava e ia até o armário para pegar a aveia.
Meu pai não disse nada, terminou de fazer panquecas para ele e se sentou na mesa. Minha mãe estava comendo algumas torradas com geleia e até agora não tinha dito uma palavra sequer. Peguei uma xícara de café e enquanto amassava minha banana pude ouvir meu pai respirando fundo antes de começar...
- Filha, eu preferia que você comesse primeiro antes de eu te contar o que está acontecendo aqui.
- Por que? - Perguntei sem tirar os olhos o meu prato.
- Te conheço.
Eu não estava entendo nada do que estava acontecendo e estava ficando nervosa por isso.
- Pai, por favor. Sei que me conhece e que pelo jeito a noticia não é boa, posso perder a fome e não comer, mas por favor... Prometo comer mesmo depois de saber.
Meu pai olhou para mim com os olhos baixos e ainda inchados, minha mãe apertou os lábios ao perceber que ele iria contar, com a intenção de segurar o choro, a essa altura eu já estava tremendo.
- Filha, sua avó...
Olhei séria para o meu pai. Minha avó estava internada fazia uma semana.
- Ela não resistiu.
Foi a única coisa que ele disse antes de se concentrar em suas panquecas, minha mãe já estava chorando de novo e eu... Bom, eu não estava ali, não naquele momento. Na minha cabeça se passaram momentos maravilhosos que eu e minha avó passamos, ela sempre foi uma mãe para mim, sempre me defendeu e me ensinou muita coisa, simplesmente eu não estava acreditando. Parei por um instante de colocar aveia no meu prato e olhei para o meu pai, eu estava me sentindo frágil, sozinha. Meus olhos se enxeram de lágrimas e eu não tinha forças para levantar da mesa, as lágrimas teimavam comigo e insistiam em escorrer rapidamente pelo meu rosto, molhando minha roupa. Quando finalmente consegui respirar e sair daquele transe de câmera lenta, o meu choro enfim fez barulho e meus pais olharam para mim. Eu não conseguia parar de chorar, gostaria de sair correndo dali, me trancar no meu quarto e não sair dele tão cedo, mas eu prometi ao meu pai que iria comer e foi isso que eu fiz, mesmo chorando eu comi minha banana com aveia e tomei metade da xícara de café, o que é estranho porque normalmente tomo sempre de duas a três xícaras.
Quando acabei olhei para os meus pais. Meu pai se levantou e pegou dois calmantes no armário, entregou um para mim e outro para a minha mãe e então disse:
- Sairemos daqui 20 minutos. Filha, nós vamos para a casa da sua avó, prepare uma mochila e mande uma mensagem para o Bernardo explicando a situação e pedindo desculpas por não ir hoje à casa dele.
Apenas fiz um movimento afirmativo com a cabeça, ainda chorando enquanto tomava o calmante. Subi para o meu quarto e quando fechei a porta eu desabei. Um choro forte que doia o peito, olhei para a minha escrivaninha e em um porta retrato cor de rosa que ganhei de presente da minha avó, tinha uma foto nossa, no aniversário dela de 63 anos a dois anos atrás, ela me deu o primeiro pedaço de bolo e tiramos a foto, eu segurando o bolo e ela me abraçando e me dando um beijo forte na bochecha.
Fiz uma mala como meu pai pediu com poucas roupas, não aguentaria ficar muito tempo naquela casa, mesmo sendo á 2 horas da minha casa eu teria que vir embora logo, teria que dar um jeito de fazer meu pai me trazer, nem que eu fique sozinha em casa depois, porque ficar naquela casa sem a minha avó, seria como ir para Orlando e não ver o Mickey.
Sentei na minha cama e peguei o celular, o choro ainda estava forte e eu me perguntava se o calmante não faria efeito.
- Mensagem de Alice -
"Bom dia Bê, tudo bem? Sei que só irá responder essa mensagem quando acordar e sei que vai ser bem longe das 5h22 da manhã. O motivo pelo qual te envio uma mensagem assim tão cedo é que ocorreu um problema e eu não poderei ir à sua casa hoje, me desculpe por favor. Talvez esteja um pouco em cima da hora para avisar, mas espero que me entenda. Um beijo."
Achei melhor não citar o falecimento da minha avó na mensagem, pois isso o deixaria chateado e talvez muito preocupado o que geraria muitas mensagens ao longo do dia e eu não estava disposta para explicar tudo.
Desci e meus pais estavam na sala me esperando, minha mãe finalmente me abraçou e aquele abraço acolhedor só me fez sentir mais saudades da minha vovó... Choramos durantes alguns longos minutos, abraçadas... Até que meu pai pediu para que fossemos para o carro. Entrei no carro, coloquei um fone no ouvido e deixei que a música me levasse.
Chorei até pegar no sono o que aconteceu rápido devido ao calmante e para piorar... Sonhei com a minha avó.

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