Convite ♥

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Consegui dormir bastante e eu dormiria muito mais se o meu celular não começasse a tocar.
Peguei ele em cima do criado-mudo, era o Bernardo e quando me lembrei de tudo o que aconteceu, meus olhos se encheram de lágrimas, eu ainda não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo. Eram 18h47, coloquei o celular no silencioso e deixe tocar. Consegui dormir mais um pouco, pois o remédio tinha um forte efeito e como se não bastasse um, eu tomei dois.
Toc Toc Toc.
Alguém batia na porta e eu demorei um tempo para acordar e perceber que não era sonho e alguém realmente estava batendo na porta do meu quarto. Torci para que não fosse o Bernardo.
- Entra. - Disse ainda meio fraca, tentando me sentar na cama.
- Oi filha, vim ver como você está, não desceu para comer nada até agora. - Meu pai disse entrando no quarto e acendendo a luz, o que me fez fechar os olhos novamente.
- Não desci para comer porque estava dormindo e não estou com fome. - Não menti.
- Como não? - Ele perguntou assustado.
- Eu não sei pai, não estou com fome.
Ele me olhou sério, sabia que algo tinha acontecido. Saiu do meu quarto, fechou a porta e voltou depois de alguns minutos, nem bateu na porta para entrar me dando um susto. Ele estava com uma bandeja na mão e minha mãe estava atrás dele, encostada na porta.
- O que é isso? - Perguntei me sentando na cama novamente.
Ele não disse nada e colocou a bandeja no meu colo. Tinha um pedaço de bolo de cenoura com cobertura de chocolate, um copo de suco de laranja natural, algumas bolachas recheadas e também um comprimido.
- Mas eu não estou com fome. - Disse depois de analisar com detalhe cada coisa que tinha ali.
- Sei que não, mas você precisa comer.
- E esse remédio?
- É para dor de cabeça e dor no corpo, você não parece estar muio bem. - Pude ver um pequeno sorriso em seu rosto.
Eu realmente não estava bem, então peguei o remédio e o tomei com um pouco de suco. Logo já estava beliscando algumas coisas.
- Aconteceu alguma coisa? - Minha mãe perguntou, se aproximando.
- Não, por que?
- Bernardo ligou perguntando se estava tudo bem, disse que você não estava atendendo o celular.
Peguei o celular no criado-mudo, haviam 17 ligações perdidas. - Ah, está no silencioso e eu nem percebi. - Tentei disfarçar. - Ligo para ele mais tarde e digo que estou bem.
Meus pais concordaram e logo saíram do quarto, fiquei sozinha novamente. Coloquei a bandeja no chão depois que terminei de comer e fui mexer no celular, olhei várias redes sociais e deixei por último o WhatsApp, pois sabia que teriam mensagens do Bernardo e de fato tinha, porém foi a ultima conversa que abri.

- Mensagem de Bernardo ♥ -
"Amor como você sai da minha casa assim, sem me avisar? Fiquei muito preocupado com você, sua cabeça parou de doer? Liguei para seus pais duas vezes e nas duas você estava dormindo, tentei te ligar e também não me atendeu, eu espero que esteja tudo bem com você. Te amo"

O QUÊ? Como ele poderia me tratar daquela maneira, mesmo depois do que aconteceu na casa dele? Ele gritou comigo, me tratou como uma prostituta qualquer que não queria nada e ainda pediu para que eu não chamasse mais ele de "amor" e agora ele vem me tratar assim?
Sai da conversa e deixei o celular no mesmo lugar de antes, eu não respondi ele e nem iria responder. Meu mundo estava partido em dois, quem eu achava que sempre me amou quis me forçar a fazer algo que eu nunca faria contra a minha vontade, eu estava arrasada, queria conversar com alguém mas eu não sabia quem seria a pessoa certa, se eu falasse para os meus pais, eles iriam brigar com o Bernardo e com a família dele, não que eu não quisesse isso, pois ele merecia uma bela de uma branca do meu pai, mas os pais dele não tinham nada a ver com isso, se eu falasse com a Clara, ela iria querer tirar satisfação com ele e talvez deixaria escapar em algum momento para o Thiago que pioraria tudo, então achei melhor ficar com aquilo apenas para mim.
Coloquei um filme qualquer para assistir, com o objetivo de tentar esquecer tudo isso, até que:
Toc. Toc.
Meus pais? De novo? Será que eles não poderiam me entender e me deixar quieta?
- Entra. - Disse com a voz um pouco alterada.
Quando ele abriu a porta eu entrei em estado de choque. Estava com um pijama velho e com o cabelo todo bagunçado, mas eu não estava ligando muito para isso, eu não queria mesmo era olhar para a cara dele.
- O que você está fazendo aqui? - Perguntei me levantado.
- Vim te ver ué, por que está tão nervosa assim amor? - Bernardo me abraçou como fazia todas as vezes que me via, mas dessa vez foi diferente, porque eu não retribui o abraço.
Meus olhos já estavam lotados de lágrimas e eu não sabia o que dizer. Ele tinha bebido muito ondem e talvez por isso não se lembre do que fez. Me virei para que ele não me olhasse chorando.
- Então você não se lembra né? - A raiva estava tomando conta de mim, só de lembrar perfeitamente do que tinha acontecido.
- Não me lembro do que? - Ele já estava preocupado e sua voz mostrava isso. - Do que está falando amor? Você está bem?
- NÃO! Não estou bem. Você é um idiota. - Não conseguia mais conter as lágrimas.
- Como assim Alice? - Ele olhou sério para mim.
- Além de ter feito tudo aquilo, você não lembra de nada. Ótimo!
- Amor, espera. Vamos conversar, eu bebi muito ontem acordei com uma forte ressaca e não consigo me lembrar de nada, o que aconteceu?
- Vamos ver por onde começo. - Disse me sentando na cama e esfregando uma mão na outra. - Fui dormir na sua casa e primeiro você queria que eu me trocasse a sua frente e quando eu disse que não iria fazer isso você ficou bravo, depois deitamos juntos para assistir filme e quando disse para você deixar em um filme que eu gosto, você também ficou bravo. - Dei uma pausa, mas como ele me olhava indignado pelo que tinha feito, resolvi continuar. - Começamos a nos beijar e as coisas estavam ficando muito quente, eu pedi para que você parasse, eu disse que não estava preparada e você surtou. Me disse coisas horríveis, gritou comigo e mandou eu não te chamar mais de "amor". - Olhei para ele esperando por respostas.
Ele me olhava sério, como se eu estivesse inventando uma história qualquer, ou contando à ele algum pesadelo.
- Está brincando né? Eu não fiz isso com você. - Ele sentou na minha cama, e colocou as mãos na cabeça.
- Você acha que eu iria brincar com uma coisa dessa? Acha que eu iria estar chorando assim por nada?
Ele me olhou nos olhos e chegou mais perto para e abraçar, mas eu recuei. Não conseguia mais ficar tão perto dele, tudo o que tinha acontecido em seu quarto me vinha a cabeça a cada gesto dele. Eu estava com medo. Do Bernardo.
- Meu amor por favor me desculpa, eu não fiz isso por querer. Olhe para mim. - Levantei os olhos até ele e vi que ele estava chorando. - Eu nunca iria te forçar a fazer uma coisa dessas, eu sou homem e não é tão fácil para mim me segurar assim, mas eu te respeito e não faria nada sem a tua permissão.
- Isso não foi o que pareceu. - Eu tentei dizer entre os soluços do meu choro.
- Por favor me perdoe, eu nunca mais vou beber ok? Eu prometo não beber mais e nem dormir com você. Por favor Alice, me desculpa.
Meu coração batia forte e eu não conseguia parar de chorar, queria desculpá-lo e abraçá-lo porque querendo ou não ele sempre me passou tanta proteção, mas aquela situação era diferente, eu não sabia o que fazer, não queria passar por aquilo novamente.
- Você pode ir embora? - Perguntei sentindo meu coração apertar.
- Sim, claro. - Ele se levantou e secou seu rosto com a parte de trás de suas mãos. - Tem certeza que não quer resolver isso agora?
- Preciso pensar no que vou fazer. - Fui até a porta do meu quarto e a abri para que ele pudesse sair.
- Me desculpa. - Ele se aproximou para me dar um beijo e eu recuei novamente.
Ele saiu do meu quarto sem olhar para trás.

♥♦♥♦

Se passaram dois dias desde que o Bernardo ficou sabendo do que ele fez, ele não me procurou o que eu achei muito bom, pois assim eu poderia pensar bem no que queria fazer. Terminar tudo me parecia exagerado demais, mas eu conseguiria confiar nele novamente? Todos esses dias eu só sai do quarto para comer e os meus pais sabiam que eu tinha brigado com o Bernardo e mesmo sem saber o motivo eles não ficaram insistindo para que eu saísse do quarto. Eu ainda não tinha superado bem a morte da minha avó e quando tudo isso se juntou ao que aconteceu comigo e o Bernardo, eu só piorei. A Clara tem me ligado e mandado mensagem, resolvi contar para ela tudo o que aconteceu e ela me deu uma força, dizendo que tudo ia se acertar e também prometeu deixar o assunto somente entre nós.
Levantei as 11h e fui tomar um banho, minha mãe iria fazer um almoço de despedida para a minha tia que ia embora no dia seguinte e pediu para que eu pelo menos me arrumasse e demonstrasse interesse pelo almoço, então lá fui eu. Tomei um banho longo e coloquei um vestido qualquer, o cabelo, eu apenas pentei e o deixei secar naturalmente.
Quando minha tia chegou, meu pai pediu para que eu descesse e foi o que fiz. Cheguei na sala e a cumprimentei.
- Como você está Lili? - Ela perguntou se sentando ao meu lado, no sofá.
- Bem tia e você? - Sorri, tentando parecer bem.
- Bem mesmo? Não é isso que essas olheiras dizem e esse seu sorriso falso não me engana.
Fiquem brava comigo mesma por não ter passado nem sequer um corretivo parar esconder as olheiras que se destacavam tanto no meu rosto pálido.
- Tudo vai ficar bem. - Dessa vez não forcei um sorriso, apenas abaixei a cabeça, segurando as lágrimas.
- Quer conversar Lili? - Minha tia colocou sua mão sobre a minha perna o que me fez olhar para ela e sorrir ao ver que eu realmente tinha alguém que eu poderia confiar.
Ela não esperou pela minha resposta, apenas se levantou e pegou sua bolsa. - Estou saindo! Enquanto o almoço não fica pronto vou dar uma volta com a Alice, já voltamos. - Ela gritou para os meus pais que estavam na cozinha e quando ouviu minha mãe dizer que tudo bem ela se dirigiu a porta. Fiz o mesmo.
- Eu iria falar para andarmos um pouco, mas acho que andar por essas ruas onde você conhece quase todos, não é muito legal, então vamos de carro. - Ela disse abrindo o carro.
Entrei e fique em silêncio esperando que ela desse abertura para uma longa conversa.
- Então, está assim por causa do que aconteceu com a vovó?
- Não. Claro que ainda não superei, mas para piorar tudo eu e o Bernardo brigamos.
Ela ainda dirigia então achou melhor não conversarmos ali, fomos até uma praça perto da minha escola, um lugar bem tranquilo e que quase ninguém parava ali. Sentamos em um banco e ela então olhou para mim e sorriu.
- Quer me contar?
Eu sabia que podia contar tudo para ela e foi o que eu fiz, não me arrependi e pelo contrário, ela me ajudou muito me dizendo o que seria o mais certo a se fazer.
- Também te trouxe aqui em um lugar mais calmo e longe de casa, porque quero te fazer um convite. - Ela disse mais ou menos 15 minutos depois que estávamos conversando, o assunto sobre o Bernardo já tinha acabado e ela até conseguiu me fazer rir, coisa que eu estava precisando.
- Um convite? - Perguntei animada.
- Sim e eu espero muito que você aceite. - Sorri para ela ansiosa e então ela continuou. - Bom, eu vou voltar para Nova York amanhã e eu gostaria que você fosse junto.
Abri a boca sem acreditar.
- Calma, deixa eu terminar. - Minha Tia disse rindo, confirmei com a cabeça. - A minha casa lá é grande, moramos apenas eu, o Fred e o Gustavo, seria ótimo se você morasse conosco.
MORAR? O QUÊ?
Fiquei sem reação, Gustavo era o filho dela, meu primo e fazia muito tempo que eu não o via, éramos bem juntos quando crianças mas depois ele veio cada vez menos para o Brasil, até parar de vez.
- Tia, está falando sério? Quer que eu vá morar com você? - Esperei por uma reposta e ela fez um movimento afirmativo com a cabeça, sorrindo. - Não sei o que dizer!!! - Abracei ela por longos minutos.
- Acho que você vai se dar bem lá, tantas coisas acontecendo por aqui e dar um tempo disso tudo e conhecer um lugar novo, pessoas novas e tudo mais acho que faria muito bem a você.
- Com certeza, mas acho que os meus pais não deixariam. - Falei triste, lembrando que teria que pedir a permissão deles.
- Já me adiantei. Eu não iria fazer esse convite à você, arriscando que seus pais não deixassem e você ficasse pior, então só falta você dizer se aceita.
- AI MEU DEUS. SIIIIIIIIIM, É CLARO. VOU MORAR EM NOVA YORK, VOU MORAR EM NOVA YORK. - Sai gritando e pulando pela praça enquanto fazia minha tia dar altas gargalhadas.
- Muito obrigada tia. - A abracei novamente.
- Que isso meu amor, eu sabia que ficaria feliz. Agora vamos voltar que estou com muita fome e você precisa fazer as malas.

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⏰ Última atualização: Jan 06, 2016 ⏰

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