Enfermaria do colégio ♥

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06h00
Não acredito!!! Eu não dormi nada; fiquei um bom tempo pensando sobre o meu sonho. Estava me sentindo exausta e fiquei na cama até minha mãe me chamar. Depois que ela veio eu fui tomar banho e quase dormi em pé debaixo do chuveiro, não estava acreditando que passei a noite acordada pensando em alguém que nem mesmo responde a um recado no Facebook.
Minha mãe me levou para a escola como de costume e assim que entrei dei de cara com ele; a última pessoa que eu queria encontrar. Se encaramos e então abaixei a cabeça para passar por ele; de repente ele agarrou meu braço me impedindo de seguir em frente. Entrei em desespero, por que ele estava me segurando daquele jeito? E mesmo ele colocando toda aquela força parecia que estava me fazendo carinho. Olhei para ele e pude sentir meus olhos se enchendo de lágrimas.
- Oi, desculpa. Você é a Alice né!? - Ele disse soltando o meu braço depois de perceber que colocou muita força.
Tentei abrir a boca para responder mas não consegui, sentia meu rosto corar e estava fazendo de tudo para não deixar as lágrimas escorrerem. O máximo que consegui fazer foi um movimento afirmativo com a cabeça.
- Você está bem?
Eu não conseguia tirar os olhos dele, o mundo parecia girar; o lugar onde ele me tocou estava formigando e eu só senti ele me pegando no colo quando em fração de segundos tudo ficou preto.

♥♦♥♦

Olhei para um lado, olhei para o outro, não fazia ideia de onde eu estava... Nunca tinha visto esse lugar, tentei levantar, mas estava muito fraca, não sabia o que fazer então comecei a tossir na intenção de chamar alguém. Logo apareceu um senhor com um avental da escola, será que eu estava na escola ainda? Lembro que o Bernardo me perguntou se eu estava bem... Eu o respondi?
- Alice? Você está bem minha querida? - O senhor me perguntou, ele estava usando luvas, parecia ser médico, mas o que um médico estaria fazendo com o avental do colégio?
- Sim, eu estou bem. Que lugar é esse?
- Enfermaria do colégio. Nunca veio aqui? - O sorriso abriu em seus lábios ao saber que eu estava bem.
- Hm... Não, pode me dizer como vim parar aqui?
- Bom, muito prazer. Meu nome é Geraldo e eu sou o enfermeiro aqui do colégio. O Bernardo te trouxe aqui, quando chegou com você no colo, apenas dizia que você desmaiou no pátio. Quer levantar? - Ele me deu sua mão e me ajudou a levantar, dessa forma pude olhar melhor o lugar, possuía vários equipamentos de hospital.
O Bernardo me trouxe até aqui no colo. Que vergonha!!!
- Que horas são? - Perguntei coçando a cabeça, estava perdida no tempo.
- São 7h20. Ligamos para a sua mãe, acho que ela está vindo te buscar. Você acha que está bem para ficar no colégio?
- Sim, foi apenas um mal estar. - Me lembrei que ainda não tinha tomado café, poderia ter sido isso. - Ligue para a minha mãe, por favor.
- Claro. Volte para a sua sala. - Ele se levantou, pegou minha mochila que estava do lado da maca onde eu estava e me entregou.
Eu o agradeci e fui saindo do local, não fazia ideia de que parte do colégio era essa, depois de um tempo percebi que estava no andar principal e que era só subir mais um andar de escadas...
Bati na porta e pedi licença, estavam tendo aula de física e ela com certeza me deixaria entrar... Clara saiu correndo me abraçou na frente de todo mundo, o que ela pensa que está fazendo?
- Como você está? - Ela parecia muito preocupada e isso me fez abrir um sorriso.
- Estou bem, agora podemos sentar? Estão todos me olhando...
Ela me fez contar tudo para ela no meio das aulas que por sinal passaram muito rápido, logo bateu o sinal do intervalo. Eu queria muito ficar na sala, provavelmente iria ver o Bernardo de novo e eu estava morrendo de vergonha pelo ocorrido, mas a Clara me forçou a descer e comer alguma coisa, eu poderia desmaiar de novo.
Comprei um lanche natural e um suco de uva, a Clara comprou a mesma coisa e fomos sentar no nosso lugar.
- Ops, amiga olha para a nossa mesa. - A Clara disse enquanto estávamos a caminho da nossa mesa que era para estar vazia.
Eu olhei e então o encontrei lá sentado, parado, apenas me olhando. Olhei para a Clara que percebeu meu desespero.
- Respire fundo, tente não desmaiar. Estou com você agora - Ela disse abrindo um sorriso que me tranquilizou...
Chegamos na mesa, me sentei de frente para ele, que estava encostado na parede, no MEU lugar.
- Ei como você está? - Ele perguntou, parecia preocupado.
- Bem - Foi o que consegui dizer abrindo o meu suco, eu não conseguia olhar em seus olhos.
- O que aconteceu?
Olhei para a Clara que estava mexendo em seu lanche... Respirei fundo.
- Não comi nada antes de sair de casa.
- Tome mais cuidado, por favor. Fiquei desesperado quando você desmaiou.
Não consegui me segurar e o encarei, precisava saber se ele estava falando por falar, mas ele parecia estar falando sério, realmente parecia preocupado. Fiz um movimento afirmativo com a cabeça.
- Não quero te atrapalhar, estou indo. - Ele disse se levantando do meu lugar.
- Espera. Por que me segurou daquele jeito na entrada? - Clara olhou para mim, era percebível o seu orgulho porque eu consegui perguntar a ele.
Ele se sentou novamente e pegou minha mão que estava vaga, olhei em seus olhos...
- Queria agradecer pelo seu recado no Facebook, eu gostei muito das suas palavras! Não respondi por lá mesmo porque quando vi a mensagem era 01h30 da manhã e eu imaginei que estivesse dormindo, desculpa.
- Tudo bem. - Me forcei a desviar o olhar, meu rosto estava ficando quente, era óbvio que eu havia ficado vermelha.
Ele se levantou e antes de sair, olhou nos meus olhos, abriu o sorriso mais lindo que eu já vi e disse:
- Obrigada.
Eu não estava acreditando em nada do que acabou de acontecer, olhei para a Clara e pude perceber que sua reação não estava muito diferente da minha. Tomamos nosso lanche em um silêncio absurdo, apenas trocavamos olhares de vez em quando, eu precisava conversar com ela sobre isso, tinha que arrumar algo para dizer.
- Clara, por favor me belisca?
Ela olhou para mim e abriu um sorriso. Me deu um belisco no braço e riu com a minha reação de dor.
- Não acredito que isso aconteceu.
Ela continuava em silêncio, eu não sabia mais o que fazer, então fiquei quieta. Quando faltavam 5 minutos para nosso intervalo acabar, ela me segurou pela mão e foi me levando para o banheiro, assim que entramos ela me abraçou. Fiquei sem reação, não estava esperando por isso.
- Aí meu Deus Ali, você gosta dele e ele parece "gostar" de você! - Ela fez um movimento de aspas por cima da cabeça quando disse a palavra "gostar" o que me fez rir.
- Por que não falou nada até agora?
- Ele estava nos olhando, achei que tivesse visto. Desculpa amiga, mas não dava para falar contigo sobre isso com ele nos encarando.
Meu Deus ela é um máximo, eu não tinha percebido que ele estava nos observando, estava tão em choque que nem vi para onde ele foi depois que saiu da nossa mesa.
- O sinal vai bater, conversamos depois da escola sobre isso, pode ser? - Ela me disse com uma expressão de quem já tinha algo em mente. Apenas fiz um movimento afirmativo com a cabeça, pois entraram algumas meninas no banheiro. Viramos para o espelho e enquanto a Clara passava um gloss, eu arrumava meu rabo de cavalo.

♥♦♥♦

As 3 aulas depois do intervalo passaram em um tempo razoável, mandei uma mensagem para a minha mãe perguntando se a Clara poderia almoçar em casa hoje e passar a tarde comigo, minha mãe claro que deixou, pois ela gosta muito da Clara.
Assim que o sinal da última aula bateu, eu já tinha arrumado minha bolsa e esperei pela clara que estava terminando de colocar suas canetas dentro do estojo, saímos juntas e assim que chegamos no portão da escola, o Bernardo veio em nossa direção. Ah não...
- Tchau meninas, até amanhã. - Ele disse dando um beijo no rosto da Clara e depois no meu.
Olhei para ela sem saber o que fazer.
- Até Bernardo! - Clara disse, já andando em direção ao carro da minha mãe.
Eu dei um sorriso sem mostrar os dentes e fui andando junto com ela.
Entramos no carro e minha mãe já veio perguntando:
- Olá meninas, quem é o gatinho?
- Ô mãe, por favor né?!
Todas nós rimos e então a Clara falou por mim.
- Oi tia, é o Bernardo, um amigo nosso. - Ela disse abrindo um sorriso bem convincente.
Fomos conversando até a minha casa e quando chegamos eu e a Clara subimos para o meu quarto enquanto minha mãe preparava o almoço. Assim que cheguei no quarto, me joguei na cama e a Clara fez o mesmo!
- Ainda bem que você tem uma cama de casal, se não eu tiraria você da cama, para eu deitar! - Clara disse rindo e fez rir junto com ela.
- Socorro, estou sonhando!!!
- Disfarce mais viu?! Se não sua mãe vai ficar fazendo muitas perguntas e pelo que te conheço sei que não vai saber enrolar ela. Falando nisso, ela se importa se falarmos de garotos, namorados...?
Não sabia o que responder, eu não sabia a resposta, ainda não contei para a Clara que nunca tive um namorado ou coisa do tipo, devo contar?
- Eu não sei... - Disse baixo e com vergonha, vou contar, espero que ela me entenda.
- Como não Ali? Nunca falou dessas coisas com ela ou com alguma amiga perto dela? - Ela tirou o tênis e sentou na minha cama. Com ela olhando para mim ficava mais difícil contar.
Fiz o mesmo que ela... Ela é minha amiga, não preciso ter vergonha de contar essas coisas para ela, confio nela.
- Na verdade não... Sabe Clara, tem uma coisa sobre mim que você ainda não sabe... - Ela ficou olhando para mim com uma expressão curiosa, então continuei: - Eu nunca namorei, nunca gostei de um garoto, eu nunca beijei um garoto.
Ela abriu a boca fazendo uma cara de espanto. Quis chorar.
- Sério Ali?
O que consegui fazer foi um movimento afirmativo com a cabeça e então ela caiu na gargalhada. Ela estava rindo de mim? Só porque nunca fiz nada disso? Meus olhos se encheram de lágrimas.
- Eu também nunca fiz nada disso. Você não precisa ter vergonha de falar essas coisas para mim. Somos amigas Ali. - Ela disse sorrindo.
- Por que você riu? - Falei secando os olhos.
- Sua cara de choro foi muito engraçada, desculpa. - E caiu na gargalhada de novo, mas dessa vez eu ri junto com ela e então ficamos conversando sobre diversas coisas e dando muita risada.
Sei agora que posso confiar nela para tudo e que não preciso ter vergonha dela. "Somos amigas" é o que ela sempre diz e essa frase soa diferente, porque ela não fala por falar como minhas amigas da outra escola, quando ela diz isso posso sentir o sentimento que ela expressa junto com essa frase. Me sinto feliz como nunca, o garoto que eu gosto, sim eu gosto, falou comigo e eu percebi o que é uma amizade de verdade. Melhor dia!

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