Trauma. Pensei logo depois de ter decidido o que era aquele sentimento estranho em meu peito. Aquele que fazia meu coração bater mais rápido. Um misto de adrenalina, desconfiança e medo. Will me encarava esperando minha reação, ele havia me dito algumas coisas.
Aparentemente, ignis é um planeta a aproximadamente 190 Parsecs de distância. O que foi uma surpresa e tanto para mim. Isso é relativamente próximo, já que a Nasa mapeou muito além de um milhão de anos luz. Como podem ter deixado um planeta habitado passar?
Will também me disse que conseguia falar e entender meu idioma graças ao aparelho metálico em seu pulso – mais me pareceu um relógio sem ponteiros do que um aparelho alienígena. – que precisava de um lugar para passar a noite e que não era uma ameaça para mim. Estava apreensivo quanto a isso, era mais comum eu estar dormindo em minha cama confortável despreocupado com o mundo, só eu meus livros e minhas músicas... Ainda assim, senti que deveria confiar nele. Alguma espécie de instinto.
– Porque está fazendo isso? – Perguntei já aceitando tudo como verdade.
– O que?
– Agora que parei para pensar... Porque você está falando isso para mim? Se eu fosse um alienígena, fugiria antes que o dono da casa acordasse... Ou eu não sairia do meu planeta.
– Por três motivos. Preciso de um lugar para ficar e você não parava de perguntar.
Encarei ele em silêncio.
– Tá, e o terceiro?
– Terceiro?
Respirei fundo.
– Você disse três motivos, mas só falou dois.
– Disse três? Que estranho. – Ele respondeu simples, guardando os livros de volta na mochila.
Esse cara é impossível. Pensei me levantando e indo em direção ao cômodo ao lado. De qualquer forma é melhor cooperar, vai que ele tem um sabre de luz naquela mochila.
Por incrível que pareça o que mais me incomodava não era ele ser um E.T. metamorfo, e sim estar na minha casa. Talvez a ficha não tenha caído ainda, é muita informação para digerir.
– Meu Deus isso fica cada vez mais complicado... – Resmunguei abrindo um pote de geleia. Lancei um olhar sobre a bancada que tinha vista para a sala de estar. Lá estava ele me observando com o queixo apoiado em uma das mãos, como se estudasse meus movimentos. Sustentei o olhar mais uma vez. Essa seria uma longa noite.
Calma ai. Que horas são?
Parei o sanduíche pela metade e olhei o celular. 4:29AM.
Poxa, é sério que vou ter que ir para escola?
***
Meu ritual foi quase como sempre. Quase.
Engoli os dois primeiros comprimidos do dia, tomei um banho e coloquei o uniforme. Ajeitei a mochila nas costas, peguei um Yakut do frigobar ao lado da cama e tomei o suplemento vitamínico. Estava descendo as escadas, para o primeiro andar, quando me sobressaltei de susto. Ainda não tinha me acostumado à ideia de ter outro alguém na casa. Ainda mais assistindo noticiário na televisão como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Bom, pra ele eu sou o alien, né?
– Qual o interesse no jornal da manhã?
– Estava querendo ver se eles vão falar algo sobre mim. – Ele respondeu sem tirar os olhos da tela. E como se fosse tudo combinado, a âncora Renata Vassencelos começou a transmitir uma notícia de última hora.
"Exclusivo, o Jornal Comunal tem acesso a imagens que podem ajudar a polícia a esclarecer a tentativa de atentado terrorista ocorrido ontem em Nova Lima, Minas Gerais, às 23:48, horário de Brasília."
Um vídeo, provavelmente gravado com um celular, que mostrava um pequeno objeto luminoso caindo começou a ser exibido.
"De acordo com os relatos, um objeto, até então identificado como um míssil Spike foi visto caindo na área urbana da cidade. Ainda está sendo averiguada a razão do mal funcionamento do míssil. Segundo as informações obtidas até agora pelos investigadores, o principal suspeito é um jovem terrorista chamado Gionvano Sartize."
Um retrato falado foi exibido. E a pessoa retratada no desenho era muito parecida com o meu "hóspede".
"Foragido desde 2014, esse homem está armado e é potencialmente perigoso. Caso vejam alguém parecido, liguem para o telefone que está aparecendo na tela".
– Dá pra acreditar que eles me colocaram como terro... – Will se assustou quando me viu a poucos passos dele. – Wow, ei. Cuidado com isso.
– Nem pense em pegar a mochila, William. – Disse apontando a maior faca que tinha na cozinha. – Ou devo te chamar de Gionvano Sartize?
– Isso não é real, eles estão me perseguindo, eu te falei qu...!
Por um segundo ele não soube o que fazer. Mas então eu abaixei a faca e comecei a rir.
– Foi mal, não resisti. – Falei guardando a faca no faqueiro magnético.
– Idiota. – Ele resmungou desligando a televisão. – Isso quer dizer que acredita em mim agora?
– Bom, você se transformou em um adolescente bizarro bem na minha frente, não tenho muita escolha. – Caminhei até a porta. – Estou saindo, volto de tarde. Espero que até lá você já tenha ido embora e eu possa fingir que tudo foi um surto.
– Ele me chamou de bizarro? – Ouvi pouco antes de fechar a porta.
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Ignis: O Planeta de Fogo
Science FictionMax não tinha uma vida satisfatória, ele era um garoto comum com uma vida comum, que morava numa cidade comum, mas não tinha uma família comum, ele realmente não gostava de sua vida. Mas algo um dia mudou sua rotina, um primeiro amigo em muitos anos...