Quero morrer

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Mais uma vez acordo, dessa vez não estava no quarto do hospital, eu estava em meu quarto, sentia meu rosto todo doendo e quando levo minha mão para meu rosto sinto muitas cicatrizes, me levanto e vou para o meu banheiro e me surpreendo ao ver que meu rosto estava cheio de cicatrizes e me lembro da coruja que tinha entrado pela janela e me arranhado.

Tomo um banho e visto uma camisola folgada, desço as escadas e vou para a cozinha beber algo quando ouço a voz de alguém atrás de mim:

-Sério, você tem sorte de que meu pai saiu para trabalhar.

-Ly-Lysandre!? – Me assusto com a presença dele e imediatamente me escondo atrás da porta da geladeira lembrando que eu estava sem o sutiã. –Por que você esta aqui?

-Primeiro, eu estou sendo obrigado a ficar aqui por causa do meu pai, segundo, você não precisa ter vergonha de mim, eu sou gay, lembra?

-Tá mas! Eu já volto.

Subo as escadas correndo e visto uma roupa mais apropriada, volto para a cozinha e pego uma maça para comer e vou para a sala. Chegando na sala eu vejo Lysandre dando carinho em uma coruja, a mesma que me atacou, fico paralisada na mesma hora.

-Er, essa coruja...

-Há, foi a mesma que te atacou mas não fique assustada ela esta no meu controle. –Ele fala enquanto a coruja pia. –O nome dela é apocalipse. –Se quiser pegar terá que usar uma dessas luvas enormes.- Ele fala apontando para a luva preta em seu braço.

Não falo nada apenas me sento no outro lado do sofá.

-Tá, cadê a minha mãe?

-Ela foi fazer compras.

De repente a coruja sai do braço dele e voa para o meu lado pousando no braço do sofá. Fico imóvel para que ela não me ataque mas ela apenas solta um piado.

-Ela está querendo que você acarecie a cabeça dela. -Lysandre fala.

Eu começo a acariciar sua cabeça e ela sai e pousa mais uma vez no braço do Lysandre.

-Você teve sorte que ela não pousou em seu braço –diz ele mostrando o estrago que ela fez no braço do sofá.

-É, por que eu não estou mais no hospital?

-Porque o hospital estava ficando cheio e não tinha mais vagas para mais pacientes, e como você estava praticamente quase recuperada te mandaram para casa.

-Ata. Vem cá, não era para você estar agindo da maneira mais formal possível?-Eu falo.

-Era, mas meu pai não está aqui então esta de boa.

Ficamos em silêncio até minha chegar com um monte de compras na mão.

-Oi filha, que bom que você acordou. -Ela fala indo por as compras na cozinha. – Como está se sentindo?

-Estou... Bem, tirando o fato de que estou com o rosto de uma amazona que acabou de sair de uma guerra violenta.

-Filha! Que maneira rude de se falar na frente de seu futuro noivo. –Minha mãe diz me repreendendo.

-Ele não se importa mãe, ele só vai ser educado quando o pai dele estiver aqui e a mesma coisa comigo. Né Lysandre? - Falo olhando para ele.

-Sim, é verdade. -Ele fala mexendo no celular dele.

-Bom eu já vou indo mais uma vez filha, tenho que ir trabalhar agora. Tchau filha e tchau Lysandre .-Ela me da um beijo e sai de casa.

Que ótimo, penso, por quanto tempo mais vou ter que ficar com esse mané aqui em casa?

-Por quanto tempo mais você vai ficar na minha casa?-Pergunto olhando para ele.

-Até meu pai chegar eu acho.

Reviro meus olhos e ligo a TV. Passo os canais e quando vejo que não tinha nada passando vou para meu quarto sem me importar com o que Lysandre ia fazer na sala.

Coloco meus fones de ouvido e começo a ouvir Three Days Grace, logo começo a ver minhas redes sociais e vejo muitas pessoas com a foto de luto no perfil, provavelmente por causa da morte de Lynsen, começo a me lembrar dela e lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto. Vejo as postagens mais recentes e vejo várias fotos minhas com uma descrição horrível em cima.

"Aqui embaixo podemos ver a foto da pessoa que deve ser morta, ela matou e torturou nossa querida amida Lynsen, ela é adoradora do diabo, uma filha de uma bruxa. Por favor compartilhe a foto dela para que ela possa ser detida e não faça mais nenhuma vítima."

Minha visão embaça ao ler aquilo. Vou até a janela para tentar me acalmar, mas quando o faço ouço um chiado em meu ouvido, sabia que não era do meu fone de ouvido pois ela estava na cama longe de mim, o chiado começa a ficar mais e mais alto até que não aguento mais, olho para a janela e vejo uma criatura não humana olhando para mim, ela era alta e usava um terno preto, tinha um rosto completamente branco, ao ver aquilo muitas memórias começam a passar pela minha cabeça.

O incêndio em minha casa.

O corpo da minha mãe carbonizado.

Pessoas me chamando de filha do diabo.

Eu sendo adotada.

Meu pai adotivo morrendo, dizendo sobre a tal criatura alta e sem rosto que o perseguia.

Mais e mais pessoas me machucando.

A noticia de quem minha única e melhor amiga tinha falecido e que eu era culpada.

Com todas essas memórias passando pela minha cabeça e eu grito e soco a janela seguidas vezes até que ela quebre. Cacos de vidro começam a voar por todo lado, quando eu ia me apoiar da janela para me jogar para o desconhecido alguém me puxa por trás e me impede.

Eu começo a me debater e a gritar até que me acalmo. Vejo que a pessoa era Lysandre , ele me abraça.

-Sai de perto de mim. – Grito e ele me solta.

-você ia se jogar pela janela. –Ele fala gritando também.

-Idaí, quem liga? Você e eu não nos gostamos, estamos sendo obrigados a fazer uma coisa que nem um dos dois concorda, praticamente todas as pessoas da face da terra me odeiam, me chamam de filha do diabo, minha melhor amiga morreu e eu estou sendo culpada.

-E você vai deixar isso assim? Vai simplesmente deixar a sociedade ditar o que você é? Vai simplesmente deixar que as pessoas te julguem? Grite para o mundo e fale quem você realmente é.

-Mas não adianta, as pessoas vão continuar me julgando.

-Realmente, eu mesmo falo para todo mundo que sou gay e muitas poessoas me julgam, essa é a vida minha querida.

Ouço o som de uma busina e vejo uma BMW do lado de fora de casa.

-Meu motorista chegou para me buscar e para prevenir que você não faça nenhuma besteira de tentar se matar, você vai dormir na minha casa.

Não digo nada apenas sigo ele até sua casa.


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