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I ― O Desejo do Perigo

"Ser o dono do prazer delas, o macho dos seus delírios, o senhor de seus desejos em encontros proibidos, isso sim me excita!"

VICTOR

Eu realmente estou sozinho. Chegar do serviço depois de um dia cansativo e não ver mais a minha mãe aqui, esperando-me para o jantar, não é fácil. Ainda sentir esta dor quase um ano depois da sua morte transforma os dias em uma eterna solidão. O que é engraçado, já que sempre gostei da solidão, nunca tive este papinho de carência, de precisar de alguém para conseguir viver melhor. Sempre foi só eu e a minha mãe, mas agora é somente eu. Caralho.

Vou para o chuveiro e deixo a água cair sobre o corpo, adoro isso, ainda mais hoje que a oficina me deixou mais sujo do que nunca ― ônus de ser mecânico ― e o banho é a saída para me manter limpo e cheiroso. Esfrego a esponja para tirar a graxa. Ensaboo todo o meu corpo negro, grande e musculoso que, por sinal, é fruto de anos de malhação. Aos dezenove anos, me acho bem maduro fisicamente e mentalmente para a minha idade. Fito meu reflexo no espelho: cabelo baixinho, bem cortado, preto, a barba cerrada, olhos castanhos escuros e profundos, assim elas dizem.

Quando saio da ducha, olho o relógio no celular, esta era a hora que eu ia à escola. Antes eu arrumava mil desculpas para não ir, enquanto a coitada da minha mãe tentava de tudo para me fazer ter interesse. Sempre fui bagunceiro, sempre era suspenso, sempre comia as colegas de turma, até reprovei uma vez, mas prometi a mim mesmo que não perderia mais nenhum ano letivo, só por causa da minha mãe, não queria ver a dona Helena chorar por uma reprovação minha novamente, e cumpri com a promessa.

Ano passado, incrivelmente, fiquei entre os melhores do terceiro ano, todos os professores se surpreenderam comigo e a dona Helena, minha mãe, ficou superorgulhosa, vivia sorrindo. Infelizmente, com o seu falecimento, ela não conseguiu me ver saindo da escola para entrar em alguma faculdade, como sempre sonhou.

Porém, tenho planos e vou me graduar, se Deus quiser, pois acho que a vida que possuo atualmente é pouco, penso no futuro, em me estabilizar, me profissionalizar em alguma área, crescer, adquirir patrimônio, essas coisas. Eu quero mais.

Já faz alguns dias que não vou à escola. Desde que saí de lá, meu passatempo é ir falar com parceiros que ainda hoje reprovam, conversar com ex-professores amigos e também com ex-professoras que ainda querem me dar aulas particulares. Por que não? É uma delícia.

Tenho que voltar lá nem que seja só para sair de casa, assim aproveito pra conversar com os parceiros, com alguém! É uma baita surpresa esta solidão me sufocando gradativamente. Pela primeira vez, não gosto mais tanto assim da solidão e é porque sempre fui sozinho, mas tinha a minha mãe.

...

Vou à padaria comprar pão e cerveja, é praticamente esse o meu lanche nas noites em que tenho preguiça de fazer o jantar. Sei cozinhar, a dona Helena me preparou para a vida, mas a preguiça me obriga a optar por essa alternativa em algumas noites. É estranho, eu sei, mas cada um com suas manias.

Ao sair da padaria, meu olhar é atraído para uma morena peituda, mulher do velho da farmácia. Patrícia é quem uso em algumas madrugadas para afastar a minha solidão, nós temos um caso ainda recente. Em um belo dia, precisei comprar alguns remédios e confirmei novamente os olhares gulosos da gostosa. Ela tem o corpo deliciosamente atrativo, tipo "Gabriela, Cravo e Canela", o qual fantasiei quando li a história e gostei muito.

No começo, fui até um rapaz comportado, tive pena do seu Osório, marido dela, observei que seu andar cansado devia ser por causa da galhada que a mulher fazia crescer em sua careca amarelada, galhada famosa até, há rumores pelo bairro. Já Patrícia não quis se comportar, de jeito maneira, ela me tentou, piscou, conseguiu meu número sabe Deus com quem, me tocou, ela até mesmo roçou a bunda no meu garoto uma vez, e ele vibrou, e quando ele vibra, meu amigo, é fatal!