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Paris! Essa palavra ecoava em minha mente como um outdoor gigantesco. Realmente deve ser o sonho de qualquer garota ou garoto, ir para Paris. A cidade luz ou do amor, é totalmente tentador mas não pra mim, é só uma cidade como qualquer outra e para acabar de completar, eu nem sei falar francês. Somente palavras básicas que todo mundo sabe como oui , merci ou bonjour, é complicado ter que aprender um idioma totalmente diferente das suas origens.

A ficha ainda não caiu, ainda sentada na cama tento digerir tudo de uma vez, ou talvez a minha má vontade tenha me dominado e feito o meu cérebro achar que não passa de uma brincadeira sem graça, apesar de não ser. Parece que a alegria e a angústia colidiram em minha cabeça, afinal estou sendo forçada a sair do Brasil, da Bahia para ir á França, Paris. Alegria: por poder iniciar uma nova etapa da minha vida, angústia: por não querer sair do Brasil, até eu estou confusa com meus 'sentimentos'. Levantei devagar e fui até a janela, há um caminhão lá fora e gente pra todo lado se despedindo da minha mãe ou do meu pai. Suspirei, é parece que não tem jeito.

Sentei à minha escrivaninha para escrever uma carta para minha avó que insistiu para comunica-lá tudo o que acontece em minha vida por cartas. Minha vó sempre foi muito clássica então eletrodomésticos ou celulares estão fora de cogitação, nem telefone não tem afinal na fezendinha onde ela mora nem tem sinal.

"De: Caroline Amaral
Para: Zélia Souza

Vovó, a mãe pirou, ela quer me levar para Paris e o meu pai apóia, nesses últimos meses não tenho controle sob minha vida , as vezes não posso nem escolher com qual roupa sair. Isso me deixa sufocada até certo ponto, mas sei que eles fazem isso pro meu bem. que , poxa , ter o roteiro da sua vida inteira não é o meu forte. escolheram qual faculdade, até o nome dos meus filhos , mas eu não quero filhos e o nome que minha mãe escolheu é horrível , se eu colocasse esse nome meus filhos iam sofrer bullying na escola. Ela escolheu Lady Day , Lavaiela e Jacinto. Sério, onde ela achou esses nomes eu não sei. Se eu tiver filhos eles terão nomes lindos e não esses esquisitos.

Voltando ao assunto , eu vou para Paris (contra minha vontade ) a verdade é que eles vão para por causa de um emprego que eles viram na internet acabou que minha mãe foi sorteada e ganhou o emprego em Paris, e tudo isso sem o meu consentimento, vim descobrir isso ontem.

Cada vez que eu me lembro disso, fico meio para baixo. Para mim a palavra ' família' significa alguma coisa, acho que eles não podem fazer isso sem me consultar , eu não saio sem dizer onde vou, não faço sem pedir permissão então eles deviam ter a pelo menos me contado. Isso , eles não me contaram , eu descobri . Achei as passagens nas coisas da minha mãe. Eu queria ter uma família normal.

Hoje a carta foi pequena , desculpe mas se eu não descer neste momento eles vão embora sem mim , o que não seria ideia...

Te Amo, Beijos .

Até Logo ''

Terminei de escrever, uma das coisas mais legais é escrever para minha avó ela sempre tem a resposta para tudo. E sei que daqui uns dias ela dará um conselho sobre o que fazer quanto aos meus pais.

Desci, e aquela nuvem de gente já tinha ido embora junto com a minha nostalgia momentânea.

-Caroline , estamos atrasados. Não quer que percamos o voo , quer ?- pergunta minha mãe , dando drama a situação, em momentos sérios ou chatos como este minha mãe gosta de dar vida ao clima o tirando do tenso e colocando no modo dramático.

Suspirei e sem responder me guiei até o carro, meu pai estava colocando as malas no porta-malas, mas quando me viu abriu um sorriso acolhedor.

-Esta animada ?-perguntou com as sobrancelhas arqueadas, meu é um homem de poucas palavras, as vezes eu acho que ele tenta imitar o Ferb. Ele é mais na dele e isso é assustador.

-É, vai ser legal.

Ele sorriu de modo sincero e voltou a colocar as malas lá dentro. Antes de entrar no carro pus a carta na caixa de correio, aquela caixinha vermelha suave e azul marinho , definia o meu sábado a noite , definia a minha diversão. Ao contrário dos outros adolescentes, eu não costumo sair ou ter amigos, prefiro ser sozinha. Vou ser 'alone' ou Lonely para sempre, acho que aquele ditado falando sobre morrer sozinho não se aplica comigo. Afinal nunca tive uma amiga ou melhor amiga, best friends forever para falar a verdade e acho que nunca vou ter essas coisas que os adolescentes acham normal pra mim ser normal é, estudar em um fim de semana e vejo que isso irrita meus pais , não ser uma adolescente normal como eles desejavam , eles queriam que eu fosse 'meta-meta' metade normal e metade como estou agora. Às vezes eu só queria ser igual a eles ,a todos os adolescentes somente pra agradar um pouco os meus pais, eu realmente queria agrada-los mas não sou perfeita e, nem queria ser.

Entrei no carro e olhei pela janela vendo minha casa, branca esfumaçada e janelas com persianas amareladas e porta velha meio oca, de cor opaco. Essa era a descrição da minha casa, nem acredito que depois de 16 anos na mesma casa, vou me mudar, e pior me mudar para um lugar que eu nem sei falar a língua.

Adeus, casa, sol escaldante, praias legais, escolas normais, vida normal.

Adeus, Brasl












Caroline: Verdades&MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora